Andressa sempre quis ser empreendedora. Desde criança, bem pequena, juntava coquinhos da árvore do condomínio em que morava e vendia em saquinhos. Ela montava barraquinha na frente de casa para fazer as vendas ou andava pelo condomínio e abordava as pessoas para oferecer os saquinhos.
Depois disso, ainda adolescente, passou a comprar doces nas lojas para revender no condomínio e ter o próprio negócio. Com 15 anos, conheceu uma pessoa que fazia bijuterias. Desde então, começou a fazer consignado e vender peças de diversas marcas para amigas e família. Até bazares na garagem de casa ela organizava. Aos 17, começou a trabalhar em seu primeiro emprego fixo como vendedora, mas sempre soube que um dia teria algo dela, com o seu próprio DNA.
Enquanto estudava Administração de Empresas na FECAP, procurou emprego na área bancária. Andressa se espalhou no pai, que trabalhou por muitos anos em bancos, e resolveu ir atrás de uma vaga, mesmo sabendo que em algum momento de sua vida seu destino seria passar a empreender.
Entrou na área corporate ligada a pessoa jurídica do Bradesco, mas logo ficou encantada com o segmento private e percebeu que queria focar no público alta renda. “De cara, pensei: é isso que eu quero fazer, o que eu gosto, o que eu sei. Tentei uma vaga no private, passei e foi quando eu comecei a carreira que eu tenho hoje. Fiquei mais de sete anos no banco, aprendi bastante, fiz todos os cursos, vendia muito todos os produtos que precisava vender. Mas com o tempo, sempre me voltava na cabeça a vontade de ser empreendedora e foi quando resolvi colocar em prática”, conta.
Cansada de burocracias e de metas abusivas no emprego, decidiu no ano de 2018 deixar a carreira estável no banco Bradesco, em que atuava como private banker, tendo sido promovida pouco tempo antes, para começar algo novo e do zero. Após diversas reuniões, decidiu, em 2019, fundar a AVG Capital, escritório de alta renda considerado um dos mais antigos do BTG Pactual, sendo o segundo inaugurado em parceria com o banco.
O começo não foi fácil. Em ano de eleições, os clientes não estavam dispostos a tomar decisões e essa foi a maior dificuldade: “Eu tive que passar por um momento em que os clientes não estavam confortáveis em fazer essas migrações, não queriam sair de um banco para o outro, com medo de o cenário mudar. Não sabiam quais aplicações iriam fazer e isso foi para mim o momento mais difícil. Eu tinha acabado de fazer um movimento e precisava levar meus clientes e eles não estavam no momento de fazer isso”.
Passado o momento de eleições e tendo superado essas dificuldades, veio mais um desafio: a pandemia da Covid-19. “Foi mais um momento em que tudo bloqueou, os clientes não queriam mais abrir contas, os ativos estavam se desvalorizando, ninguém queria fazer mudanças. Não dava para encontrar os clientes de forma presencial e ficava muito impessoal fazer reuniões por vídeo. Então, foi outro momento difícil para mim. O tempo foi passando, começamos a fazer reuniões online com todos mais adaptados a esse modo de viver, e eu fui continuando o trabalho dessa forma”, diz.
Andressa seguiu determinada e focada em seu objetivo de empreender em sua própria empresa. Aumentou sua carteira de clientes e conseguiu formar um time de sócios e assessores que vieram de grandes bancos do segmento private, com carteiras de clientes alta renda. Hoje o escritório atende também mais de 500 clientes, que hoje somam mais de R$ 600 milhões sob custódia. O objetivo é chegar até o fim de 2023 a R$ 1,5 bilhão sob custódia. Pós-graduada em Mercado Financeiro e de Capitais pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Andressa explica que quando decidiu sair do Bradesco para empreender e montar a AVG Capital, sentiu uma grande realização, porém, o início foi bastante dolorido.
“Não é fácil montar uma empresa do zero, pensar na construção do negócio, envolver todas as áreas como contabilidade, jurídico, compliance e, além de tudo, precisar de tempo para decidir detalhes como qual será o espaço que vou receber meus clientes, como será a arquitetura, entre outras coisas”, comenta a empresária.
