27/09/2023 às 00h23min - Atualizada em 04/10/2023 às 00h23min

Megane E-Tech chega para mudar a imagem da Renault e dos carros elétricos, com performance, conforto e estilo

Reflexos do tempo

A mobilidade elétrica é vista no mercado como inexorável. E o Brasil não vai escapar desse destino, mesmo que tenha uma estrutura energética especialmente limpa, pelo uso intenso de biocombustível. A chegada do Renault Megane E-Tech 100% elétrico responde a essa lógica. Só que a marca francesa não é nenhuma caloura no assunto: está nessa lida há uma década. Mas a importação do crossover médio da França também tem a ver com um reposicionamento para valorizar a marca no Brasil. Nesse caso, o novo Megane oferece estética, tecnologia e comportamento dinâmico. Ou seja, funciona muito bem como vitrine – até porque o preço de R$ 279.990 não é tão apetitoso assim. Na Europa, onde está à vera no mercado, já alcançou 60 mil emplacamentos desde seu lançamento, há 18 meses.
O visual do Megane é o que há de mais atual na linha de modelos da marca francesa. Ele traz linhas que combinam formas orgânicas, mais sinuosas, com detalhes geométricos. O crossover é o primeiro a ostentar a nova logomarca da fabricante e as linhas inauguram também o conceito de estilo batizado de Sensual Tech. As dimensões o deixam entre um hatch e um SUV, mas com proporções que bem próprias. Ele tem 4,20 metros de comprimento, 1,77 m de largura e 1,52 m de altura, com entre-eixos de 2,69 metros e porta-malas para 440 litros. O desenho do Megane é bem original e transmite uma grande sensação de robustez –principalmente pela linha de cintura alta, com um charmoso degrau a partir da terceira coluna, e as janelas curtas, como se o teto tivesse sido rebaixado.
Ainda de perfil, chamam a atenção as maçanetas embutidas e as rodas de 18 polegadas em forma de hélice. A frente é fechada, com apenas uma grade na base do para-choque. Os conjuntos óticos são bastante afilados e são conectados por uma barra em preto brilhante, com o novo losango da Renault centralizado. As assinaturas luminosas são espelhadas em formato de Z e duas vincos em curva marcam o capô. O conjunto ótico traseiro repete o estilo da frente, com lanterna afiladas, interligadas por um fio de led, e a logomarca centralizada. Acompanhado o degrau na linha de cintura, a janela traseira é especialmente baixa – tanto que o retrovisor interno com opção de visão por câmera vira uma necessidade.
Em relação à tecnologia, o Megane traz os principais recursos ADAS, como controle de cruzeiro adaptativo, monitoramento de faixa com esterçamento no volante, sensor de ponto cego, alerta de colisão com deteção de pedestres e ciclistas, etc. Quase todos os recursos são configurados de forma direto, por um teclado logo abaixo da tela da central multimídia. Já o volante multifuncional traz os comandos de controle de cruzeiro, telefone, som e os quatro modos de condução – Eco, Comfort e Sport, mais um personalizável. O câmbio fica numa pequena haste, acima do pisca, e a intensidade de frenagem é alterada por duas alavancas, como se fosse um paddle shift.
A central multimídia e o painel de instrumentos ficam instalados numa mesma moldura. O cluster digital tem 12,3 polegadas e é ladeada por duas saídas de ar incluídas na moldura. Já a central tem uma tela com 9 polegadas e a resolução da imagem tanto de um quanto de outro chama a atenção. Os revestimentos tentam seguir o conceito de sustentabilidade, com materiais reciclados ou recicláveis. O tecido dos bancos e do console frontal é feito com fios originados de garrafas pet. Os painéis das portas têm parte em Sued. Apenas os apoios de braços – das portas e central – e o volante são revestidos de couro sintético.
Na parte dinâmica, o Megane consegue um bom desempenho pelo peso relativamente baixo, para um modelo 100% elétrico. Ele tem apenas 1.680 kg, sendo 395 deles da bateria de 60 kWh. Ela é composta de 12 módulos acondicionados numa caixa de alumínio, com refrigeração líquida e apenas 11 cm de altura (em geral, a caixa de bateria tem o dobro disso). Foi isso que permitiu que o teto ficasse mais baixo sem comprometer a altura do habitáculo. Ela faz parte do conceito da nova plataforma exclusiva para veículos elétricos da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, chamada de CMF-EV.
Este conjunto alimento um motor elétrico síncrono que gera 220 cv de potência e 30,6 kgfm de torque. Com essa propulsão, o Megane é capaz de fazer de zero a 100 km/h em apenas 7,4 segundos, com máxima de 160 km/h. O conjunto oferece uma autonomia de 337 km, pelas normas do Programa Brasileiro de Etiquetagem de Veículos – seriam 481 km nas normas da SAE – e o tempo de recarga, com o carregador padrão de 7,4 kWh AC – que, inclusive, virá junto com as 100 primeiras unidades do modelo – é preciso cerca de 9 horas para uma carga completa. 

