24/08/2023 às 11h58min - Atualizada em 25/08/2023 às 04h03min

"Heartstopper" aborda a importância de falar sobre sexualidade e cativa o espectador com narrativa envolvente e sensível

“É fundamental o adolescente saber que além dos amigos e da internet, ele possui um local seguro para falar sobre sexualidade”, diz a terapeuta Wanessa Moreira

Paulo Sanseverino
Divulgação / Netflix
Assuntos como relacionamento e sexualidade são de suma importância e devem ser discutidos entre amigos, familiares e âmbito escolar para o esclarecimento de dúvidas que geralmente ocorrem na fase da adolescência, para que eventos desagradáveis possam ser evitados – como rejeição, bullying e em muitos casos agressões físicas. A série “Heartstopper” que ganhou recentemente sua segunda temporada no streaming se tornou sucesso de público e os personagens Charlie Spring ( Joe Locke) e Nick Nelson (Kit Connor) através de seus diálogos sensíveis sobre a descoberta da sexualidade fizeram com que muitos adolescentes se identificassem.

Na segunda temporada, o drama familiar que a personagem Darcy Olsson (Kizzy Edgell) sofre é mais comum do que muitas pessoas imaginam, e ganha destaque de extrema importância - por muito tempo esconde sobre sua identidade e acaba sendo expulsa de casa pela própria mãe ao descobrir que sua filha é lésbica, na trama ela mantém um relacionamento com Tara Jones (Corinna Brown). “É fundamental o adolescente saber que além dos amigos e da internet, ele possui um local seguro para falar sobre sexualidade, para compartilhar pensamentos e medos sobre o tema. Os pais devem introduzir o assunto naturalmente, a mãe e o pai são as pessoas mais habilitadas para orientar seu filho e se colocar à disposição caso ele venha a viver uma situação realmente conflitante”, explica a terapeuta Wanessa Moreira.

“Sempre oriento meus pacientes adolescentes a compartilhar com os pais, as experiências e as descobertas, até porque, tanto na busca de orientação, prevenção de gravidez, doenças, serão os pais que terão que intermediar as consultas e encaminhar os filhos aos profissionais para serem cuidados. Negar o assunto, fingir que não percebe, não vai ajudar em absolutamente nada para o que o adolescente terá que viver e enfrentar. Outro ponto importante, pais não são amigos - são pais. Claro que existe afinidade, cumplicidade, mas não confunda o seu papel como o de melhor amigo para ficar “por dentro de tudo”. Seu filho precisa saber que tem com quem contar, e que você é apto para orientá-lo. Respeitar a si mesmo, o seu corpo, o corpo do outro, para ter uma descoberta saudável sobre a própria sexualidade. Lembre-se que seu filho só está aqui nessa jornada com você, (com exceção a inseminação artificial) porque ele veio de um ato sexual, é algo natural, amoroso e que dá origem a novas vidas. Tudo isso deve ser abordado”, complementa.

O acolhimento familiar relacionado à temática sobre sexualidade é importante para o desenvolvimento emocional do adolescente. “Quando maltratado, o adolescente pode rapidamente acessar informação na rede, ou até mesmo com colegas e perceber o quanto aquilo poderia ser diferente – os traumas podem ser variados, baixa estima, dificuldade de se comunicar e de acreditar que a opinião dele não tem valor. Muitas vezes o adolescente maltratado acredita que ele é culpado pelo sofrimento dos pais, ou das coisas que dão errado na vida dos pais e por isso acreditam que estão sendo punidos, que não são bem vindos e que atrapalham simplesmente por existir”, explica Wanessa Moreira.

Outros personagens trazem assuntos relevantes para a trama, como é o caso do casal de protagonistas, Charlie, assumidamente um garoto gay e Nicki, até então um garoto que mantinha relacionamento com garotas, mas ao conhecer Charlie, descobre sua bissexualidade, fazendo com que sua cabeça entre num conflito de identidade por medo de expressar em público o seu verdadeiro eu e ser “cancelado” pelos amigos de colégio. Ambos mantêm um bom diálogo com seus familiares sobre as descobertas sobre sexualidade, porém, Nicki recebe a desagradável visita de seu irmão mais velho que ao descobrir sobre sua bissexualidade não aceita e acaba expondo o irmão para o restante da família.

“A sexualidade deve ser um assunto fluido, da mesma forma que conversamos sobre amizades, dificuldades do dia a dia, e os mais variados assuntos - a sexualidade é parte da saúde física e emocional. Não deve ser um tema à parte, o adolescente deve sempre perguntar suas curiosidades, o que já ouviu dizer ou até mesmo os seus medos e anseios, sempre que o assunto ficar pendente em sua mente. Falar sobre sexualidade ainda é um tabu por falta de informação dos pais de como abordar o tema, por uma necessidade de infantilizar os filhos e achar que serão sempre os pequenos e que sempre vão seguir a vida que eles querem, devido a dificuldade dos adultos de lidarem muitas vezes com a própria sexualidade e de não saber como colocar limites, como conduzir a sexualidade dos filhos, não saber o que é certo ou não, e ficarem perdidos esperando que os filhos um dia falem. Caso necessário é importante uma terapia familiar, conversas, troca, e crescimento do vínculo nessa fase com essa abordagem”, esclarece a terapeuta Wanessa Moreira.

A nova temporada de “Heartstopper” é marcada por ansiedade e insegurança e o espectador é transportado para a narrativa, pois as faixas etárias dos personagens conversam diretamente com o público alvo, que sentem, vibram, se emocionam e se revoltam da mesma forma, pois na maioria das vezes não tem o apoio familiar, muito menos um ombro amigo para conversar sobre seus medos e anseios. O medo de ser exposto aos colegas de classe ainda é um tema delicado que também é abordado na série, e aponta que a instituição deve intervir e abordar a temática para que evite o bullying escolar que muitas vezes pode gerar sérias consequências.

“Ainda nos dias de hoje, o preconceito mantém atitudes de bullying, onde os adolescentes muitas vezes repetem os absurdos que ouvem em casa, ofendendo os colegas e o grupo que convive, excluindo ou apontando qualquer pessoa que tenha atitudes diferentes das “regras” que ele aprendeu que deve seguir com a sua sexualidade, isso não deve ser aceito, a escola precisa abordar esse tema e como a diversidade na conversa sobre sexualidade pode acrescentar a todos como conhecimento e partilha de ideias e pensamentos. O medo da exposição nessa fase é gigante, os jovens entre eles têm muito mais informação do que conseguimos imaginar, então se isso estiver bem alinhado com a escola e com a educação, será de muito crescimento para todos”, reforça a terapeuta.

“Heartstopper” mostra que nem sempre a família de sangue será a que irá te acolher, que famílias escolhidas existem, e elas são de grande valia para o desenvolvimento psicológico e emocional do jovem – que aceitam a pessoa como ela verdadeiramente é – independente da sua sexualidade. “As instituições escolares devem abrir espaço para os adolescentes debaterem sobre o assunto e colocar um professor capacitado no assunto para esclarecer várias dúvidas. Só geram caos os assuntos proibidos, a partir do momento que a sexualidade pode ser abordada com leveza, partilhando medos, dúvidas e anseios, é o que nos fará crescer e ajudará a eles nessa fase tão cheia de detalhes, que vão carregar essa descoberta e a maneira que tiverem essa experiência por anos a fio”, conclui Wanessa Moreira.
 

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