23/02/2023 às 19h07min - Atualizada em 24/02/2023 às 00h03min

Instituto Cordial divulga estudo sobre fatores de risco para motociclistas no Brasil

Apoiado pela Uber com base em estudos de caso de Campinas, Fortaleza e São Paulo, estudo propõe ações para reduzir índice de acidentes

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Nos últimos 20 anos, segundo dados de registros de veículos do DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito), houve um crescimento desproporcional no uso de motocicletas no Brasil, com a participação das motos na frota veicular nacional passando de 14,4% para 27,1% no período. Como reflexo, aproximadamente 35,1% dos óbitos decorrentes de sinistros de trânsito no país envolvem condutores de motocicletas. Com o objetivo de levantar as principais causas deste problema de segurança viária, o Instituto Cordial divulga, esta semana, um estudo realizado com apoio da Uber sobre os fatores de risco para motociclistas no Brasil, baseado em análise de caso das cidades de Campinas, Fortaleza e São Paulo.

O objetivo do estudo, que se amparou em literatura internacional e na realidade brasileira, não é encontrar culpados, mas buscar soluções efetivas e sustentáveis que evitem ao máximo a ocorrência de sinistros e que mitiguem as consequências e severidade dos sinistros que, ainda assim, acontecem.

“É preciso mudar o paradigma de que apenas a mudança no comportamento do usuário seria suficiente para melhorar a segurança viária, pois apenas isso se mostrou insuficiente para a redução de sinistros e mortes no trânsito nos últimos anos”, afirma o Diretor de Operações do Instituto Cordial Luis Fernando Villaça Meyer (foto). Segundo ele, é fundamental usar a abordagem de Sistemas Seguros e Visão Zero, que promovem a responsabilidade compartilhada da segurança no trânsito e sugerem uma ação de todos os envolvidos a fim de promover um sistema seguro de mobilidade em que, por exemplo, o planejamento urbano e o desenho viário sejam desenvolvidos para oferecer a capacidade de corrigir eventuais erros; e proteger os usuários quando esses erros não podem ser corrigidos.

Segundo Meyer, o estudo fornece contribuições para a construção de políticas públicas voltadas à segurança viária de motociclistas, bem como orientações para prevenir sinistros com usuários de serviços de transportes de pessoas e produtos em motocicletas, mediados por meio de aplicativos, além de nortear ações de advocacy junto ao poder público.

Perfil dos motociclistas

Enquanto São Paulo tem, aproximadamente, 1,1 milhão de motocicletas, Fortaleza e Campinas possuem na faixa de 330 mil e 125 mil, respectivamente. Quando se avalia a evolução histórica da frota, entre os anos de 2011 e 2021, a taxa de crescimento mais acentuada ocorreu na cidade de São Paulo, seguida por Fortaleza.

Já em relação ao número de motocicletas por 100 mil habitantes, observa-se que Fortaleza é a cidade com maior média (1225), seguida por Campinas (1027) e São Paulo (884). No período de 11 anos, Fortaleza foi a cidade com maior crescimento proporcional, com uma variação de 471 motocicletas por 100 mil habitantes, seguida por São Paulo (222) e Campinas (129). Os crescentes congestionamentos nas cidades brasileiras, junto ao aumento nos preços da gasolina, à tendência de crescimento dos serviços que utilizam motos, são fatores que contribuem para o crescimento do número de motocicletas no país e, consequentemente, para que a pressão sobre a segurança viária desses usuários seja cada vez maior.

Na cidade de Fortaleza, a predominância é de vítimas do sexo masculino (80,93% contra 19,07% do sexo feminino). Quanto às faixas etárias, 45.66% dos condutores de motocicletas envolvidos em sinistros possuem de 31 a 50 anos. Porém, entre as vítimas de sinistros com motocicletas, incluindo passageiros e ocupantes de outros veículos envolvidos no sinistro, 50% está na faixa dos 51 anos ou mais. Portanto, a faixa de idade dos condutores de motocicleta envolvidos em sinistros não necessariamente coincide com a faixa de idade das vítimas envolvidas naqueles mesmos sinistros. Outro dado preocupante é que aproximadamente 1% dos condutores de motocicleta envolvidos em sinistros possuía menos de 18 anos, o que significa que estavam conduzindo sem habilitação.

