25/09/2023 às 17h00min - Atualizada em 25/09/2023 às 20h09min

Violência obstétrica: vítimas nem sempre reconhecem situações de violência

O livro de Analu Leite, “Com Amor, Mamãe”, colabora com informações fundamentais para que as mulheres saibam identificar e denunciar casos de violência obstétrica.

Tamyris Torres
Assessoria de imprensa da autora
Arquivo pessoal

Uma em cada quatro mulheres está sofrendo violência obstétrica agora mesmo. Pesquisa publicada pela Fiocruz: “Nascer Brasil”, revela que 45% das mulheres afirmam ter sofrido algum tipo de violência obstétrica pelo SUS e 30%, da rede privada de hospitais/ maternidades. No entanto, esse número pode ser até maior, já que nem todas as mulheres têm a consciência que podem ter sofrido violência obstétrica enquanto gestavam ou durante seus partos. 

O conceito é vasto, pois pode acontecer de diferente forma e gravidade, além de não estar apenas relacionado com os médicos obstétricos, ou seja, uma mulher pode estar vulnerável à violência obstétrica durante o pré-natal, no parto ou até mesmo no pós-parto. Desde um atendimento mal feito com um médico ou alguém da equipe agindo grosseiramente até as faltas de políticas públicas, procedimentos ou manobras proibidas pela OMS - Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde, como é o caso da Manobra de Kristeller (pressão realizada na parte superior do útero), pois pode provocar danos irreparáveis à mãe e ao bebê, até mesmo morte. 

Não há lei federal no Brasil ou qualquer outro tipo de regulamentação nacional que configure ou não ações de violência obstétrica. A maioria dos estados têm legislação própria sobre o tema, porém nem todos preveem punição. A OMS relata, em seus estudos, que o quadro brasileiro é perturbador, especialmente durante o parto: “No mundo inteiro, muitas mulheres experimentam abusos, desrespeito, maus-tratos e negligência durante a assistência ao parto nas instituições de saúde. Isso representa uma violação da confiança entre as mulheres e suas equipes de saúde e pode ser também um poderoso desestímulo para as mulheres procurarem e usarem os serviços de assistência obstétrica”, diz a Organização. 

Desinformação sobre a violência obstétrica

A desinformação é um grande vilão da mulher sobre a violência obstétrica. É imprescindível que elas saibam cada vez mais a respeito para que possam compreender possíveis casos. A própria OMS fez 5 recomendações em suas pesquisas que ajudam a garantir informação, respeito à saúde sexual e reprodutiva dos pacientes:

  • Maior apoio dos governos e parceiros no desenvolvimento social para pesquisas e ações contra o desrespeito e maus tratos;
  • Apoio de programas desenhados para melhorias na qualidades e cuidados de saúde materna com forte enfoque no cuidado da assistência;
  • Enfatizar os direitos das mulheres a uma assistência à saúde, com sistemas de responsabilização e apoio significativo aos profissionais;
  • Envolver a todos os interessados nos esforços para melhorar a qualidade da assistência e eliminar o desrespeito e práticas abusivas. 

A escritora, bacharel em Direito e servidora pública do Poder Judiciário da Bahia, Analu Leite, escreveu “Com Amor, Mamãe”, um romance sobre a maternidade com foco em discutir sobre a romantização do período de maternagem e violências que as mulheres sofrem, tanto as domésticas quanto a obstétrica. Em seu livro, a autora destaca a vida de Maria Clara, mãe de Bia, que trancou a sua faculdade e foi morar com o namorado em São Paulo. O fato gerou uma briga entre elas e o relacionamento desandou. A narrativa vem trazendo o lado da maternidade não romantizada, apresentando aspectos sensíveis sobre mulheres e seus relacionamentos. 

Durante a história, Maria Clara começa a escrever cartas para a sua filha Bia e todos estes assuntos do universo feminino vem à tona instigando o leitor a entender que gestar e ter filhos tem o seu lado bom e mau, que as mulheres são seres humanos com sentimentos e momentos de felicidade e de tristeza. As realidades como a violência obstétrica, doméstica e preconceito contra as mulheres são conversadas de uma maneira leve, porém impactante. 

A lei 11.108, de 07/04/2005 garante às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós parto imediato, no entanto, não garante que esse tipo de violência ocorra em outros locais e momentos, inclusive pelos familiares das gestantes. Uma pesquisa realizada pelo SUS, entrevistou 54.672 mulheres e mostrou a ineficiência da única lei federal prevista para tornar o parto um momento mais seguro: 64% das mulheres não tiveram um acompanhante da sua escolha durante o parto. Quando questionadas pelo motivo de não terem um acompanhante, 56% relataram que o próprio serviço não permitiu.

Há um documentário disponível no Youtube, intitulado: “Violência Obstétrica - A voz das brasileiras” que traz depoimentos impactantes de mulheres que já sofreram com violência obstétrica: “A pior para mim foi a episiotomia que foi feita sem consentimento, sem avisar. Me causou durante uns bons meses desconforto físico, pois inflamou e infeccionou e, psicologicamente eu me senti estranha, eu não gostava mais nem que meu marido encostasse naquela região, pois ficou sensível”, relata Thielly Manias.

Em “Com Amor, Mamãe”, a escritora evidencia um silêncio perigoso acerca destas violências, pois a tendência é que as mulheres se calem por receio de julgamento e acredita ser o momento certo para começar a falar sobre situações como o medo, histórias envolvendo transtornos e violências durante o parto e até mesmo com os seus parceiros. Analu Leite já está em sua segunda edição da obra e participando de eventos literários como a Bienal do Livro Rio e, agora, levará a sua obra para a Bienal do Livro de Pernambuco, entre os dias 06 a 15 de outubro.


Este conteúdo foi distribuído pela plataforma SALA DA NOTÍCIA e elaborado/criado pelo Assessor(a):
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