Impressões ao Dirigir
Suave na nave

O Renault Megane E-Tech é muito bem harmonizado. O design externo é inovador e atraente, com detalhes que transmitem a ideia de sofisticação. Por dentro, a decoração é também original, com muito preto brilhante nos acabamentos, o que sempre transmite um certo requinte. Só os revestimentos é que deixam um pouco a desejar. Nesse caso, a Renault ficou mais vinculada ao conceito de sustentabilidade do que ao luxo. Era de ser esperar mais em um carro de R$ 280 mil.
A ergonomia e o espaço interno são elogiáveis. Os bancos sustentam bem o corpo, os muitos controles e botões de uso mais corriqueiro são autoexplicativos e de fácil acesso. Já para as configurações mais detalhadas, como a cor do filete de luz que contorna a cabine, é preciso mergulhar nos inúmeros menus do carro. Um ponto positivo, comum em veículos elétricos, é o piso plano, que aumento o conforto para todos os passageiros. Um ponto contra é o tamanho do vidro traseiro, que é quase uma escotilha. Pelo menos a marca oferece uma solução efetiva: o retrovisor pode funcionar como espelho simples, mas também como monitor da câmera traseira, com uma imagem limpa e sem distorções.
No teste sugerido pela Renault, havia um pequeno trecho de cidade. Apesar de ter sido em São Paulo, o horário e o percurso foram favoráveis, o que tornou a viagem bastante agradável. Outro trecho foi na Imigrantes, que também não é das rodovias mais engastalhadas na região metropolitana paulistana. Com trânsito livre, o Megane pôde mostra tanto sua agilidade – as arrancadas e retomadas são bastante vigorosas – quanto seu conforto de rodagem. Além, claro, do silêncio absoluto a bordo – tanto que o som do pisca incomodava.
O carro muda de personalidade dependendo do modo de condução escolhido, mas o que altera mesmo o comportamento do Megane é a intensidade de frenagem, que vai de quase nenhuma até o ponto de um One Pedal, que praticamente dispensa o uso dos freios. Todo o comportamento, acabamento, equipamento e refinamento na rodagem do Megane fazem crer que vai cumprir facilmente a missão de valorizar a imagem da Renault no Brasil. 

Volta à essência
Cada mercado tem um tipo de exigência e as montadoras tentam se adaptar o melhor possível às características locais. Uma mesma marca pode muito bem ser vista como de primeira linha em um país e popular em outro. A Renault sofreu bastante com isso no Brasil. Assim que chegou, em 1998, tentou imprimir uma imagem de tecnologia e personalidade própria com modelos como Clio e Scénic, idênticos aos que eram vendidos na França e cheio de recursos até então inéditos no país.
Acontece que os volumes que esses modelos obtinham nunca justificaram o investimento da marca na fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná. E a marca, em busca de maiores vendas, iniciou um processo de popularização. Começou a oferecer versões mais simples de seus carros até que passou a recorrer aos projetos da subsidiária romena Dacia, assumidamente de segunda linha na Europa e mais de acordo com o que outros importantes fabricantes nacionais ofereciam. Daí vieram Duster, Sandero, Logan e até o pequeno Kwid.
É essa imagem que a Renault quer retrabalhar e a chegada do Megane E-Tech é fundamental nessa estratégia. O crossover francês 100% elétrico tem as tecnologias e o design que fazem a marca ser vista como de primeira linha na Europa, acima das generalistas e logo abaixo das marcas de luxo. A ideia ao trazer o Megane E-Tech não é conseguir grandes volumes com o modelo, até por conta do preço de R$ 279.900. Se tudo correr conforme os planos da marca, serão cerca de 100 unidades por mês.
A função mais importante é realmente funcionar como uma vitrine de tecnologia, devolver a Renault ao seu ambiente mercadológico natural e abrir caminho para a nova leva de modelos que a marca se prepara para lançar no Brasil – a começar pelo novo SUV compacto Kardian, que terá seu lançamento mundial no Rio de Janeiro no final de outubro.


LANÇAMENTO E AVALIAÇÃO DO RENAULT MEGANE E-TECH por Eduardo Rocha | AutoPress

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp