01/03/2023 às 11h00min - Atualizada em 01/03/2023 às 16h00min

E agora, José? O Carnaval acabou!

Por Luis Fernando Guggenberger

SALA DA NOTÍCIA Luís Fernando Guggenberger
A Quarta-feira de Cinzas inicia o pós-carnaval trazendo para muitos de nós um sentimento tão maravilhosamente transcrito pelo épico poema de Carlos Drummond de Andrade. Para muitos, o vazio, para outros o sentimento que, convenhamos, já está ultrapassado, do “agora sim o Brasil começa a andar”.

O Carnaval para um povo extremamente relacional como o nosso, alegre, festivo e sofrido é um período do ano sagrado, onde muitos aproveitam para descansar, outros para extravasar todo e qualquer sentimento guardado no peito, os bons e os ruins.

Hoje me peguei a refletir sobre uma charge já famosa que muitos aqui devem ter recebido em alguma corrente por e-mail ou pelas mídias sociais, cujo diálogo entre pai e filho consiste no sonho de uma escola pública campeã, quando perguntado qual gostaria de ver levantando o título. Pois é, eu também sonho um dia com esta conquista como muitos de nós brasileiros. O que a charge traz como uma certa infelicidade em sua crítica é descartar o importante papel das escolas de samba em nossa sociedade, afinal não é à toa que recebem a denominação de Escola.

Os desfiles carnavalescos podem e devem ser mostrados para as nossas crianças. Me lembro na minha infância de ter aprendido e continuo aprendendo coisas que a escola tradicional nunca me ensinou. Por sinal, vou aproveitar as palavras do jornalista Rodrigo Bocardi, durante a transmissão do Carnaval de São Paulo, ao relatar sua experiência vivendo por um ano e meio em Angola sobre a noção vaga que temos sobre o continente africano que, para muitos, é exclusivamente um território composto por pessoas pretas. Bocardi lembrou sobre a África dos egípcios, assim como dos marroquinos, argelinos, líbios etc. É um território composto por inúmeras culturas muito distintas e que nós, infelizmente, não aprendemos quase nada sobre ele nos currículos escolares, mas graças ao mundo do samba, podemos saber aquilo que os livros didáticos não nos mostram. São histórias seculares de regiões do nosso planeta e seus povos, pessoas ilustres e desconhecidas que têm papel fundamental na construção de nações, de comunidades e por que não, das próprias agremiações.

Entender o papel das escolas de samba em nossa sociedade vai muito além da festa de cores, luzes e sons que vemos nas avenidas. Inclui também o seu lado sombrio, quando vemos o vínculo de muitas delas com o poder paralelo, como o jogo do bicho (a série sobre Castor de Andrade, patrono de uma importante escola do Rio de Janeiro, está disponível em uma plataforma de streaming). É importante ressaltar o papel social que estas instituições cumprem nas comunidades, como a capacidade de articulação e mobilização conjunta de muitas delas durante o período duro da pandemia de Covid-19, por exemplo. Além de empregar muita gente na chamada Economia Criativa, a qual oferece oportunidades para inúmeras pessoas talentosas viverem da arte, algo tão difícil em nosso país.

Não quero de modo algum alimentar qualquer rivalidade, mas trazer neste texto a possibilidade de percebermos o papel complementar que as escolas de samba podem ter junto à educação pública, unindo a oportunidade de nos aprofundarmos em temas que não conseguimos conhecer e debater nas salas de aula, nos livros didáticos, sobre povos, nações, nossa própria história, assim como trazer uma maneira divertida para o aprendizado das crianças e adolescentes.

E agora, José? A festa acabou, mas que a luz não se acabe, que o povo não suma, mas pelo contrário, que ele aprenda mais e mais sobre si mesmo.

Luís Fernando Guggenberger é executivo de Marketing, Inovação e Sustentabilidade da Vedacit, responsável pela coordenação das iniciativas de Inovação Aberta e Sustentável e pelo Instituto Vedacit. Formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Guarulhos e pós-graduado em Comunicação Empresarial pela Faculdade Cásper Líbero. Sua experiência profissional é marcada pela passagem em fundações empresariais como Fundação Telefônica e Instituto Vivo, além de organizações sociais na cidade de São Paulo. Luis participa do Conselho de Governança do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas e do Conselho Fiscal do ICE – Instituto de Cidadania Empresarial. É mentor de startups de impacto socioambiental.
 
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