11/10/2023 às 13h41min - Atualizada em 12/10/2023 às 00h01min

FIDES RIO 2023: Cenário mundial volátil exige muito mais dos corretores de resseguros

O esforço dos corretores se concentra em alcançar resultados mais individualizados, organizando road show de clientes num período mais longo para que eles contem suas histórias

Redaçao Sonho Seguro
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Se tem um profissional sob pressão, ele se chama corretor de resseguros. De um lado precisa dizer ao seu cliente, mesmo aquele que sequer usou o seguro, que vai pagar mais na renovação do contrato. Essa é a pior parte. Mas as notícias delicadas continuam. A franquia aumentou, o capital segurado é menor e as exigências de gerenciamento de riscos são mais rigorosas. Esse cenário é o mais comum para as renovações dos principais contratos do Brasil e do mundo que acontecem no final de 2023 e em janeiro de 2024. 

Os principais corretores de resseguros notaram uma recuperação da capacidade de capital no mercado este ano, embora não em um grau suficientemente significativo para suavizar as difíceis condições para as próximas renovações. Por isso, o esforço dos corretores se concentra em alcançar resultados mais individualizados, organizando road show de clientes num período mais longo para que eles contem suas histórias. 

“Realmente podemos perceber que o mercado ressegurador tem estado mais aberto a fornecer capacidade para alguns riscos complexos, mesmo nesse momento “ultra hard” que o mercado vem passando, em decorrência das grandes perdas sofridas nos últimos anos”, conta Eduardo Toledo, vice-presidente da corretora Alper Seguros, responsável pela área de resseguros.

Isso tem ocorrido muito em função do trabalho dos corretores de resseguros, que estão cada vez mais se aprofundando nas operações de seus clientes, buscando extrair o maior número de informações pertinentes e de qualidade do risco. Uma vez reunido todo arcabouço de informações relevantes aos subscritores, a estratégia da Alper Re tem sido agendar roadshows presenciais ou virtuais, sempre com a presença do cliente, para que todas as dúvidas sobre o risco em questão sejam sanadas e esclarecidas, levando aos mercados a tranquilidade e confiança esperada para aceitação e alocação de suas capacidades.

“Os roadshows, além de serem uma ferramenta estratégica para atrair os mercados e obter capacidade, são um ótimo momento para que o cliente conheça pessoalmente os resseguradores, que passarão a serem seus “sócios” no risco, objetivando criar uma parceria de longo prazo e uma relação de confiança entre as partes. Um bom negócio tem que ser bom para todas as partes envolvidas no processo, caso exista uma parte não satisfeita, não foi um bom negócio”, afirma.

Jeremy Goodman, presidente da Aon Re Solutions do Reino Unido, garante que todos estão atentos em buscar as melhores condições de renovação. Muitos de nossos clientes de seguros têm trabalhado em diversas opções para mitigar custos mais elevados de resseguro, incluindo o reforço de sua disciplina de subscrição na seleção de risco, gerenciamento de limites, ajuste de preços no front-end, retenção de mais risco e exploração de mecanismos alternativos de transferência de risco – como propriedade títulos de catástrofe – tudo o que lhes permite diferenciar-se dos resseguradores e alcançar resultados diferenciados a longo prazo”. 

Após cinco anos de retornos decepcionantes, as resseguradoras se beneficiaram de uma virada decisiva em perdas com catástrofes. Tanto por uma ocorrência menor de eventos como também por terem forçado que as seguradoras assumissem uma parte maior dos riscos. Apesar disso, o saldo ainda faz com que os preços continuem elevados para prevenir um colchão para eventos “surpresas” diante da instabilidade política, econômica, juros, inflação, conflitos sociais e outros temores na pauta do setor. 

“A crescente inflação, problemas logísticos relacionados a matérias-primas e insumos, bem como o aumento da sinistralidade devido a eventos climáticos extremos e conflitos tiveram um impacto em toda a cadeia, tornando mais desafiador o processo de colocação dos riscos. Isso exige mais de nós e nos motiva a buscar os melhores mercados e condições para nossos clientes”, comenta Thiago Tristão, Vice-presidente de Riscos Corporativos e CEO MDS RE.

