25/10/2023 às 14h32min - Atualizada em 26/10/2023 às 00h06min

Jovens do sistema de acolhimento têm mais desafios na transição para a vida adulta

Com a proposta de oferecer uma perspectiva concreta de autonomia, além das oficinas culinárias, o Chef Aprendiz realiza atividades que desenvolvem habilidades socioemocionais e profissionais

Maria Santos
Divulgação

Existem 32.201 crianças e jovens acolhidos no país, sendo 5.423 maiores de 16 anos, segundo dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento do Conselho Nacional de Justiça. Em julho de 2022, a capital paulista registra 3.759 crianças e adolescentes, entre 0 e 17 anos e 11 meses, nesta situação. 73% destes indivíduos utilizam as ruas como forma de sobrevivência, mesmo que por um breve período do dia. 10,7% pernoitam nas ruas e 16% estão acolhidas em serviços da rede socioassistencial. Em um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa e Formação Bem Cuidar e pela Organização Aldeias Infantis com 67 egressos de serviços de acolhimento, 63% afirmaram ter tido contato com o serviço de acolhimento em até um ano após sua saída, enquanto 31% disseram que não tiveram esse contato e 6% preferiram não responder. Como resultado dos grupos focais com a juventude egressa, apontou-se a necessidade de reforço de iniciativas  pedagógicas com este público, como o estímulo a habilidades que lhes estimulem a ter liberdade, autonomia e possibilidades de participar na construção de regras e rotinas que apoiem seu desenvolvimento individual e social. 

“O que me atrapalhou muito, e tenho quase certeza que vocês também que estão aqui na roda, é que a partir do momento que eu saí, senti que faltou um pouquinho dessa ajuda de mostrar ‘pô, o mundo é assim’, entendeu? Porque imagina, eu morei oito anos aqui na Aldeia tendo café, almoço e janta. Não me preocupando com água, luz, aluguel, com nada. Os primeiros meses foram os piores da minha vida, porque você chega lá fora e descobre que não é um conto de fadas”, relata um jovem egresso do Grupo Focal em São Paulo/SP | Sudeste. 

Ao completarem 18 anos, são considerados adultos e não podem mais permanecer nos SAICAs (Serviços de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes), e muitos recorrem a Centros de Acolhida, que recebem os maiores de idade por até três anos, e a capacidade de lares alternativos - repúblicas - ainda é insuficiente para a quantidade de indivíduos nesta situação. A pesquisa ainda aponta que quem mais ajudou na transição para a vida adulta foram colaboradores/as e o próprio serviço de cuidados alternativos, representando 39% e 37%, respectivamente.
 

Estes dados endossam a importância de trabalhos como o do Chef Aprendiz, que vai ao encontro destes jovens ainda  em busca de uma perspectiva concreta de independência. O projeto social capacita jovens, entre 17 e 24 anos, moradores de comunidades da capital e Grande São Paulo, por meio de oficinas que apresentam ao universo da gastronomia, técnicas culinárias, habilidades socioemocionais, trabalho em equipe e mercado de trabalho. Após o ciclo de oficinas, os jovens são encaminhados para oportunidades de emprego em cozinhas parceiras. As edições são itinerantes e já passaram por 12 comunidades. 

Para o público que ainda reside ou já viveu em diferentes lares ou SAICAS (Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes), a edição especial Chef Aprendiz Fraternidade   é realizada na Casa Chef Aprendiz, sede do projeto social, localizada em Santo Amaro (zona sul de São Paulo). Ao todo, os jovens participam de um ciclo de 40 oficinas, com duração aproximada de seis meses e de uma competição final que coloca à prova os conhecimentos adquiridos durante o processo. Na sede também são realizadas  atividades relacionadas à cultura, educação e cidadania,  workshops gastronômicos, eventos, produção de conteúdos audiovisuais para marcas e rodas de conversas. Aos jovens que já passaram pelo processo de formação e precisam de apoio, o projeto oferece atendimento psicoterapêutico continuado,,, deixando as portas sempre abertas para os ex-alunos, parceiros e apoiadores. 

“Quando entrei no Chef Aprendiz tinha receio de conhecer pessoas novas e de lidar com jeitos e pensamentos diferentes dos meus. Me reencontrei aqui e aprendi a trabalhar em grupo. Quando terminou a edição, novos desafios surgiram, porque eu sou muito tímida e ainda ficava insegura nas entrevistas de emprego. Mas eu fui na Casa Chef Aprendiz e conversando com o pessoal, entendi que eu precisava apenas olhar nos olhos das pessoas e mostrar a minha vontade de trabalhar em uma cozinha. Hoje, eu trabalho na confeitaria do Quitanda e apesar de não ter feito ainda um curso especializado nesta área, eu me sinto mais confiante para seguir nesta oportunidade e realizar meus sonhos”, comenta a Cris, participante e terceira colocada no Chef Aprendiz Fraternidade 2022.

Neste sentido, foi preciso unir forças e divulgar a iniciativa junto às organizações que conhecem e trabalham com este público específico, além de incluir no orçamento da edição o transporte dos jovens até a sede do projeto e cestas básicas mensais para os participantes. A edição Chef Aprendiz Fraternidade 2023 é viabilizada pela lei de incentivo PROAC e pelo patrocínio da Comgás(master), Associação Abadhs (ouro), Bauducco®(bronze) e apoio da Recepedia, plataforma de receitas da Unilever.

O projeto visa democratizar o acesso de jovens em situação de vulnerabilidade social a oficinas que proporcionem perspectivas concretas de possibilidades de emprego, mas que trabalhem também o ser humano de forma integral. Assim sendo, o currículo foi desenvolvido de modo a contribuir com a ampliação do capital social e cultural de cada indivíduo, mobilizando  habilidades e temas transversais à cozinha de forma interessante e estimulante, envolvendo e preparando esses jovens para ingressarem no mundo do trabalho com maior autonomia, confiança e empatia”, explica Beatriz que completa: “Realizar uma edição junto a organizações que acreditam em nosso trabalho e querem unir forças para impactar mais jovens, sempre esteve em nossos planos. Sempre fizemos as edições nas comunidades porque, dentro da proposta, é importante que estejamos no ambiente dos jovens que passam pelo processo de formação. Porém, esta possibilidade de realizar o ciclo de oficinas dentro da nossa Casa fez muito sentido tendo em vista que os participantes desta edição estão em mais de um território e trouxe ainda mais propósito para a existência da nossa sede”. 

Para acompanhar o trabalho e as novidades, siga o Chef Aprendiz no Instagram: @chefaprendiz - https://www.instagram.com/chefaprendiz/.


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