18/10/2023 às 00h57min - Atualizada em 23/10/2023 às 00h57min

O Pequeno Príncipe

Do Cafofo do Dezena: Crônica Viva

Destino? Vila Madalena, para o almoço de sábado. O São Conrado serve uma boa feijoada a preço interessante. Pode-se comer à vontade. O segredo, ensinou-me o garçom, é chegar às onze, fazer o almoço, aguardar e, à tarde, jantar. Opa! Tudo por R$ 69,00. Nunca consegui, faço apenas a primeira refeição. Paciência! Mesmo para um almoço, o preço é convidativo. Sentado no restaurante, bar, choperia observei uma bela moça só em uma mesa para dez lugares. Conversava ao celular, mandava mensagem, ouvia áudio, ia à calçada e voltava. A saia, atrás, batia nos calcanhares, na frente, acima dos joelhos. Muito estranho. Cintura fina e bustiê. O cabelo preto, repartido ao meio, combinava com as sobrancelhas desenhadas. No braço direito, muitas tatuagens. Podem gritar que observei muito, que a Luciane deveria ter me dado bons beliscões, etc. Bobagem. Levantou-se, foi até a entrada e voltou com o bolo. Explicado. Os primeiros a chegar, foram os pais. Suponho. Se aquela mulher não era a mãe, corto um dedo fora. Muito parecidas. O homem alto, contrastava. Até a minha saída, ainda restavam sete lugares à mesa. 
Este foi o preâmbulo para falar da caixa no muro, próximo a um dos portões do cemitério do Araçá: CORREIOS. Fiquei estupefato. Por que colocar uma caixa de correios na porta de um cemitério? Nossa mente é fantástica, não é verdade? Logo imaginei pessoas escrevendo cartas para seus entes queridos. O funcionário as levaria até o túmulo e, em voz alta: “Querido Arlindo, que falta você me fazia, conheci o Ambrósio, me perdoe.” “João, quantos boletos ficaram, não descanse em paz!” “Ana, nunca te traí, faço agora.”
— Deve ser para a administração do cemitério — acabou, a Luciane, com as minhas especulações.
O pensamento foi para a importância dos Correios. Existe um certo charme em mantê-los. No meio de uma guerra, escrevia-se uma carta e ela chegava ao destino graças aos indômitos transportadores. Questão de honra. Assim fez Exupéry, antes de sumir. Imaginei o Pequeno Príncipe frente à caixa dos Correios no cemitério do Araçá, ou à moça esperando os convidados. O que o pequenino diria?

Fernando Dezena é escritor. Membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista, Diretor da UBE – União Brasileira de Escritores e Curador Literário do Espaço Cultural da Boca do Leão

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp