Município cearense ultrapassa em mais do que o dobro a média nacional de recolhimento de recicláveis

Programa socioambiental implementado pela consultoria Visões da Terra, financiado pelo Instituto Camboa, torna a comunidade de Barrinha Baixo, localizada no município de Acaraú (CE), referência nacional ao atingir índice do potencial do reciclável de 20%, contra 9 % da média nacional

Visões da Terra

A praia da Barrinha de Baixo, localizada no município de Acaraú (CE), distante 230 km da capital Fortaleza, é considerada um dos principais paraísos naturais do litoral cearense. Ponto obrigatório para os turistas que queiram conhecer as belezas de Jericoacoara, o local também é um destino famoso para os praticantes de kitesurf, por conta dos ventos fortes.

Porém, não é apenas pelas belezas naturais que a região se tornou uma referência nacional. O município de Acaraú também é um exemplo para todo o país no gerenciamento de resíduos e coleta seletiva. Os números atestam: na comunidade da Barrinha o índice de recolhimento do potencial de materiais recicláveis produzidos chegou à marca de 20%, mais do que o dobro da média brasileira, que é de 9%, segundo o Sistema Nacional de Resíduos Sólidos (SNIR). Mas como esse sucesso e um número tão expressivo foram possíveis?

Mais Vida, Menos Lixo - Percebendo o crescimento da região graças à inauguração do aeroporto de Jericoacoara em 2017 e buscando alternativas antes desse impacto populacional, o Instituto Camboa, fundado pelo Grupo Carnaúba, contratou a Visões da Terra, consultoria em sustentabilidade que atua há 15 anos, com sede no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas tem o nordeste brasileiro como sua principal praça de atuação. A escolha da consultoria foi justamente por conta da sua expertise em projetos de desenvolvimento local e na organização de sistemas participativos de coleta seletiva, com a inclusão social dos catadores.

“Temos uma visão de impacto que não é assistencialista e isso, para nós, é o mais importante: ter a apropriação do programa pela comunidade local e formar agentes de mudanças que perpetuarão esse programa”, pontua Maria Eduarda Migliora, Head de Impacto do Instituto Camboa, sobre a relevância desta parceria com a Visões da Terra.

Já o trabalho da Visões da Terra teve início com um diagnóstico, em que foi mapeado o caminho do lixo, desde sua geração, coleta, até o destino final. A partir do conhecimento da realidade e das iniciativas já existentes no território, foi organizado um planejamento participativo: surgiu assim o programa “Mais Vida, Menos Lixo”, financiado integralmente pelo Instituto Camboa que embarcou na proposta e disponibilizou recursos para o diagnóstico, para a consultoria da Visões, para a aquisição dos equipamentos e para a operação.

O projeto também uniu representantes da comunidade, poder público, empreendimentos turísticos e a cooperativa de catadores da região, a Coopbravo. O nome do projeto foi escolhido pelos alunos da Escola Expedito José de Freitas, de Barrinha de Baixo.

“Desde o início a Prefeitura Municipal de Acaraú apoiou ativamente o projeto via Secretaria de Meio Ambiente, que já tinha muita sinergia com os programas da Secretaria. Agora estamos trabalhando para que o projeto faça parte dos programas oficiais de coleta seletiva do município”, diz a Secretário de Meio Ambiente do Município José Itamar Ferreira.

Coopbravo - O primeiro passo foi organizar a forma de disposição dos resíduos na comunidade. Como a maioria dos moradores não possuía lixeiras elevadas, o projeto instalou lixeiras de madeiras a cada duas casas para a disposição dos resíduos não recicláveis evitando, assim, que o lixo fosse levado pelos fortes ventos ou revirado pelos animais. Foram distribuídos também sacos retornáveis para armazenamento dos materiais recicláveis que são coletados semanalmente direto pela Cooperativa de Reciclagem Coopbravo.

“Temos um convívio direto com a comunidade, que se envolveu por completo. Assim, todos crescem juntos”, destaca Ronaldo Rocha, presidente da CoopBravo.

Como resultado, 97% das residências aderiam à iniciativa e a comunidade já encaminha para a reciclagem mais de 20% do potencial dos materiais recicláveis produzidos, gerando renda para os cerca de 10 catadores cooperados da Coopbravo.

Sensibilização - Para aumentar o engajamento da população da comunidade, foi criado um grupo de Embaixadores “Mais Vida Menos Lixo” que, por meio de atividades em parceria com a escola local e mobilização porta a porta, cadastrou todas as casas da comunidade, sensibilizando os moradores para separação correta dos materiais e a importância socioambiental desta atitude.

“A comunidade da Barrinha pode sugerir ajustes no projeto e isso ajudou numa grande adesão. Após a implementação dele com a organização tanto do lixo reciclável como do não reciclável, percebemos que até nossos mangues ficaram mais limpos”, relata Rutiele da Silva Carvalho, moradora da Barrinha e agente de posto de saúde.

Tecnologia – Desde a concepção do projeto, cada casa que aderiu à iniciativa possui agora um selo com QR Code, que é lido em toda coleta. Desta maneira, é possível monitorar os índices de adesão de todas as residências da comunidade.

“Não levamos uma solução pronta, fomos criando com a comunidade. Este projeto é fundamental para o desenvolvimento ordenado, além de deixar a comunidade ainda mais unida.  É crucial para o sucesso do projeto a comunidade fazer parte da criação das soluções e monitoramento dos resultados”, destaca Oriana Tanaka, Diretora da Visões da Terra.

Visões da Terra no Nordeste - Os projetos implementados pela Visões da Terra na região Nordeste têm como características tanto o desenvolvimento local, com ênfase no relacionamento com comunidade e ordenamento dos resíduos sólidos, quanto o apoio e capacitações técnicas para programas de logísticas reversas de resíduos, priorizando o envolvimento de cooperativas de reciclagem. Dentre estes programas está o “Mãos Pro Futuro”, coordenado pela Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos). Atualmente a Visões da Terra implementa programas de capacitações em mais de 17 cooperativas de reciclagem no Nordeste.


Mais informações: http://www.visoesdaterra.com.br/
 

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