21/03/2023 às 17h40min - Atualizada em 22/03/2023 às 00h00min

Falta água potável na Amazônia: abundância não garante qualidade para comunidades e povos da região

Mais de 5,5 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento são despejadas na natureza diariamente, segundo novos dados do Instituto Trata Brasil

SALA DA NOTÍCIA Nice Castro
https://lira.ipe.org.br/
divulgação

A Amazônia é uma das regiões mais ricas em hidrografia do planeta, com rios, lagos e aquíferos que formam uma das maiores redes de água doce do mundo. No entanto, apesar da vasta rede hidrográfica da região, a falta de infraestrutura e políticas públicas adequadas deixam muitas comunidades sem acesso a água potável.

 

Ranking do Saneamento publicado no dia 20 de março pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com GO Associados, revela que a falta de acesso à água potável impacta quase 35 milhões de pessoas e que cerca de 100 milhões de brasileiros não possuem acesso à coleta de esgoto. Dos 9 estados que fazem parte da Amazônia Legal, 7 têm municípios entre os 20 piores da lista do Ranking, sendo 4 somente no Pará. Os dados apontam ainda que somente 51,20% do volume de esgoto gerado é tratado, o que significa que mais de 5,5 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento são despejadas na natureza diariamente.

 

O Ranking tem foco nos 100 maiores municípios do Brasil, mas o problema se estende e pode ser ainda pior para as áreas rurais da Amazônia. “A falta de infraestrutura e recursos torna difícil garantir água potável para todos. Isso pode ser especialmente preocupante em áreas onde a população depende diretamente da água dos rios e lagos locais que podem, além do mais, estar contaminados por atividades humanas como mineração, agricultura e desmatamento”, afirma Fabiana Prado, coordenadora do LIRA / IPÊ – Legado Integrado da Região Amazônica, do Instituto de Pesquisas Ecológicas.

 

A qualidade da água na Amazônia é uma ameaça real para muitas comunidades e povos indígenas que dependem dos rios e riachos para a sua sobrevivência. A tragédia na Terra Indígena Yanomami é um exemplo extremo de como a contaminação da água pode ter impactos graves na saúde humana e na biodiversidade da região. “É importante que sejam implementadas medidas urgentes para coibir atividades ilegais, como a mineração e o desmatamento, e promover a proteção da água e da biodiversidade na região amazônica. O acesso à água potável é um direito fundamental e deve ser garantido para todos, especialmente para as comunidades mais vulneráveis que vivem na região amazônica”, afirma Fabiana Prado.

 

 

 

 

 

Solução possível

 

 

A Fossa Alta Comunitária (FAC) foi criada pelo

Instituto Mamirauá, que hoje faz parte da Rede LIRA / IPÊ, como uma solução para os desafios de tratar o esgoto nas várzeas ou planícies alagáveis do Amazonas. São áreas que correspondem a aproximadamente 307.300 km2 (equivalente a 43 mil campos de futebol) e estão sujeitas a inundação e vazão periódica dos rios, com inundações que duram cinco meses e variação no nível de 12 m.

 

“A FAC ofereceu às famílias ribeirinhas um sanitário para uso com dignidade, privacidade, conforto, e que combate os problemas de saúde relacionados à falta de saneamento”, afirma Fabiana. O sanitário privativo é construído dentro de casa, e o sistema de tratamento é próximo dela, com um sistema de tratamento de esgoto especialmente desenvolvido para as várzeas, projetados para funcionar o ano todo, inclusive durante as cheias dos rios.

 

Sobre o LIRA

 

O LIRA é uma iniciativa idealizada pelo IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, Fundo Amazônia e Fundação Gordon e Betty Moore, parceiros financiadores do projeto. Os parceiros institucionais são a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Amazonas - SEMA-AM e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará – IDEFLOR-Bio. O projeto abrange 34% das áreas protegidas da Amazônia, considerando 20 UCs Federais, 23 UCs Estaduais e 43 Terras Indígenas, nas regiões do Alto Rio Negro, Baixo Rio Negro, Norte do Pará, Xingu, Madeira-Purus e Rondônia-Acre. O objetivo do projeto é promover e ampliar a gestão integrada para a conservação da biodiversidade, a manutenção da paisagem e das funções climáticas e o desenvolvimento socioambiental e cultural de povos e comunidades tradicionais.


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