26/10/2023 às 11h36min - Atualizada em 27/10/2023 às 00h01min

Pré-menopausa e depressão: qual a relação e de que forma vem afetando a vida de tantas mulheres?

Lorena Galaes, médica ginecologista, explica como o desequilíbrio hormonal impacta a saúde mental da mulher, principalmente em torno dos 40 anos

Camila Crepaldi
Divulgação
Menopausa é o termo dado para a parada total da menstruação, se caracterizando como ausência de menstruação por um ano. Mas o período que antecede essa parada completa pode durar mais de 5 anos, sendo denominado climatério, ou peri-menopausa, e muitas vezes são difíceis de diagnosticar, principalmente em mulheres que ainda tem fluxo menstrual.
A mudança de humor e na pele e cabelos, ondas de calor repentinas são sintomas conhecidos desse período; todos provocados pela queda brusca da produção de hormônios. Essa alteração hormonal não causa apenas desconfortos físicos, mas pode ser preponderante na evolução de um quadro depressivo em algumas mulheres, principalmente na menopausa precoce.
Sim, a menopausa pode desencadear um quadro depressivo, pois afeta os níveis e a sensibilização dos receptores hormonais, conforme explica a médica ginecologista e professora do curso de medicina da Faculdade Pitágoras, Lorena Galaes. “Nós, mulheres, temos receptores estrógeno-específicos (dos tipos α e β) em diversas estruturas do centro de comando do corpo (o SNC), como córtex, sistema límbico, hipocampo, cerebelo e amígdala. A ação estrogênica sobre receptores tem papel importante na síntese, na liberação e no metabolismo de neurotransmissores, como a noradrenalina, a dopamina, a serotonina e a acetilcolina. Os estrógenos também têm uma ação não inibitória em várias regiões cerebrais e promovem a liberação de triptofano, facilitando sua conversão para serotonina”, explica a médica.
O desequilíbrio hormonal tem grande impacto na saúde mental da mulher e esse impacto pode ser ainda maior quando a menopausa chega de forma precoce, antes dos 40 anos. Isso porque, as mulheres que tiveram menos tempo de ação dos estrógenos ao longo da vida (menarca tardia e menopausa precoce) têm maior tendência a sintomas depressivos, com maior gravidade, assim como nas pacientes com menopausa súbita, química ou cirúrgica.
Lorena detalha que o hipoestrogenismo (queda fisiológica dos níveis de estrógenos que acontece durante o climatério) leva, portanto, à diminuição dos neurotransmissores responsáveis pelo bem-estar e humor, que associados aos outros sintomas climatéricos (insônia, fogachos e diminuição de disposição) podem acarretar um quadro depressivo.
A ação dos estrógenos sobre neuropeptídeos também colaboraria para a modulação de outras atividades, como a termo regulatória em centros hipotalâmicos e o controle da saciedade, do apetite e da pressão arterial sanguínea. Dessa forma, deve-se atentar à síndrome metabólica, alterações no perfil lipídico (aumentando o risco para a ocorrência de doenças inflamatórias crônicas), além de estreitar a zona termoneutra, consequência responsável por apresentar um dos sintomas mais conhecidos do período: as ondas de calor - fogachos.
Quanto aos sinais, a ginecologista explica que podem ser bem inespecíficos e confundidos com cansaço, estresse e problemas psiquiátricos. Nostalgia, choro fácil, irritabilidade, humor deprimido, ansiedade, crises de pânico, fadiga, confusão mental, diminuição de libido, falta de motivação, alterações súbitas de humor e dificuldade de concentração são alguns dos sintomas.

A queda de cognição e diminuição da paciência na interação social podem gerar problemas no trabalho, bem como irritabilidade, diminuição de libido e atrofia genital ou dispareunia, podem evoluir para o desgaste e abalo conjugal. É possível que haja maior sonolência, devido à insônia e fogachos noturnos, ou ainda ganho de circunferência abdominal em virtude dos distúrbios metabólicos.

Diagnóstico e tratamento
Atualmente o termo menopausa precoce está sendo trocado por Insuficiência Ovariana Prematura (IOP) que é a caracterizada pela perda de função ovariana antes dos 40 anos de idade. O diagnóstico inicial geralmente é clínico, pois a variação dos níveis dos hormônios sexuais durante o ciclo menstrual é grande (estradiol, progesterona e testosterona), e o marcador para insuficiência ovariana (FSH) aparece mais tardiamente, porém observa-se gradativa diminuição dos níveis hormonais, alteração do ciclo menstrual, suores noturnos, irritabilidade e outros sintomas climatéricos já citados.
Clinicamente, é possível observar o ressecamento genital, ressecamento da pele e alteração em cabelos, além da análise de duas dosagens de FSH >25 mUI/mL com intervalo entre as coletas de pelo menos 4 semanas.
“O tratamento deve ser individualizado, seguindo os fatores de risco, levando em consideração os sintomas da paciente e o desejo de tratamento. É importante ressaltar que nem todas as pacientes apresentarão sintomas impactantes em sua vida e que apenas algumas optam pelo tratamento”, completa a médica.
Entre as possibilidades de tratamento há o fitoterápico (fito estrógenos), o hormonal com as pílulas de estradiol e progestinas, adesivo de absorção transdérmica, anel vaginal, implantes hormonais, DIU de progesterona mais estradiol, hormônios bioidênticos transdermicos, ou medicações não hormonais como antidepressivos (agem tanto no humor quanto nos fogachos e insônia), cremes de ação local nas atrofias urogenitais, e laser vaginal nas atrofias urogenitais e incontinências urinarias. A reposição de testosterona também é indicada em casos específicos.

 

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