Segundo ele, pela primeira vez, o Brasil é impactado pelo hard market mundial. “Esse cenário já estava presente em outras regiões com hubs de resseguro, mas, nos últimos anos, também estamos passando por essa transição no mercado local. O setor como um todo está ajustando os termos e condições de forma mais alinhada com os mercados globais, buscando mitigar as grandes perdas recentes e garantir a sustentabilidade das operações”, explica.

Dessa forma, Tristão reforça que se torna cada vez mais crucial adotar uma abordagem consultiva, exigindo um maior nível de complexidade, profundidade técnica e informações detalhadas. “Dadas as limitações de capacidade e as condições desfavoráveis de oferta, é essencial compreender detalhadamente aspectos como os prazos de reposição e o volume de peças sobressalentes, devido às dificuldades logísticas e aos prazos de produção de diversos materiais e insumos, bem como o detalhamento dos investimentos em suprimento dos riscos existentes, a aplicação de boas práticas em resposta a eventos específicos do setor e outros fatores importantes.”

“Há ainda pressões de restrição de oferta equilibrando a balança pela manutenção dos níveis de preço. As políticas monetárias ainda apertadas nas economias centrais que destacamos, movimentos de setembro de 2023 com o BCE subindo 0,25 ponto percentual, Bank of England subindo 0,25 ponto percentual e EUA mantendo a taxa estável em 5,5% e Suíça também em 1,75%. Pelo lado da demanda, além das pressões inflacionárias que comentei, vemos ainda revisão dos patamares de aceitabilidade de risco frente aos novos cenários climáticos e políticos substancialmente mais voláteis”, Pedro Farme, CEO da Guy Carpenter no Brasil, corretora de resseguros da Marsh McLennan. 

José Leão, CEO da BMS Re Brasil, destaca o peso da inflação e dos juros. Passamos por um ciclo de alta de juros mundial com intuito de controle de inflação, o que significa que o acesso a capital é encarecido e por outro lado os resultados de investimento das seguradoras e resseguradoras tendem a melhorar. Contudo, não próximo ainda de compensar as perdas técnicas de subscrição ocorridas recentemente. Estes fatores da alta de juros nos levam ao efeito de acesso a capital mais restrito. Taxa básica de juros mais elevadas significa custo de oportunidade mais elevado. Altos retornos em investimentos de renda fixa de baixo risco fazem que investimentos de maior risco, como por exemplo seguro e resseguro, sejam menos atrativos. Aliado a maus resultados mundiais do mercado ressegurador dos últimos anos, pressiona que os mercados busquem aumentar suas margens de lucro”. 

Farme ressalta que o risco SRCC (Strike, Riot e Civil Comotion) foi tópico de fala dos principais CEOs de resseguradores em Monte Carlo ao passo que já há extensiva evidência empírica das novas magnitudes de eventos naturais secundários e expansão da dispersão geográfica dos mesmos como o incêndio no Havaí, ciclones no Brasil, enchentes na Líbia entre outros. “Esses movimentos seguem puxando a tendência de demanda maior de resseguro mesmo nos níveis atuais de preço com expectativa do mercado crescer acima da inflação globalmente”, afirma o CEO da Guy Carpenter.

Isabella Ximenez, diretora de Placement Resseguro na Lockton Brasil enxerga um ambiente de mercado continuamente conservador este ano, à medida que a incerteza relacionada com a inflação econômica e social, o aumento das perdas relacionadas ou não às catástrofes, as tensões globais e uma recuperação lenta da cadeia de abastecimento continuam. “As seguradoras continuarão seletivas, especialmente em relação a indústrias de alto risco. Os subscritores permanecerão focados na qualidade e nos controles de risco. O foco estará no lucro final. ESG continuará prevalecendo nas discussões de subscrição, com os subscritores questionando ativamente os clientes, governança e políticas.”

Em outros riscos, Isabella destaca tendências. “O mercado para riscos de D&O tem recebido bastante atenção das seguradoras e resseguradores que têm cada dia mais apetite, ocasionando concorrência e deixando os mercados altamente competitivos, o que beneficia as empresas que podem obter taxas mais favoráveis”, afirma. Já no mercado de property, Isabella conta que os aumentos das taxas continuam existindo em 2023. O mercado diverge bastante na seleção de riscos utilizando uma abordagem discriminatória pela qualidade dos riscos e na fixação de preços.


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