04/08/2023 às 10h10min - Atualizada em 04/08/2023 às 20h02min

Doenças bucais são mais graves do que se imagina

Higiene adequada e consultas regulares com dentistas são o caminho para evitar alterações sistêmicas na saúde do paciente, alerta a odontóloga Márcia Luz

Kasane Comunicação Corporativa
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As doenças bucais são apontadas como uma preocupação para a saúde pública de muitos países, já que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), essas doenças afetam cerca de 3,5 bilhões de pessoas no mundo. Dentre elas, as mais prevalentes são as periodontais, que, se não tratadas, podem evoluir para a perda dentária e para outros problemas de saúde mais graves, com risco de internações e até mesmo óbito. Às vésperas do Dia Nacional da Saúde – celebrado no dia 5 de agosto – a odontóloga especialista em Endodontia Microscópica Márcia Luz propõe que esses desfechos negativos podem ser evitados com uma mudança de perspectiva: a de que o acompanhamento odontológico deve ser preventivo e periódico, como de outras áreas da saúde.

Segundo a profissional, tudo pode começar com uma higiene oral inadequada. “Existe uma película aderida na superfície dos dentes, chamada biofilme, na qual estão bactérias boas e ruins. Quando esse material fica antigo e não é removido de forma satisfatória, há uma desorganização da cavidade oral e as bactérias nocivas se proliferam de forma desordenada, transformando-se em placa bacteriana”, explica. Márcia destaca que se essa placa não for retirada apropriadamente na escovação dos dentes e com o uso regular de fio dental, ela se calcificará e formará o tártaro. “A presença do tártaro, por sua vez, causará a gengivite, que é uma inflamação dos tecidos gengivais”, esclarece.

Os sintomas da gengivite são inchaço, vermelhidão, sangramento espontâneo ou ao toque e, às vezes, uma dor na hora da escovação ou do uso do fio dental. Quando essa condição evolui, ela se transforma em doença periodontal, que é quando o tártaro se instala abaixo do nível da gengiva e agride o osso e os tecidos que sustentam os dentes. “Chega a ser até uma situação crônica, na qual já existe o mau hálito, que muitas vezes o paciente não sente. Há alteração do paladar, porque o indivíduo tem dor e não sente mais o gosto dos alimentos, em razão da contaminação. Existe também a perda óssea na região, podendo o dente ficar mole, e a retração gengival, que pode envolver a necessidade de enxerto e tratamentos de limpeza subgengival”, detalha a odontóloga.

A periodontite já é uma situação grave, uma vez que a infecção bucal pode interferir de forma sistêmica na saúde do paciente. “Porque essa bactéria causadora da infecção já está na corrente sanguínea do paciente e ela pode vir a se alojar em qualquer parte do corpo”, enfatiza Márcia Luz. Nesse sentido, ela cita estudo recente da Head and Face Medicine, no qual se confirmou que as doenças odontogênicas, ou seja, de origem bucal, podem evoluir para situações de ambiente hospitalar, com risco de morte. “Hoje, a presença de um dentista dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é obrigatória. Inclusive, atualmente, temos a capacitação em odontologia hospitalar, porque está consolidado na literatura que qualquer alteração da microbiota bucal tem um comprometimento sistêmico”, pontua.

O melhor caminho é, portanto, a prevenção. “O paciente precisa ir ao dentista não somente para fazer uma limpeza, como é o costume da maioria das pessoas, ele precisa ir para fazer o diagnóstico de doenças. Da mesma forma que as mulheres precisam ir ao ginecologista regularmente para prevenir o câncer de colo de útero, que todos precisam ir ao oftalmologista para verificar se não há uma alteração nos olhos. A boca também precisa ser avaliada como parte da prevenção de doenças”, observa. Márcia Luz destaca que as pessoas precisam se acostumar com a ida ao consultório odontológico de seis em seis meses para cuidar da saúde e arremata: “Odontologia não é somente estética”.

Políticas públicas

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, que vem sendo realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a saúde bucal dos brasileiros melhorou na última década. Contudo, dados preliminares mostraram que a maioria das crianças e adolescentes tem dentes cariados e grande parte dos adultos e idosos precisa de próteses dentárias e atendimentos odontológicos. A coleta de informações terminaria no dia 30 de junho, mas foi prorrogada até 14 de agosto, segundo informou o Jornal Folha de São Paulo. Os resultados obtidos serão importantes para que sejam desenvolvidas políticas públicas voltadas para a área, por meio da Política Nacional de Saúde Bucal, inaugurada em maio deste ano pelo Governo Federal.

Márcia Luz ressalta a importância de que, na nova política, sejam incluídas ações educativas para a população. “Informações sobre como prevenir a cárie, como realizar a escovação adequada e também sobre como proceder após um trauma dental são bastante relevantes. Porque o trauma dental na infância é um dos principais fatores que levam à perda dental na fase adulta”, explica.  Márcia destaca ainda que a formação dos profissionais seja reforçada: “Em muitos lugares, sabemos como é difícil encontrar mão de obra qualificada. Portanto, além de promover a educação dos profissionais para atuar nesses locais, é necessário pagar salários dignos, para que eles, sendo qualificados, tenham incentivo para trabalharem na atenção básica”.

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