05/07/2023 às 01h44min - Atualizada em 05/07/2023 às 01h44min

Choque mercadológico

BYD Dolphin desembarca no Brasil com preço e conteúdo desenhados para se tornar líder entre veículos elétricos

Com o lançamento do Dolphin, a BYD quis chocar o mercado de carros elétricos. O compacto da marca chinesa desembarcou no Brasil ao preço de R$ 149.800, valor semelhante aos carros elétricos mais baratos vendidos no país. A diferença é que o Dolphin é superior em todos os sentidos em relação a rivais como Caoa Chery iCar, Renault e-Kwid e JAC e-JS-1, que custam na faixa de R$ 150 mil. O modelo, na verdade, se nivela em conteúdo, performance, acabamento e tamanho a modelos como Renault Zoe e Peugeot e-208 GT, que se posicionam em um patamar superior, a partir de R$ 240 mil. A marca não fez uma previsão de quantas unidades o mercado brasileiro vai absorver, mas garante que pode manter facilmente um fluxo de importação de até mil unidades por mês. 
A ideia foi mesmo montar o modelo mais acessível possível. Daí ter escolhido a versão vendida na China, que tem 4,13 metros de comprimento, o motor menos potente, com 95 cv e 18,3 kgfm, e uma bateria com 44,9 kWh (na Europa, o Dolphin é 14 cm maior, tem até 204 cv de potência e bateria de 60,5 kWh). Com as especificações definidas para o Brasil, o Dolphin é capaz de acelerar de zero a 100 km/h em 10,9 segundos, chegar a 150 km/h e consumir o equivalente em gasolina a 50 km/l na cidade e 40 km/h na estrada – a marca calcula o custo do quilômetro em R$ 0,15.
Apesar de a BYD escolher as configurações menos onerosas, o Dolphin traz os demais parâmetros em alto nível. Com um entre-eixos de 2,70 metros, o espaço interno é comparável ao de modelos médios. O conteúdo também é dos mais completos. O compacto tem chave presencial, câmera 360º, central multimídia com tela giratória de 12,8 polegadas com espelhamento de celular, navegador interno, três modos de condução, seis airbags, revestimento interno em couro sintético. O único ponto negativo fica com a capacidade do porta-malas, que tem 250 litros, sem incluir estepe.
Mas um dos pontos que mais vai atrair no Dolphin é o desenho. As linhas são assinadas pelo alemão Wolfgand Egger, que saiu da Audi para se tornar Chefe de Design da BYD. A frente curvada traz uma falsa grade entre os conjuntos óticos elevados de formas curvilíneas. De perfil, destacam-se as rodas de duas cores e o vinco diagonal que atravessa as duas portas. Na traseira, as lanternas altas cortam a tampa da mala de um lado ao outro, com led em desenhos irregulares.
A chegada do BYD Dolphin deve mexer profundamente com o segmento no Brasil. Ao atacar ao mesmo tempo os subcompactos e os compactos, a tendência é que todas as marcas generalistas que vendem carros elétricos revejam preços e equipamentos. Para a BYD, o Dolphin pode ser uma ótima forma de ganhar mercado e credibilidade no momento em que assume a antiga planta da Ford em Camaçari. A marca chinesa parece realmente disposta a se tornar uma poderosa fabricante com produção local.