Andressa explica que, depois de todo o projeto montado, ainda foi necessário passar por diligências do BTG, contratar pessoas e precisar ter o controle dos clientes para que o atendimento qualificado e os prazos não se perdessem: “Precisei ser muito resiliente nesse momento. Precisava dar início a um novo negócio, além de saber administrar prioridades e manter o equilíbrio na vida profissional e pessoal", afirma a empresária.
Andressa também comenta que as pessoas ligam o empreendedor ao profissional que trabalha pouco e ganha muito, o que na verdade é uma lenda. “Hoje eu trabalho dez vezes mais do que eu trabalhava quando eu era CLT, tenho uma responsabilidade muito maior, porém sou eternamente grata e feliz com o que eu faço e como faço. A vida do empreendedor é uma montanha russa. Tem meses que as coisas fluem e saem melhor do que o esperado, mas tem meses que bate aquele desespero e parece que as contas não vão fechar”, diz.
Afastamento inesperado
Em 2021, Andressa ficou grávida e, apesar de ser um momento muito feliz em sua vida, por medo de preconceitos no mercado e de deixar os clientes receosos com seu atendimento, preferiu esconder a gravidez usando roupas para disfarçar a barriga. O começo da gravidez foi bem tranquilo, porém quando estava no sétimo mês, teve uma complicação. Passou por um problema de hipertensão e precisou ficar internada no hospital em repouso: “Minha médica pediu para eu parar de trabalhar, mas eu não conseguia e, mesmo internada, trabalhava com o notebook no hospital abrindo contas e me dedicando ao relacionamento com os clientes”.
Até que um dia teve dores muito fortes e precisou entrar em um parto de emergência. A bebê que esperava, infelizmente, não resistiu. Na sequência, teve um agravamento de saúde com a Síndrome Hellp, uma doença rara que acontece a partir do 5º mês de gestação e pode provocar lesões em órgãos. Com isso, perdeu o funcionamento dos rins e precisou fazer hemodiálise por um ano e meio. No total, foram mais de 40 dias internada: “Foi um grande susto. Descobri que eu não sou insubstituível. Meus sócios na época me ajudaram muito. Cobriram meus clientes, atenderam até melhor que eu mesma”.
Com a experiência, Andressa conta que percebeu que não tem como abraçar o mundo. É preciso dividir tarefas e não esquecer outras caixinhas da vida como a família, amigos e saúde: “Eu trabalhava mais de 12 horas por dia. Eu me cobrava demais e tinha muito receio do que as pessoas iam pensar de mim. Quando eu estava no banco, eu tinha superiores que estavam lá olhando a hora que eu entrava e saia do trabalho. Quando saí para empreender, é como se eu tivesse essa liberdade, mas eu precisava mostrar para mim mesma que eu estava trabalhando muito e não me sentisse uma autônoma que trabalha a hora que quer. Ao engravidar, continuei nesse ritmo de trabalho, de preocupação, pois eu precisava crescer logo”.
Próximos rumos
Recuperada do grande susto e após um longo período de terapia, Andressa percebeu que o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é fundamental. A experiência também ensinou que ela não precisava fazer todo o trabalho sozinha e podia dividir parte dele com os sócios.
Em novembro de 2021, inaugurou uma filial do escritório, que tem sede em São Paulo, em Itajaí, Santa Catarina. O escritório ganhou pelo terceiro ano seguido o prêmio Destaque NPS, que é uma métrica desenvolvida para medir o grau de satisfação e lealdade dos clientes. A empresa conta com um NPS acima dos 96%, taxa considerada acima da média do mercado, resultado do trabalho com foco no atendimento aos clientes e proximidade, de forma honesta e transparente.
Além das premiações como Destaque NPS, o escritório também já foi premiado no Best Performer em 2020, no qual recebeu o prêmio em Portugal como um dos melhores escritórios entre os TOP 15 de todo o banco. Segundo Andressa, a meta para os próximos anos é expandir para novas filiais no interior de SP e outros estados do Brasil.
SHZ AGÊNCIA
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