19/09/2023 às 15h40min - Atualizada em 20/09/2023 às 00h06min

O aumento descomunal das doenças autoimunes e o autismo

por florence rei, química e bióloga

Florence Rei, química e bióloga
www.florencerei.com
Stock Photos | Credit: stefanamer
Há 30 ou 40 anos não ouvíamos falar em doenças autoimunes e autismo com a mesma frequência que hoje estes assuntos surgem em conversas com amigos ou mesmo entre familiares. Estamos tão acostumados a ouvir um conhecido ou alguém da família dizer que foi diagnosticado com uma doença autoimune ou mesmo ter contato com uma criança com autismo que nem mesmo nos surpreendemos ou questionamos o porquê.

Hoje as doenças autoimunes são consideradas epidêmicas, ou seja, o aumento descomunal está fora do controle. E existem mais de 100 doenças sob o mesmo “guarda-chuva” das doenças autoimunes. Portanto, não é mais possível continuar responsabilizando a genética pelo aumento escandaloso dessas doenças. Obviamente, alguma coisa mudou muito e está “pressionando” a expressão dos genes de tal maneira que o resultado é a explosão descontrolada de doenças como a diabetes tipo 1, doenças do coração, esclerose múltipla, doença de Hashimoto, lupus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, câncer (hoje considerada autoimune) e outras.

O transtorno do espectro do autismo embora seja considerado um distúrbio neurológico e de desenvolvimento, pois os sintomas aparecem nos dois primeiros anos de vida, e afeta a interação, comunicação, aprendizagem e comportamento, a doença pode surgir em qualquer idade. Curiosamente, crianças com autismo têm, com frequência, níveis inflamatórios mais elevados do que outras crianças em fase de desenvolvimento. Portanto, assim como as doenças autoimunes são de caráter inflamatório, o autismo também está associado à inflamação.

Existem vários fatores que podem contribuir para a inflamação em crianças com autismo, um deles é a disbiose intestinal, ou seja, um desequilíbrio do microbiota intestinal que acaba resultando em níveis mais baixos de bactérias benéficas e mais elevado de bactérias nocivas à saúde.
No entanto, vemos que a disbiose intestinal também é uma característica de diversas doenças autoimunes, como a doença celíaca, a artrite reumatoide, a esclerose múltipla, lúpus eritematoso sistêmico e outras que, de forma semelhante, afetam o equilíbrio da flora intestinal. Ainda podemos citar a doença de Crohn, a colite ulcerativa, gastrite autoimune, síndrome do intestino irritável e outras, ou seja, todas essas doenças têm um elo em comum impossível de ser negligenciado: a inflamação como resposta a um agressor.

Você há de concordar comigo que vivemos num mundo tóxico e devido à industrialização é virtualmente impossível escapar aos efeitos desse mundo poluído, não importa onde você more! Assim, os tóxicos permearam todos os aspectos de nossas vidas, seja pelo ar que respiramos, a água que tomamos, os alimentos que ingerimos ou as carnes e peixes que consumimos. Portanto, podemos dizer, sem medo de errar, que fatores ambientais são em grande parte responsáveis pelo aumento das doenças inflamatórias. Vale dizer, também, que as infecções bacterianas e virais (incluindo infecção com o vírus da covid-19) contribuem em grande parte para o aumento dessas doenças.

Quando as toxinas entram em contato com o nosso corpo, elas imediatamente começam a causar danos. Não importa se a toxina é um metal pesado, pesticida ou um aditivo alimentar. Toda toxina causa danos fisiológicos da mesma forma, ou seja, elas causam o chamado estresse oxidativo. Isso significar dizer que, internamente, começamos a enferrujar, da mesma forma como quando descascamos uma banana e ela começa a ficar preta ou apodrecer. Agora imagine isso acontecendo dentro você!

Todas as doenças crônicas, não importa se é um problema de coração, câncer ou doença neurológica, resultam dos danos causados às células devido ao estresse oxidativo. Dependendo do local onde ocorre o maior dano dentro de cada um de nós, associado às características genéticas individuais, vemos a manifestação das diferentes doenças.

Assim sendo, não seria prudente evitarmos o contato com essas toxinas agressoras e/ou nos desintoxicarmos para revertermos o equilíbrio do corpo e a saúde? Claro que sim! Mas, infelizmente, este é um tema não explorado, e a maior e pior epidemia do mundo, as doenças crônicas, continuam a ser “remediadas”. A medicina oferece remédios para tratar sintomas, não as causas. E os governantes e cientistas (alguns) insistem em dizer que não sabem o motivo do aumento descomunal das doenças crônicas e inflamatórias.

Quais seriam então as toxinas que devemos minimizar o contato?

