13/03/2023 às 11h15min - Atualizada em 13/03/2023 às 16h05min

Câncer no cérebro geralmente começa no pulmão ou nas mamas

A doença, que já vitimou famosos como Gloria Maria, Marie Fredrikssom, da banda Roxette, e Tom Parker, ex-integrante do grupo The Wanted, atinge cerca de 11,4 mil brasileiros por ano e, quase sempre, está associada a outros cânceres

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As metástases cerebrais, que já encerraram carreiras de grandes artistas, são um tipo de complicação que, geralmente, está associado a outros tumores sólidos, como câncer de pulmão e também de mama. Apesar de manifestar alta incidência nos estágios mais avançados das doenças e ser considerado o décimo tipo de câncer mais comum do Brasil, quando excluídos os cânceres de pele, o câncer no cérebro é ainda pouco comentado.  

Os dados são do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), que avaliam que cerca de 4% das mortes por câncer no Brasil são de pacientes com tumor no cérebro. As pesquisas também apontam que de todos os casos de metástase no país, 25% são de tumores com origem em outras partes do corpo, que se espalham para a região cerebral. 

Em alguns casos, essas metástases cerebrais podem ser a primeira manifestação de um tumor primário desconhecido. Ou seja, muitas vezes, o câncer metastático acaba sendo descoberto primeiro e auxilia na descoberta do tumor originário. 

O que é câncer cerebral e como acontece 

Descrito pelo Inca como um câncer que afeta o sistema nervoso central (SNC), o tumor cerebral pode ser classificado de duas maneiras: 1. primário, quando tem origem nas próprias células cerebrais; 2. secundário, quando surge de metástases de células tumorais originárias de outros órgãos. Dentre os tumores primários que mais frequentemente evoluem com metástases para o sistema nervoso central em adultos, estão: carcinoma broncogênico (principalmente o carcinoma de pequenas células e o adenocarcinoma), o câncer de mama, o carcinoma renal, o melanoma e as neoplasias malignas do trato gastrointestinal. 

"A maioria das metástases cerebrais ocorre por disseminação hematogênica - quando as células tumorais são levadas pelo sangue para outros lugares do corpo, distantes do local primário do tumor. Acontece principalmente pela circulação arterial e, em alguns casos, pode ocorrer pelo sistema venoso por meio do plexo venoso vertebral (plexo de Batson). Elas atingem, preferencialmente, a região de transição córtico-subcortical, que é uma área bem vascularizada, denominada “zona de fronteira” ou de circulação terminal, o que permite que microêmbolos (aglomerados de células tumorais) se estabeleçam nos capilares distais das artérias superficiais", explica Dr. Feres Chaddad, Professor e Chefe da Disciplina de Neurocirurgia da UNIFESP, Chefe da Neurocirurgia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo. " 

Câncer de pulmão e metástases no cérebro 

De acordo com o artigo "Lung Cancer Brain Metastases", publicado no The Cancer Journal, o câncer de pulmão é um dos que têm maior incidência de metástases cerebrais, complicação que pode ser encontrada em até 30% dos pacientes. Um quadro clínico que, mesmo com avanços signficativos em terapias sistêmicas, ainda é associado à morbidade significativa e sobrevida limitada devido ao grau de comprometimento.  

No Brasil, segundo dados de 2020, é considerado o terceiro câncer mais comum em homens e o quarto em mulheres - sem contar o câncer de pele não melanoma. Além disso, é o primeiro em mortes por câncer tanto em homens quanto em mulheres (nas mulheres, empata com o de mama), com uma taxa de mortalidade de cerca de 11,7%. 

"Embora seja relativamente "comum" um tumor desse tipo criar uma via de implante no cérebro, não significa que seja algo fácil. Para se instalar no SNC, as células metastáticas precisam ultrapassar a região hematoencefálica (uma espécie de barreira que trabalha para impedir que substâncias estranhas cheguem ao cérebro). No entanto, quando alcançam essa área, torna-se um indicativo do agravamento do câncer, com um prognóstico que piora em mais de 50%. Devido à alta taxa de mortalidade nesses pacientes, a abordagem terapêutica foca quase inteiramente em melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevida", reforça Feres. 

Câncer de mama e metástases no cérebro 

Depois do câncer pulmonar, o câncer de mama é o segundo maior responsável por metástase cerebral em mulheres. Dados da Pfizer evidenciam que cerca de 30% dos casos de câncer mamário, mesmo detectados no início, se tornam metastáticos.  

O câncer de mama é o tipo que mais acomete mulheres em todo o mundo, tanto em países desenvolvidos como subdesenvolvidos. Estima-se que, anualmente, em média 2,3 milhões de casos novos são diagnosticados no planeta, o que representa cerca de 24,5% de todos os tipos de neoplasias diagnosticadas nas mulheres. Para o Brasil, foram estimados 66.280 casos novos de câncer de mama somente em 2021, com um risco estimado de 61,61 casos a cada 100 mil mulheres. 

Tratamento e acompanhamento neurológico 

"O tratamento de metástases cerebrais depende de uma série de fatores. Tais como: número, localização e tamanho das lesões. Algumas opções terapêuticas são a microcirurgia, radiocirurgia (tratamento com radiação, que queima a lesão), radioterapia do cérebro inteiro (quando há muitas lesões) e associação de tratamentos sistêmicos. Esse tipo de intervenção tem avançado muito ao longo dos anos em termos de imagem, técnica cirúrgica e tecnologia, o que permite que pacientes recebam tratamentos melhores, com menos toxicidade e benefícios mais duradouros", salienta Chaddad.  

Em pacientes com alta taxa de desenvolvimento de células metastáticas, principalmente no cérebro, a avaliação e acompanhamento neurológico ao longo de todo tratamento se mostra como imprescindível. "É importante avaliar os primeiros sinais ou sintomas que um paciente com câncer pode estar desenvolvendo um tumor no cérebro, principalmente que vêm da capacidade cognitiva. Dessa forma, problemas de memória, atenção ou perda frequente de raciocínio podem servir como um indicativo de alerta", explica Feres. 

Mudanças de comportamento, dificuldades para falar, problemas na função motora, fraqueza no corpo e até mesmo convulsões podem outros sintomas mais graves. Porém, o sintoma inicial mais frequente entre os pacientes são as constantes dores de cabeça.  

Sobre Dr. Feres Chaddad 

Feres Chaddad é Professor e Chefe da Disciplina de Neurocirurgia da UNIFESP, Chefe da Neurocirurgia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo - e um dos maiores especialistas em neurocirurgia no país.  É uma referência nacional e internacional no campo da microcirurgia neurológica, com destacada atuação em ensino, pesquisa e prática médica. Atuando como neurocirurgião há mais de duas décadas, tem amplo domínio das mais avançadas técnicas de tratamento de doenças como aneurismas, malformações arteriovenosas cerebrais, cavernomas, epilepsias e tumores que acometem o sistema nervoso. 


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