07/08/2023 às 10h23min - Atualizada em 08/08/2023 às 00h03min

Empresas não estão preparadas para lidar com o envelhecimento da população

De acordo com especialista, os maduros precisarão cuidar das empresas por muito mais tempo, porém poucas organizações já se deram conta disso

Prática Comunicação
Divulgação EcoSocial
Conforme Jorge Dornelles de Oliveira, presidente do EcoSocial – grupo de consultores focados em desenvolvimento humano e organizacional –, já estamos vivenciando nas empresas brasileiras os efeitos do envelhecimento e da redução do crescimento populacional no País, que ruma para a inversão da pirâmide etária nas próximas décadas. Estudo divulgado em maio deste ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que apenas a faixa com mais de 45 anos está tendendo ao aumento desde 2020, e que deve haver redução para osdemais grupos etários e o consequente superenvelhecimento populacional.  A ideia tradicional de que o mundo pertence aos jovens vai se transformar e o papel deles, e das pessoas 50+, também. “Como será a configuração de uma sociedade em que as pessoas maduras esperam repassar aos jovens seus legados, seus negócios familiares, e não haverá jovens suficientes para isto? A consequência imediata é que os ditos maduros precisarão cuidar das organizações e do mundo por mais tempo”, destaca Jorge.  
 
EMPRESAS E O MERCADO DE TRABALHO 

Esse contexto traz questionamentos sobre como o envelhecimento tem sido compreendido no Brasil, especialmente no que diz respeito à força de trabalho 50+. As organizações estão preparadas para lidar com os impactos desse novo contexto demográfico? O presidente do EcoSocial diz que não e traz sua visão: 

Paradigma da obsolescência: “De forma geral, a sociedade ainda não está apta para lidar com essa ideia, pois significa uma mudança radical de algo que sempre foi natural, ou seja, os jovens substituindo os mais maduros, e colocando suas ideias e inovando. Há muitos paradigmas a serem quebrados, como o de que após os 60/65 anos as pessoas precisam se aposentar, que jovens são por natureza criativos e inovadores, e que pessoas maduras são conservadoras e rígidas.”  

 
Percepção distorcida da realidade: “A maior parte das organizações não se preocupa muito com isso pois existe uma série de dispersores, como uma infinidade de jovens desempregados, em sua maioria sem formação adequada e vista como mão de obra barata. Isso causa a impressão para as empresas de que há profissionais suficientes, mas quando se pensa em processos com maior sofisticação e capacidade de pensar estratégico, fica mais complexo. Então, poucas empresas ainda começam a perceber a necessidade de reter os 50+ por mais tempo.”  

O protagonismo dos sêniores X Aposentadoria: “Está acontecendo um processo gradual, em que os mais jovens e com menos qualificação vão sendo substituídos por robôs e inteligência artificial, e algumas empresas já começam a tentar seduzir os profissionais mais sêniores para permanecerem por mais tempo, aproveitarem a experiência e seu potencial criativo. Mas a questão é que essas pessoas vêm de uma meta de vida de sair do mundo corporativo cada vez mais cedo. Os que construíram um caminho baseado no clássico trabalho-aposentadoria, dificilmente aceitarão ficar. Aqueles que têm no trabalho um campo de desenvolvimento contínuo, tendem a aceitar o desafio, o que também podem fazer aqueles que dependem do trabalho para sobreviver.”  

Desafios da gestão de idade: O grande desafio é preparar pessoas para uma perspectiva de não mais viver para se aposentar, dar condições de desenvolvimento contínuo, criar processos de motivação que vão além do financeiro, preparar para esse trabalho cada vez mais híbrido e promover a convivência com o diverso em todas as dimensões.” 
 
Ativos e desafios das pessoas 50+: “São muitos, mas além da experiência viva agregada à qualificação técnica e ao aprendizado contínuo, elas têm a capacidade de atuar a partir de imaginação, inspiração e intuição. Porém, necessitam também mudar o seu mindset de finitude da vida organizacional aos 60, ser alocados em atividades em que sua maturidade e experiência sejam reconhecidas, e transformar sua experiência em sabedoria para atuar nesses novos tempos.  
 
Como as empresas podem repensar os estereótipos associados aos 50+: “Recomendo que cuidem das mensagens vindas da alta gestão, de desvalorização da maturidade; alterem em sua cultura a ideia de que o jovem substitui o ‘velho’, como se fosse uma linha de montagem Fordiana; estabeleçam programas contínuos de criatividade e inovação; e reconheçam as diferenças, mas sobretudo as complementariedades e a sinergia entre jovens e maduros.” 
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