Ponto a ponto
Desempenho – A dinâmica do Dolphin é bem racional, mas também convincente. O comportamento muda radicalmente, de acordo com o modo de condução escolhido, Eco, Sport ou Neve, para terrenos de baixíssima aderência. Esses modos alteram também a intensidade dos freios, O bom torque instantâneo de 18,4 kgfm dá conta com facilidade da tonelada e meia de peso, incluído aí um ou dois passageiros. E apesar de ter 300 kg a mais, o zero a 100 km/h em 10,9 segundos o nivela com modelos compactos convencionais dotados de motor 1.0 turbo, que aceleram também na casa dos 10 segundos. A diferença, a favor do Dolphin, é que as arrancadas até os 60 km/h, importantes em ambientes urbanos, são mais vigorosas por conta do torque instantâneo. A máxima de 150 km/h é bastante coerente para um modelo elétrico. Nota 8.
Estabilidade – As baterias são instaladas no piso do porta-malas e não no entre-eixos. Ainda assim, o centro de gravidade do modelo é bastante baixo e oferece um bom equilíbrio estabilidade ao modelo, ainda mais pela pequena distância para o solo, de 12 cm. Por conta disso, no entanto, o curso da suspensão é bastante reduzido, o que colabora na estabilidade, mas afeta o conforto. A direção elétrica é leve, mas mantém boa comunicação entre rodas e volante. Nota 9.
Interatividade – A BYD mostra a certa intenção de tornar o Dolphin charmoso e original. Na parte de design, isso significa comandos bastante peculiares, que forçam os ocupantes a descobrir e aprender como tudo funciona. O painel é dominado pela enorme e atraente tela rotativa de 12,8 polegadas, que controla por toque funções como ar-condicionado, som e navegação. Por comandos indiretos, é por ali também que se controla funções secundários, como o som emitido quando o carro se move, memórias do rádio, conexão de celular, etc. Sob a tela, uma fileira de botões estilosos traz comandos diretos para marcha, modo de condução, ar, som, controle de estabilidade etc. O painel fica em uma pequena tela de 5 polegadas atrás do volante com as informações básicas, como velocidade, autonomia e quilometragem. A sistema multimídia oferece espelhamento com Apple e Android. O carro conta ainda com aplicativo para controle de funções remotamente e tomada 127 v para alimentar equipamentos externos. Nota 9.
Consumo – Segundo o InMetro, o Dolphin tem autonomia de 291 km no ciclo misto pelo novo sistema de medição do PBEV que é mais próximo do que se obtém no uso normal, com a bateria de 44,9 kWh. O consumo médio é de 0,42 Mj/km (menor que o do Renault Kwid, por exemplo, que é de 0,44 Mj/km). Na equivalência com um modelo a gasolina, representa mais de 54 km/l na cidade e mais de 40 km/l na estrada. Mas o modelo oferece facilidade na recarga, pois é possível alimentar o sistema com uma tomada doméstica de 127 ou 220 v e leva cerca de 9 horas para recuperar até 80% da carga. Em carregador de corrente contínua, pode elevar a carda de 30 a 80% em 30 minutos. Nota 10.
Conforto – O Dolphin é pensado como carro urbano. Ou seja: a princípio iria encarar apenas pisos de boa qualidade. Por conta disso, é baixo e tem suspensão rígida, que ajuda no controle da carroceria, mas não é capaz de filtrar com muita eficiência as irregularidades. O interior é extremamente espaçoso, inclusive na largura, e os bancos têm excelente ergonomia. Tem um bom isolamento acústico, para combinar com o silencioso motor elétrico. Nota 8.
Tecnologia – A arquitetura, chamada de e-Platform 3.0, é modelar e por acomodar modelos compactos e médios. O conceito é ligeiramente diferente dos carros elétricos atuais, que usam o piso para instalar a bateria enquanto a BYD usa um sistema em U, com as baterias no fundo do porta-malas e o motor na parte dianteira. Como acontece com a maior parte dos compactos no Brasil, o modelo não traz recursos ADAS, como frenagem autônoma ou centralizar de faixa, mas conta com tecnologias como chave presencial, sistema opcional de destravamento por anel ou cartão, câmeras 360º, controle de cruzeiro. Traz ainda seis airbags, controle de estabilidade e tração, sensores dianteiros e traseiros, luz de circulação diurna e monitoramento de pressão dos pneus. Nota 8.
Habitabilidade – O Dolphin oferece 250 litros de porta-malas, quando equipado com kit de reparos de pneus. Caso a opção do comprador seja por um espete temporário, essa capacidade é ainda menor. Em compensação, o espaço interno é extremamente generoso e há uma boa quantidade de ninhos e porta-objetos no interior. Nota 8.
Acabamento – A BYD justifica o preço de R$ 149.800 com um acabamento charmoso e de boa qualidade. Além do design original, os materiais seguem a lógica de carro urbano moderno e jovem. Os bancos são revestidos com couro sintético, há uma combinação de materiais elegante. Nota 9.
Design – As linhas do Dolphin são originais, equilibradas e extremamente simpáticas. Por causa do nome, há algumas referências ao animal golfinho, como as maçanetas internas em forma de barbatana ou as aletas no para-choque como guelras estilizadas. Combina ousadia e beleza. Nota 10.
Custo/benefício – O Dolphin chega com preço a partir de R$ 149.800, na mesma faixa dos modelos elétricos mais baratos do mercado, mas que oferecem muito menos recursos. Renault e-Kwid, Cao Chery iCar e JAC E-JSi são muito menores, têm 40% menos autonomia, acabamento inferior, conteúdo menos completo e pior desempenho. A chegada do compacto da BYD vai certamente obrigar os rivais a se reposicionarem. Nota 9.
Total – O Renault Kwid Intense obteve 88 pontos de 100 possíveis.

