05/09/2023 às 00h45min - Atualizada em 13/09/2023 às 00h45min

Para além do entretenimento como Barbie virou peça política no Brasil

Depositphotos luvemak
Que Barbie é um filme que trata de assuntos como o empoderamento feminino não é novidade para ninguém, mas o que acredito, é que nem mesmo os produtores do longa-metragem esperavam que Barbie se tornasse uma peça política em diversos países, sendo alvo de boicote por diversos parlamentares brasileiros e influencers no mundo todo.
Com uma autocrítica sucinta a Mattel vai contra sua própria história, expondo os anos de presidência masculina, colocando de forma sútil como a ausência de mulheres em cargos de prestígio é normalizada. Em contrapartida, o filme foi dirigido por uma mulher e alcançou números extraordinários de bilheteria já na sua estréia - vale ressaltar que muitas pessoas que viram o filme não frequentavam o cinema há um bom tempo - e o que tiramos de fato como lição desse que é o assunto mais comentado há meses?

Atenção: isso é uma campanha publicitária altamente capitalista
Barbie respondeu boa parte das críticas à boneca que sempre esteve atrelada ao corpo com padrão inalcançável, heteronormativo e gordofóbico. Mas não deixou de ser uma peça de publicidade capitalista, afinal a Mattel no início de 2023 apresentava baixa de 93% nos lucros em relação ao ano anterior (2022), e agora após o lançamento do filme está vendo suas esperanças de lucro para o segundo semestre de 2023 aumentarem loucamente. O número de colecionadores aumentou, as collabs triplicaram, e as bilheteria, como já dito, foram extraordinárias.
Logo uma peça capitalista como essa não abordará em momento nenhum do filme questões de desigualdade social, e apesar das pautas pertinentes é impossível normalizar e caraterizar algo como intimimamente feminista quando pontos sociais são desfocalizados. Faz pouco ou nenhum sentido carimba-lo como feminista desconsiderando o fato que o longa coloca todas as mulheres em uma posição igualitária, quando a realidade social diverge muito disto.

Se nada disso está presente, por que Barbie provoca radicais?
O que levou políticos, radicais e influencers de todo mundo a considerarem o longa metragem uma grande ameaça foi a maneira como a história se apresentou, pois se falarmos de maneira resumida, basicamente tivemos a apresentação de mulheres contra homens (Barbie Vs Ken) reforçando a ideia patriarcal de que o feminismo trata-se da segregação de homens e de vingança feminina. O enredo trouxe exatamente o que essas pessoas precisavam para difamar e demonizar o filme, enquanto por outro lado deixou a desejar em principios básicos da causa feminista.
Apesar dos pesares, não deixa de ser uma boa peça cinematográfica que traz consigo valores importantes que a sociedade precisa discutir, combater e aprender. Apenas devemos salientar que a luta das mulheres por equidade é uma jornada riquíssima para ser resumida a um simples filme de entretenimento. 

*Mayra Cardozo, sócia da Martins Cardozo Advogados e advogada especialista em Direitos Humanos e Penal, também é mentora de Feminismo e Inclusão e líder de empoderamento.

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