05/04/2023 às 12h52min - Atualizada em 05/04/2023 às 20h12min

Rotação de culturas ajuda o controle de nematóides e o uso de tecnologias melhora o desenvolvimento da raiz da soja e assegura incremento de produtividade

Pesquisador aponta ainda que o investimento em tecnologias para sistema radicular pode aumentar a produtividade da cultura da soja

SALA DA NOTÍCIA ANA PAOLA CARLINI
João Pedro Proteplan
A incidência de nematóides tem crescido vertiginosamente em solos agrícultáveis em todo país, mas em Mato Grosso esta ocorrência tem sido monitorada e é motivo de grande preocupação para o futuro do setor produtivo. Por ser de difícil controle, já que em alguns casos são assintomáticos, e por causar reduções consideráveis na produção, o assunto tem sido recorrente nos estudos de pesquisadores e eventos do agro. O tema fez parte do painel de Sistemas de Cultivos, no Master Meeting Soja 2023, realizado pela Proteplan, em Cuiabá.  

Considerado como inimigo oculto, os nematóides são patógenos que ficam no solo e são muitas vezes confundidos com outras doenças, ou como um problema de compactação e fertilidade, e por isso acabam sendo negligenciados pelos produtores, dessa forma a tomada de decisão para o manejo pode acontecer de forma tardia. “Quando vamos observar o problema ele já está generalizado e em estado grave, por isso chamamos de inimigo oculto”, explica a pesquisadora da Universidade Estadual de Maringá e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Nematologia, Claudia Arieira. 

De acordo com a pesquisadora, o sistema de cultivo interfere diretamente na dinâmica dos nematóides. “Nós temos que pensar quanto que o nematoide tem de inimigo natural ou não no solo e principalmente quanto a soja tem de raiz para suportar o nematoide. Então, o sistema de cultivo tem efeito direto neste patógeno, pois a palhada e as plantas que são cultivadas ali, quando fazemos cobertura, essa degradação libera uma substância química que pode até ser ativa contra o nematoide, mas o mais importante nisso é o efeito sobre o vegetal e a microbiologia daquele solo”, afirma. 

Arieira destaca ainda que recuperar a saúde do solo, e dar condições para que a soja se desenvolva, e tenha um volume de sistema radicular que suporte o ataque desses patógenos é a peça-chave. “Temos que fazer com que a soja suporte conviver com o nematoide, e por isso o sistema de rotação de cultivo é muito importante”, completa.   

Neste caso, a rotação de culturas entra com duas opções distintas: cultivar uma planta que é uma redutora de nematóides, que tem objetivo de reduzir a população, ou uma planta para melhorar o sistema, que é protegida contra o patógeno. “Hoje a rotação de culturas é o nosso coringa, a principal ferramenta redutora do patógeno, com plantas antagonistas, que podem ser hospedeira ou não”, afirmou 

Diversidade na produção de grãos

O produtor rural José Eduardo Macedo Soares, conhecido como “Zecão”, proprietário da Fazenda Capuaba, de 1.800 hectares no município de Lucas do Rio Verde, aposta na maior biodiversidade dentro do sistema de produção de grãos para manter o solo “vivo”. Apesar de a soja ainda ser a protagonista, a propriedade faz a rotação com o arroz, milho, sorgo, milheto e mais de dez espécies diferentes de plantas de cobertura para o solo.  

Segundo o produtor, a rotação de culturas visa um projeto a médio e a longo prazo fazendo com que o solo receba maior aporte de matéria orgânica com a diversidade de plantas e sistemas radiculares diferentes. “A diversidade na superfície do solo é o espelho da diversidade subterrânea, e é fundamental para conseguirmos recuperar o solo. Mas para isso é necessário planejamento, pensar na diversidade de culturas e sempre pensar na proteção constante do solo, durante 365 dias do ano, com uma boa palhada protegendo a superfície do calor extremo e ajudando a manter a vida do solo”, pontua.  

Reforço radicular 

Segundo o coordenador da Proteplan e doutor em ciência do solo, Marcelo Barbosa, é preciso entender como a planta da soja funciona, de baixo pra cima e, em que momento elas estão mais sensíveis as ações de fatores abióticos, de forma que seja possível intervir na sua fisiologia, para evitar quebras de produtividade.  

Segundo Barbosa, o Mato Grosso está em uma região que é privilegiada em relação a tipo de solo, aqui aproximadamente 52% dos tipos de solo do estado, são classificados, segundo o sistema brasileiro de classificação do solo, como Latossolos. Isso quer dizer que são solos muito intemperizados, profundos, de textura homogênea que não apresentam impedimento físico ao desenvolvimento do sistema radicular, o que é característica uma característica muito favorável ao cultivo favorável. 

“A soja é uma planta que tem um sistema radicular agressivo, raiz pivotante. E ela possui uma característica muito específica, que é a capacidade de absorver água e nutrientes em profundidade. Entre 30 a 60 cm a planta absorve 22,5 % da água que ela necessita durante o seu ciclo, entre 60 a 90 cm de profundidade, ela absorve 26,8% e entre 1,20 a 1,50 metros de profundidade, ela absorve 37,5%, ou seja a maior capacidade de captação de água da raiz está em profundidade. Por isso é preciso estimular o desenvolvimento do sistema radicular da planta, caso contrário estamos limitando a expressão do máximo potencial produtivo dela”, explicou.  

Por isso, defende Barbosa, na hora do plantio é preciso investir em  tecnologias que estimulam um sistema radicular mais robusto, com a aplicação, via tratamento de sementes e folha, de hormônios ou percussores hormonais que possuem essa função na planta. Além de trabalhar a estrutura da planta para conseguir ter uma boa fixação biológica de nitrogênio. Método muito frisado pelo professor Geraldo Chavarria, durante  painel  “Fisiologia no campo: manejo da soja para altas produtividades”.  

O coordenador e doutor explica que a cultura de soja é altamente exigente em nitrogênio, demandando aproximadamente 80 quilos de nitrogênio para cada mil quilos de grão produzido, o que resultaria em uma demanda de aproximadamente 400 quilos de N por hectare, para esse nível de produtividade. Em função da posição do Brasil como grande importador de fertilizantes nitrogenados e alto custo desse insumo, fornecer esse nitrogênio via fertilizantes minerais, tornaria o custo de produção da cultura muito elevado, deixando a commoditie pouco competitiva, frente ao mercado mundial. 

“Mas o que nos torna competitivos no mercado hoje? A grande competitividade da comercialização da soja brasileira no mercado internacional é resultado do uso de tecnologias como a inoculação, que se caracteriza pela aplicação de microrganismos capazes de captar o nitrogênio da atmosfera na forma elementar (N2) e transformar e disponibilizar para as planta nas formas nas quais ela consegue absorver (NH4+), sendo essa tecnologia de baixo custo. 

Evento 

O Master Meeting Soja é promovido pela Proteplan, uma empresa mato-grossense de pesquisa agrícola, assessoria e capacitação que tem a missão de desenvolver soluções integradas na agricultura e difundir conhecimento técnico e experiência para a cadeia produtiva. Os trabalhos da empresa visam contribuir com o desenvolvimento da agricultura de forma sustentável, respeitando as boas práticas agrícolas e visando rentabilidade nas diversas culturas de atuação (soja, milho, algodão e feijão). 

Estão disponíveis as inscrições para participação online, no site da Proteplan (https://www.proteplan.com.br/).
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