09/10/2023 às 15h25min - Atualizada em 09/10/2023 às 20h01min

El Niño adiou o início da temporada do fogo no Cerrado, mas próximos meses exigirão alerta, segundo especialistas da UFMG

Mudanças no clima associadas ao fenômeno El Niño seriam as responsáveis pelo adiamento da temporada do fogo no Cerrado, mas incêndios podem aumentar conforme as altas de temperatura se tornarem mais frequentes em diversas áreas do bioma

Assessoria de Imprensa
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Dedicados ao estudo do fogo, cientistas do Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) notaram que, neste ano de 2023, o El Niño adiou o começo da temporada do fogo no Cerrado. Entretanto, nos próximos meses, na medida em que as temperaturas aumentarem em estados do Centro-Oeste e do Sudeste, os riscos de incêndios podem se tornar mais preocupantes.

O alerta partiu da observação de que, apesar do número de focos de calor estar dentro do esperado, o riscos de incêndios foram menores que o habitual para o Cerrado no início do inverno, estação que coincide com o ápice do período de seca e com o consequente aumento de ocorrências de grandes incêndios florestais na região central do Brasil. Porém, com o aumento da temperatura em diversos estados do Cerrado, verificado desde as últimas duas semanas, a situação pode mudar drasticamente nos próximos meses.

As mudanças no clima, segundo os especialistas, têm sido um fator determinante para que essa temporada do fogo pareça diferente. Elas causaram, no início do inverno, o aumento de precipitações inesperadas, variações na umidade do solo e anomalias de temperatura em diferentes regiões. “Organizações de meteorologia e de pesquisa nacionais e internacionais indicam mais de 90% de probabilidade de que o fenômeno El Niño se intensifique ainda mais entre setembro e outubro”, aponta o climatologista Argemiro Leite-Filho, pesquisador do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG. “E as diferentes regiões do Cerrado sentirão impactos distintos”, adianta.

Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Bahia estão entre os estados com registros de chuvas de 30 a 90 milímetros acima do normal. Com o aumento do volume e a maior frequência de chuvas, várias áreas tiveram a umidade do solo ampliada em até 20 milímetros, em relação à média climatológica para o período de 1991 a 2020, o que ajuda a explicar a redução do espalhamento do fogo nessas áreas desde junho deste ano.

 

 

Ainda que o inverno tenha sido marcado por ondas de calor em diversas regiões do Brasil e o mês de julho, o mais quente na história das medições, grande parte do Cerrado também se manteve dentro das variações normais de temperatura, contrastando com as regiões Norte, Sul e parte de Minas Gerais.

As projeções indicam que o El Niño atual pode levar o planeta a um aquecimento de 1,5°C, número que representa o limite para o aumento de temperatura global, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Mudanças climáticas e a intensificação do El Niño teriam, desse modo, relação direta, pois na medida em que o planeta aquece, as temperaturas dos oceanos aumentam, tornando as águas tropicais ainda mais quentes durante o período característico do fenômeno.

 

Previsões - Para as regiões Centro-Oeste e Semiárida do Cerrado, são esperadas temperaturas acima da média, aumentando o fator de risco para incêndios tanto na primavera quanto no verão.
Isso significa a ocorrência de um período bem mais seco e quente do que o normal no Cerrado, ampliando ainda mais os riscos de incêndios e queimadas”, alerta Argemiro Leite-Filho. “E tudo isso em um período mais tarde do que o comum”, completa.

No sul do Cerrado, há a possibilidade de aumento da frequência e intensidade das chuvas torrenciais, com níveis acima da média até o mês de outubro.

Já na região Sudeste, há alta probabilidade de alternância entre chuvas fortes e veranicos mais prolongados que a média dos anos anteriores, outro fator de risco para a ocorrência de incêndios e queimadas.

Além disso, na Amazônia, em anos de El Niño, as chuvas costumam ser insuficientes para suprir a demanda hídrica durante a estação seca. Nessas condições e dependendo da intensificação do uso do fogo, do nível de desmatamento e da frequência das queimadas, é provável ocorrer um cenário com significativo aumento de incêndios no bioma.

Para facilitar o monitoramento de incêndios nos estados e municípios do Cerrado, o Centro de Sensoriamento Remoto lançou recentemente um informativo automatizado com alertas diários sobre os riscos e a previsão de incêndios florestais.

Por parte dos governos, a redução dos riscos do fogo diante desse cenário ambiental diferenciado envolve desde a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, incluindo a redução das emissões de gases do efeito estufa e o combate ao desmatamento, a campanhas de educação e fiscalização para evitar que as pessoas iniciem incêndios de forma intencional ou não.

Segundo Ubirajara, produtores rurais também têm um papel fundamental no combate a incêndios, pois, em períodos de seca, muitos focos se espalham a partir do fogo aplicado para o rebote de pasto ou para a limpeza de áreas, entre outras ações.

Para facilitar o manejo do fogo controlado em casos devidamente licenciados, agricultores, pecuaristas, trabalhadores do campo e povos tradicionais podem acessar o Boletim dos Riscos de Incêndio, alimentado diariamente pela UFMG com dados para os estados e municípios do Cerrado.

Os produtores rurais podem utilizar dados para se informar sobre qual é o risco climático e, assim, saber qual o momento mais adequado para, caso seja necessário, por exemplo, fazer uma queima controlada ou limpar uma área de pasto com fogo”, explica o pesquisador.

A plataforma também pode ser utilizada por tomadores de decisão como prefeitos e secretários responsáveis pela organização de planos de contingências e brigadas, assim como agentes da defesa civil e do Corpo de Bombeiros.

O Boletim de Risco de Incêndio para os estados e municípios do Cerrado pode ser acessado em Link


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