Os metais pesados - mercúrio, chumbo, arsênico, cadmio, cromo e outros. Além de causar danos devido ao estresse oxidativo, os metais pesados também são altamente perigosos porque têm a habilidade de deslocar muitos minerais essenciais, importantíssimos ao bom funcionamento do corpo. Por exemplo, o magnésio, o cobre, manganês e zinco são alguns dos minerais “sequestrados” pelos metais pesados. O mercúrio, além de ser altamente tóxico, estar presente de maneira sutil em nossas vidas e interferir com os minerais, ele também afeta o sistema endócrino que regula os níveis hormonais, portanto acarretando mais problemas de saúde.
Mas as interferências do mercúrio no bom funcionamento do organismo não param por aí. Ele também inativa inúmeras reações enzimáticas, aminoácidos e antioxidantes contendo enxofre, ocorrendo, assim, diminuição da defesa oxidante do corpo e aumento do estresse oxidativo. O mercúrio induz a disfunção das mitocôndrias, responsáveis pela produção de energia, acaba com a glutationa, outro importante antioxidante e aumenta a deterioração de gorduras (peroxidação lipídica).

As consequências clínicas da toxicidade do mercúrio incluem hipertensão, doença coronariana, infarto do miocárdio, arritmias cardíacas, aterosclerose generalizada, disfunção renal e tantos outros problemas de saúde. Vale ressaltar que a toxicidade do mercúrio deve ser avaliada em qualquer paciente com hipertensão. Dessa forma, embora o mercúrio seja o segundo metal mais tóxico, perdendo apenas para o uranio, ele apresenta extrema ameaça à saúde. Por esse motivo me dedico, aqui, a falar apenas sobre esse metal.

O mercúrio existe em três formas: metálica, inorgânica e orgânica. Dependendo da maneira como se apresenta e entra em contato conosco, difere o grau de toxicidade e os efeitos causados nos sistemas nervoso, digestivo e imunitário, e ainda nos pulmões, rins, pele e olhos.

A atividade humana é a principal causa das liberações de mercúrio, especialmente nas centrais eléctricas alimentadas a carvão. Acredite ou não, globalmente, ainda existem mais de 2400 centrais em funcionamento, e o que é pior, países da União Europeia estão reativando centrais elétricas à carvão. A queima do petróleo e madeira também liberam mercúrio na atmosfera, e os processos industriais, incineradores de resíduos, a extração de mercúrio, ouro e outros metais também contribuem para a poluição ambiental, contaminando até mesmo a água que tomamos. E o consumo de metais na água, mesmo abaixo dos atuais padrões de água potável, foram associados a perturbações da tolerância imunitária.

Uma vez no meio ambiente, o mercúrio pode ser transformado por bactérias em metil mercúrio e esta não somente é a forma mais difundida de mercúrio no meio ambiente, como também é a forma potencialmente mais prejudicial e tóxica para pessoas de qualquer idade ou estado de saúde. Pior ainda, ele é cumulativo. Quando ingerimos grandes peixes predadores, eles têm maior probabilidade de apresentar níveis elevados de mercúrio como resultado da ingestão de muitos peixes menores que adquiriram mercúrio através da ingestão de plâncton.

Apesar de ser extremamente perigoso o mercúrio é encontrado, literalmente, em todos os lugares. As indústrias misturam o mercúrio com outras substâncias criando mais compostos tóxicos, desde os inorgânicos aos orgânicos como o metil mercúrio. Outra fonte constante de contaminação com mercúrio são as amálgamas de mercúrio para uso odontológico, e estima-se que estas podem liberar de 3 a 17 µg de mercúrio por dia. Como referência, a Agência de Proteção Ambiental americana determinou que a ingestão diária segura de mercúrio é <0,1 µg/kg/d.

Infelizmente, a nossa exposição ao mercúrio não pára por aqui. Ele está presente em drogas, cosméticos, produtos de limpeza e industriais, lâmpadas fluorescentes, aparelhos para medir pressão (barômetros), interruptores elétricos e eletrônicos, e como substâncias adjuvantes nas vacinas. Sim, você entendeu bem, a maioria das vacinas, incluindo àquelas contra a gripe, usam uma substância chamada timerosal no processo de fabricação desses imunizantes, e este nada mais é do que etil mercúrio.  

Ingenuamente, não imaginamos o quanto somos expostos a agressores que estão destruindo a nossa saúde, e aqui me limitei a falar apenas do mercúrio. Outro aspecto extremamente perigoso e importante de mencionar é o efeito sinergético do mercúrio quando combinado a outros metais pesados - a toxicidade é exacerbada! E todos nós, sem nenhuma dúvida, carregamos dentro de nós mais de um metal pesado.

Já dá para começar a entender o aumento desenfreado das doenças inflamatórias? E ainda, com um aumento de quase 800% nos casos de autismo a partir dos anos 80 e conhecendo muito bem os efeitos neurológicos causados pelo mercúrio, há quem suspeite da ligação entre o metal e a doença, o que não é de se admirar!
 
por Florence Rei, formada em Química pela Oswaldo Cruz em São Paulo, graduada pela Faculdade de Medicina OSEC em Biologia e formada em Microscopia Eletrônica. Atualmente vive na Flórida (USA) e desde 2019 vem atuando como pesquisadora independente e escritora.
contato:  www.florencerei.com  / email: florence.rei.florence@gmail.com 



 

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