15/05/2023 às 10h50min - Atualizada em 15/05/2023 às 20h04min

Nasce primeiro bebê britânico com ‘três pais’; especialista em reprodução humana explica a técnica

Procedimento revolucionário de Fertilização In Vitro permite a criação de um embrião livre de mutações mitocondriais a partir do tecido de um óvulo doado, assim garantindo que a criança nasça sem doenças genéticas herdadas da mãe.

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São Paulo - Nasceu, no Reino Unido, o primeiro bebê com DNA de três pessoas, gerado a partir de uma técnica revolucionária de Fertilização In Vitro (FIV) que visa prevenir que a criança herde doenças genéticas da mãe. “No procedimento, conhecido como Tratamento de Doação Mitocondrial (MDT), utiliza-se um pedaço do tecido do óvulo de uma doadora saudável para, a partir da FIV, criar um embrião livre de mutações mitocondriais, que podem ser herdadas da mãe pela criança, causando doenças devastadoras”, destaca o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.

No Reino Unido, a técnica de MDT foi permitida em 2015 e performada pela primeira vez em 2018, ainda com caráter experimental e com a permissão para realização sendo avaliada caso a caso. No entanto, as informações sobre o número de nascimentos bem-sucedidos da técnica não haviam sido reveladas até então por questões de confidencialidade. Agora, o nascimento do primeiro bebê britânico gerado com o procedimento foi confirmado após solicitação de acesso à informação do jornal britânico The Guardian à Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia do Reino Unido. A instituição relatou que menos de cinco bebês nasceram no país com a técnica de MDT, sem dar mais detalhes para não comprometer a privacidade dos pacientes.

O Dr. Fernando Prado explica que o Tratamento de Doação Mitocondrial pode ser feito antes ou depois da fertilização do óvulo. “Em ambos os casos, o material genético nuclear do óvulo doado é substituído pelo da mãe, criando assim um óvulo que, uma vez fertilizado, conta com os cromossomos dos pais, mas com a mitocôndria saudável da doadora. O embrião formado, livre de mutações mitocondriais da mãe que poderiam ser passadas para o filho, é transferido para o útero”, diz o médico, que ainda ressalta que apenas um pequeno número de genes é proveniente do doador. “99,8% do DNA ainda é do casal, portanto, o doador não constitui um ‘terceiro pai’”, destaca.

Segundo o especialista em reprodução humana, as mitocôndrias agem como “baterias” para as células, fornecendo a energia necessária para que funcionem adequadamente. E, como herdamos todas as mitocôndrias da parte materna, qualquer mutação nessas estruturas pode levar a ocorrência de doenças genéticas nos filhos. “Essas mutações tendem a afetar principalmente os tecidos que mais consomem energia, como o cérebro, o coração e os músculos, causando uma deterioração que prejudica o desenvolvimento da criança. E, para mulheres que possuem essas mutações mitocondriais, o resultado da gravidez natural é imprevisível. Enquanto alguns bebês podem nascer saudáveis, outros podem desenvolver doenças severas e, frequentemente, fatais, às vezes, após apenas algumas horas ou dias do nascimento”, explica o Dr. Fernando que ressalta que o tratamento de doação mitocondrial, então, zera o risco de o bebê herdar as mitocôndrias mutadas.

Os resultados da técnica são encorajadores e devem estimular sua evolução nos próximos anos. No entanto, é fundamental que a técnica seja melhor estudada e o crescimento da criança seja acompanhado antes de qualquer conclusão sobre a eficácia e segurança do procedimento, visto que ainda possui riscos. “Evidências mostram que, em alguns casos, a pequena quantidade de mitocôndrias anormais que ainda é herdada da mãe pode se multiplicar no útero, o que é chamado de reversão, levando ao desenvolvimento de doenças na criança”, alerta o médico.

Até que mais estudos sejam realizados e a técnica seja amplamente utilizada, mulheres com mutações mitocondriais podem ter filhos saudáveis através da adoção ou da Fertilização In Vitro com óvulos doados. “Além disso, para ter filhos geneticamente relacionados, as mulheres afetadas podem solicitar uma análise dos embriões gerados a partir de FIV para avaliação de possíveis mutações mitocondriais. Esse método é, em muitos casos, efetivo, mas apenas reduz o risco de a criança ter essas doenças em vez de zerá-lo. Também, não é uma opção quando todos os embriões gerados possuem mitocôndrias altamente mutadas. Na dúvida, questione o especialista em reprodução humana sobre as possibilidades para o seu caso, já que, após uma avaliação detalhada, o médico poderá recomendar a melhor opção para que você consiga ter uma gravidez sem complicações e um filho saudável”, finaliza o Dr Fernando Prado.

FONTE: DR. FERNANDO PRADO - Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres - Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Instagram: @neovita.br
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