31/10/2023 às 02h00min - Atualizada em 31/10/2023 às 02h00min

Caneta Tinteiro

Do Cafofo do Dezena: Crônica Viva

Gosto de canetas tinteiros, embora não saiba escrever com elas. Tenho uma bonita em casa: desaparecida. Sabem como são as mudanças. De repente, perde-se alguma coisa. Mexendo nos meus lápis de desenhos, encontrei duas cargas novinhas dentro do estojo. Saí à busca da danada. Estava em uma prateleira junto aos poetas, em seu estojo, dormindo há anos. Tirei, desmontei, limpei com álcool, coloquei a carga nova e está funcionando que é uma beleza. O problema? Tenho uma caligrafia horrível. Se minha professora do primário visse, coraria. A pena agarra no papel e não desliza como as esferográficas. Tudo bem que escrever à mão está fora de moda. Mas é como enviar cartas pelos Correios. Não existem, mas têm seu charme. Imaginaram receber uma do amor distante, com um toque perfumado e coraçõezinhos desenhados com tinta da ponta de uma pena? The best!
Não, não me venham com choramingações, vou mudar o caminho da prosa. 
Dia desses, tive de ir à delegacia cuidar de assuntos profissionais. O delegado me contou de uma nova droga que corre as ruas. É líquida, que as mulheres (ou maridos) dos detentos, a borrifam nas cartas e, em vez de lê-las, os presos as comem. Ficam doidão. Que é poderosíssima, acima da dose, mata. Que fizeram apreensão de um chá na casa de um traficante sem saber que nele a droga estava misturada. A copeira da delegacia, desavisada, pegou os potinhos e fez um chazinho à tarde. Todo mundo doidão. Alguns foram parar no hospital.
Juro! Não é invenção. Só não posso dizer a delegacia.
Tenho comigo, desde Otto Lara Resende, que os domingos são apropriadíssimos para as crônicas. E, como cronista, dentro das coisas sérias, elaboro as casualidades e fiquei pensando se não haveria o K9 na tinta da caneta. Tirei-a do estojo, escrevi algumas linhas e cheirei. Esqueci de perguntar ao delegado a rapidez e duração do efeito. Acho que é só tinta mesmo. Mas uma coisa me incomodou: por que a Luciane deixou aquele elefantinho na sala?
Fernando Dezena é escritor. Membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista, Diretor da UBE – União Brasileira de Escritores e Curador Literário do Espaço Cultural da Boca do Leão

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp