A Amazônia é uma das regiões mais ricas em hidrografia do planeta, com rios, lagos e aquíferos que formam uma das maiores redes de água doce do mundo. No entanto, apesar da vasta rede hidrográfica da região, a falta de infraestrutura e políticas públicas adequadas deixam muitas comunidades sem acesso a água potável.
O Ranking do Saneamento publicado no dia 20 de março pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com GO Associados, revela que a falta de acesso à água potável impacta quase 35 milhões de pessoas e que cerca de 100 milhões de brasileiros não possuem acesso à coleta de esgoto. Dos 9 estados que fazem parte da Amazônia Legal, 7 têm municípios entre os 20 piores da lista do Ranking, sendo 4 somente no Pará. Os dados apontam ainda que somente 51,20% do volume de esgoto gerado é tratado, o que significa que mais de 5,5 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento são despejadas na natureza diariamente.
O Ranking tem foco nos 100 maiores municípios do Brasil, mas o problema se estende e pode ser ainda pior para as áreas rurais da Amazônia. “A falta de infraestrutura e recursos torna difícil garantir água potável para todos. Isso pode ser especialmente preocupante em áreas onde a população depende diretamente da água dos rios e lagos locais que podem, além do mais, estar contaminados por atividades humanas como mineração, agricultura e desmatamento”, afirma Fabiana Prado, coordenadora do LIRA / IPÊ – Legado Integrado da Região Amazônica, do Instituto de Pesquisas Ecológicas.
A qualidade da água na Amazônia é uma ameaça real para muitas comunidades e povos indígenas que dependem dos rios e riachos para a sua sobrevivência. A tragédia na Terra Indígena Yanomami é um exemplo extremo de como a contaminação da água pode ter impactos graves na saúde humana e na biodiversidade da região. “É importante que sejam implementadas medidas urgentes para coibir atividades ilegais, como a mineração e o desmatamento, e promover a proteção da água e da biodiversidade na região amazônica. O acesso à água potável é um direito fundamental e deve ser garantido para todos, especialmente para as comunidades mais vulneráveis que vivem na região amazônica”, afirma Fabiana Prado.
Solução possível
A Fossa Alta Comunitária (FAC) foi criada pelo
Instituto Mamirauá, que hoje faz parte da Rede LIRA / IPÊ, como uma solução para os desafios de tratar o esgoto nas várzeas ou planícies alagáveis do Amazonas. São áreas que correspondem a aproximadamente 307.300 km2 (equivalente a 43 mil campos de futebol) e estão sujeitas a inundação e vazão periódica dos rios, com inundações que duram cinco meses e variação no nível de 12 m.
“A FAC ofereceu às famílias ribeirinhas um sanitário para uso com dignidade, privacidade, conforto, e que combate os problemas de saúde relacionados à falta de saneamento”, afirma Fabiana. O sanitário privativo é construído dentro de casa, e o sistema de tratamento é próximo dela, com um sistema de tratamento de esgoto especialmente desenvolvido para as várzeas, projetados para funcionar o ano todo, inclusive durante as cheias dos rios.
Sobre o LIRA
O LIRA é uma iniciativa idealizada pelo IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, Fundo Amazônia e Fundação Gordon e Betty Moore, parceiros financiadores do projeto. Os parceiros institucionais são a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Amazonas - SEMA-AM e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará – IDEFLOR-Bio. O projeto abrange 34% das áreas protegidas da Amazônia, considerando 20 UCs Federais, 23 UCs Estaduais e 43 Terras Indígenas, nas regiões do Alto Rio Negro, Baixo Rio Negro, Norte do Pará, Xingu, Madeira-Purus e Rondônia-Acre. O objetivo do projeto é promover e ampliar a gestão integrada para a conservação da biodiversidade, a manutenção da paisagem e das funções climáticas e o desenvolvimento socioambiental e cultural de povos e comunidades tradicionais.