Impressões ao dirigir
Linha de ação
O BYD Dolphin tem diversas características que chamam a atenção. O preço, a qualidade do acabamento, o irritante som que emite quando anda em baixa velocidade – que pode ser eliminado na configuração – e, principalmente, o design. O modelo é combina linhas geométricas e orgânicas com curvas e musculaturas muito bem distribuídas pela carroceria, com muita personalidade. As cores externas do modelo são bem originais: Rosa metálico com detalhes em prata (Afterglow Pink), creme metálico com detalhe em preto brilhante (Chesse Yellow) e cinza metálico com detalhes em laranja (Dolphin Grey).
A mesma ousadia se repete no espaçoso interior, que se aproveita muito bem dos 2,70 metros de entre-eixos. A gigantesca tela giratória de 12,8 polegadas domina o ambiente, que traz ainda um pequeno painel digital de 5 polegadas atrás do volante, que mais parece de moto. A decoração interna traz cores em tons pastéis que combinam com as cores externas.
Na preparação para o rápido test-drive oferecido no lançamento, não é difícil se acomodar na direção. O volante só oferece ajuste de altura, mas o banco é bem ergonômico, com encosto de cabeça integrado, e traz regulagens também de altura. O comando do câmbio fica no console frontal, logo abaixo da enorme tela giratória, e tem engates através de movimentos bem sutis, o que inicialmente dificulta a interação, mas logo se torna familiar.
Falta no Dolphin dois recursos comuns em modelos elétricos. O primeiro é uma regulagem direta da intensidade da frenagem, que também afeta o nível de regeneração de energia. O outro é o sistema One Pedal, que permite que se controle a velocidade do carro apenas com a desaceleração, praticamente sem usar o freio. Estes dois parâmetros só são modificados no Dolphin através dos três modos de condução – sendo que efetivos mesmo são o Eco e Sport, já que o modo Neve torna as reações extremamente lentas, já que é indicado para situações de baixíssima aderência.
De qualquer forma, a condução do Dolphin é extremamente prazerosa. As acelerações são bastante vigorosas, a carroceria tem movimentos muito controlados pela suspensão – que é rígida, mas consegue filtrar uma boa parte das irregularidades – e a visibilidade é excelente. E ainda pode ser incrementada pelas câmeras 360º, bastante versátil. Ou seja: o Dolphin é consistente na condução, agradável na convivência e atraente ao olhar.

Ficha técnica
BYD Dolphin
Motor
: Elétrico, síncrono de imãs permanentes.
Transmissão: Uma marcha à frente e uma a ré. Tração dianteira. Traz controle eletrônico de tração e estabilidade de série. 
Potência: 95,2 cv.
Torque: 18,4 kgfm.
Aceleração de zero a 100 km/h: 10,9 segundos.
Velocidade máxima: 150 km/h.
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson com amortecedores hidráulicos e molas helicoidais. Traseira com eixo de torção com molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos verticais. Controle eletrônico de estabilidade de série.
Pneus: 195/70 R16. Sobressalente de uso temporário ou kit de reparo opcional
Freios: Discos ventilados na frente e sólidos atrás. Freios ABS com EBD e assistência de partida em rampa. Freios regenerativos de três níveis, de acordo com o modo de condução (Neve, Eco ou Sport).
Carroceria: Hatch compacto em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,13 metros de comprimento, 1,77 m de largura, 1,57 m de altura e 2,70 m de distância entre-eixos. Distância livre para o solo de 12 cm. Airbags frontais, laterais e de cabeça de série.
Peso: 1.405 kg.
Capacidade do porta-malas: 250 litros.
Bateria: Com 44,9 kWh de capacidade. Portas de carregamento AC type 2 com 6,6 kWh de capacidade e DC combo 2 com 60 kWh de capacidade.
Autonomia na norma InMetro PBEV: 291 km.
Produção: Changsha, China.
Lançamento do modelo: 2021 (China), 2022 (Austrália) e 2023 (Europa e América do Sul).
Preço: R$ 149.800.


LANÇAMENTO DO BYD DOLPHIN  por Eduardo Rocha / Auto Press 

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