29/08/2023 às 13h59min - Atualizada em 30/08/2023 às 00h06min

Demissões podem ser humanizadas, mas como fazê-la?

Maria Eduarda Brito
Carine Roos_CEO e fundadora da Newa. Crédito: Israel Pinheiro
 

O ato de demitir um funcionário não é uma tarefa fácil. No entanto, há parâmetros morais e éticos que devem ser considerados em torno dessa decisão. Pouco adianta ter uma gestão voltada para a qualidade de vida no trabalho se, no momento da demissão, o funcionário é desrespeitado.

 

Ultimamente, temos visto grandes empresas fazendo este processo ainda mais doloroso com comunicação por e-mail, em meio a reuniões virtuais ou simplesmente cortando o acesso do colaborador ao prédio ou sistema. Indo na contramão de uma gestão verdadeiramente estratégica que, cada vez mais, pensa  na humanização de todos os seus processos, na valorização e cuidado com o capital humano da organização, especialmente sob a ótica do ESG.

 

Na outra ponta, há equívocos como o envio de cestas de flores e bombons como vimos recentemente. A grande realidade é que não é simples tornar essa ocasião algo bom. Os desligamentos são, muitas vezes, inevitáveis e devem ser feitos, preferencialmente, depois de feedbacks e de muito investimento para que esse profissional não precisasse ser demitido.

 

Fazer uma demissão humanizada significa agir com empatia e respeito durante todo o processo de dispensa do funcionário, visando minimizar ao máximo o impacto negativo que essa situação pode causar na vida profissional e pessoal do colaborador e na reputação da empresa. E, lembre-se, amanhã pode ser sua vez de estar nesta posição. Por isso, faço aqui algumas recomendações:

 

Prepare-se para a conversa: 

Antes de comunicar a demissão, reúna todas as informações e documentações necessárias, planeje o que será dito e como será feita a conversa, quais benefícios serão oferecidos como, por exemplo, a extensão do plano de saúde. Lembre-se que essa é uma situação delicada e é importante que a pessoa sinta que está sendo tratada com cuidado e consideração. 

 

Escolha o momento e o local adequado:

 

Procure um lugar calmo e privado, onde o funcionário se sinta confortável para expressar seus sentimentos. Além disso, prefira um momento em que a pessoa não esteja lidando com situações pessoais difíceis. Na hora da demissão, as empresas devem levar em conta a individualidade dos funcionários e não tomar decisões coletivamente, reduzindo-os a números, priorizando sempre que a atitude seja tomada pessoalmente, e não por ligações ou videoconferências.

 

Seja claro e direto: 

Comunique de forma assertiva e honesta sem deixar margem para interpretações sobre os motivos que levaram à demissão e as consequências dessa decisão. Deixe claro que não é pessoal e que não significa uma desvalorização do trabalho que a pessoa realizou. Uma boa conversa garante que ela tenha todas as informações sobre seus direitos e políticas, além de dar a certeza de que todas as equipes e pessoas impactadas diretamente pelas demissões sejam comunicadas sobre o movimento.

 

Ofereça suporte e orientação: 

Indique serviços de apoio psicológico ou de recolocação profissional caso a empresa tenha acesso a esses recursos. Se possível, ajude a pessoa a elaborar um plano de transição de carreira com treinamentos e cursos. Dependendo de como terminar a relação entre empregado e empregador, uma carta de recomendação é uma ótima forma da empresa ajudar na busca de outra oportunidade do funcionário recém-desligado.  O ideal é que essa carta seja escrita pelo gestor e contenha pontos fortes, conquistas, resultados e que fale sobre o perfil técnico e comportamental do profissional.

 

Reconheça o trabalho do funcionário: 

 

Enfatize como a pessoa contribuiu para a empresa enquanto esteve ali e possui atributos que vão recolocá-la no mercado de trabalho. É importante que ela sinta que o que fez foi valorizado e que a sua dedicação foi importante. 

 

Mantenha a confidencialidade: e

Não divulgue informações desnecessárias ou que possam comprometer a imagem ou a reputação do funcionário. Não há segredo nesse raciocínio, por isso, a maneira correta de demitir um colaborador começa com o canal usado para o desligamento, que deve preservar a imagem das pessoas.



 

Mantenha contato:

Ofereça-se para manter contato com a pessoa caso ela precise de ajuda ou suporte após a demissão. Tentar seguir a relação com o colaborador demitido pode ajudar no futuro, tanto para a companhia como para o funcionário.  

 

Assim como contratar, demitir faz parte dos processos ligados à gestão de pessoas. No entanto, definitivamente, a competência de demitir de forma humanizada também precisa ser foco do desenvolvimento da liderança comprometida com o bem-estar e saúde emocional dos seus colaboradores bem como o seu impacto positivo na sociedade. 

 

A empresa que adota este tipo de comportamento pode melhorar o clima, já que os colaboradores se sentem mais importantes e apoiados durante o período de trabalho. Também favorece a redução do número de processos trabalhistas, porque presta apoio ao colaborador mesmo após o desligamento. Além disso, os valores são reforçados, o impacto da demissão na equipe - que ainda continuará trabalhando na organização - é minimizado, e a reputação e imagem da empresa perante a sociedade também se mantém positiva no mercado. 

 

Afinal, três em cada dez profissionais brasileiros falam mal do último emprego que tiveram. Segundo a pesquisa feita pela empresa de tecnologia SoluCX em 2023, que entrevistou 1.697  pessoas e foi  batizada de “A experiência do colaborador no Brasil”, apenas 39,9% deram notas de recomendação que os classificariam como promotores da antiga empresa

 

Recente estudo feito pela FIA Employee Experience (FEEx), que origina o Prêmio Lugares Incríveis Para Trabalhar, 96% dos melhores ambientes de trabalho no Brasil são de empresas que realizam entrevistas de desligamento de maneira formal e estruturada (sendo 91% para demissionários e 78% para demitidos).

 

Esse percentual cai para 79% (71% para demissionários e 65% para demitidos) entre as empresas não classificadas, o que corrobora a importância de boas práticas em gestão de pessoas, inclusive neste final da jornada do colaborador.

 

Vale ressaltar, ainda, que entre os motivos mais comuns para demissões estão: resistência à mudança, conflitos, problemas de comunicação, absenteísmo, falta de engajamento ou de atingimento de resultados. Qualquer que seja a razão, líderes precisam saber que o problema pode não estar somente no funcionário, pois tais comportamentos negativos podem ser disparados pela cultura organizacional, a postura da liderança por falta de clareza na estratégia, nas metas ou nas avaliações e até por falta de estímulos positivos.

 

Em resumo, uma demissão deve ser encarada com um processo de aprendizado dos dois lados e por isso é muito importante a compreensão, a compaixão e o respeito para guiar todo esse processo e colher os melhores benefícios possíveis para ambos.




 

SOBRE CARINE ROOS:

A profissional é especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão há 10 anos. Ela é CEO e fundadora da Newa Consultoria, uma empresa de impacto social que prepara organizações para um futuro mais inclusivo por meio de sensibilizações, workshops, treinamentos e consultoria de diversidade. Mais de 12 mil pessoas foram impactadas em vivências com mais de três mil horas em salas de aula e mais de 2 mil mulheres mentoradas, que hoje estão mais seguras, mais estratégicas, mais reconectadas com a sua história e com a sua essência. À frente da Newa, Carine tem como missão preparar líderes para que a Diversidade e a Inclusão sejam uma realidade imediata nas organizações.



 

SOBRE A NEWA:

A Newa é uma empresa de impacto social que atua no desenvolvimento de organizações baseadas na construção do diálogo, na colaboração e no respeito. A startup valoriza as diferenças e age em prol da diversidade e do bem-estar genuíno. Desde a sua fundação, a Newa atua no desenvolvimento de lideranças compassivas, que atuem na construção de ambientes mais inclusivos e psicologicamente seguros a partir do florescimento humano. A empresa aposta em lideranças focadas no coletivo, na colaboração, na abundância e compaixão, valores que considera essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e com mais equidade. 


 

Este conteúdo foi distribuído pela plataforma SALA DA NOTÍCIA e elaborado/criado pelo Assessor(a):
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