Já em São Paulo, a grande maioria das vítimas envolvidas em sinistros com motocicleta são do sexo masculino (82,60%) e são os próprios condutores do veículo (75,78%). Apenas 17,40% são do sexo feminino, 12,72% são passageiros e 11,50% são pedestres. A faixa etária com o maior número de vítimas é a dos 18 aos 30 anos (48,23%), seguida pela faixa dos 31 aos 50 anos de idade (39,14%). Por limitações na base de dados, não foi possível obter as características das vítimas que moram na cidade de Campinas.

Causa dos sinistros de trânsito
O estudo também apontou que a principal causa dos sinistros viários é a colisão. Nas três cidades pesquisadas é o principal motivo, sendo (75,06%) em Fortaleza, (69,57%) em São Paulo e (59,76%) em Campinas. Em São Paulo, o atropelamento foi a segunda principal causa de sinistros com (11,17%) contra (6,31%) em Fortaleza. Já a queda é o segundo causador de sinistros em Fortaleza (16,34%) contra (11,6%) em São Paulo.

Em São Paulo, o tipo de veículo mais comum de se envolver em um sinistro com motocicleta é o carro (71,39%), uma justificativa talvez seja a conflituosa relação dos motociclistas com os motoristas. E 21,25% dos sinistros ocorrem apenas com motocicletas.
Ao realizar o mesmo recorte na cidade de Fortaleza, observa-se que, em 57,59% dos casos, automóveis estão envolvidos. Em 38,55% dos sinistros estão envolvidos apenas motocicletas. Já em Campinas a maioria dos sinistros com motocicletas também envolve outros automóveis (53,92%) ou apenas motocicletas (34,14%).

Apesar da maioria dos sinistros terem ocorrido à luz do dia, os mais graves foram durante a madrugada, à noite e ao amanhecer. O estudo também apontou que vias expressas e arteriais tendem a ter mais sinistros fatais e graves, o que talvez seja explicado pela maior velocidade desenvolvida nesses locais. Além disso, “Um dos pontos de reflexão é que devido ao cansaço, sonolência ou até a maior tendência ao consumo de álcool e drogas e por número menor de veículos na via, os motociclistas acabam abusando da velocidade”, apontou o Diretor de Operações do Instituto Cordial, Luis Fernando Villaça Meyer.

Outro fator apontado no estudo são as condições climáticas, como pista molhada, que também contribuem para sinistros de trânsito fatais e mais graves do que nas demais condições de clima. O levantamento apontou ainda que o comportamento de risco dos motociclistas e a falta de respeito às leis de trânsito e visibilidade do motorista foram os fatores que mais contribuíram.

O baixo uso do vestuário de proteção está associado com maior frequência de fraturas de membros inferiores e superiores, e mostra a falta de percepção dos riscos. Além disso, identificou-se que o tempo que se passa pilotando, mantendo a atenção e descansado, é menos importante do que a qualidade da direção, uma vez que, apesar dos motofretistas estarem mais expostos (pilotarem em torno de oito horas por dia, enquanto os motociclistas, em geral, pilotam duas horas), possivelmente são condutores mais experientes.

A conclusão do estudo do Instituto Cordial aponta para boas práticas, recomendações e agenda de ações para melhorar a segurança viária para motociclistas. “Mapeamos ações que devem ser adotadas pelos setores responsáveis, sejam eles para os motociclistas, melhorias de engenharia, fiscalização e monitoramento, empresas privadas que contratam os serviços, campanhas de educação e conscientização, além de normas, leis e ações do poder público para a diminuição do número de vítimas, sejam elas fatais ou não, e a redução do número de sinistros”, afirma Luis Fernando.

Metodologia - O estudo valeu-se de extensa revisão bibliográfica sobre os fatores de risco e medidas eficazes para a redução de sinistros envolvendo motociclista, processamento e análise de dados de sinistros por motocicleta nas três cidades brasileiras e sumarização de debates promovidos pelo Instituto Cordial com atores-chaves do setor.

Foram identificados fatores de risco que são modificáveis e não modificáveis relacionados não apenas aos usuários, mas também ao ambiente urbano, veículo e atuação de entidades como governo e empresas privadas. Os resultados da análise dos dados confirmaram que grande parte dos fatores de risco mencionados na literatura internacional, aparentemente, também estão presentes na realidade brasileira. Por fim, enumerou-se um conjunto de ações a serem tomadas para mitigar os fatores de risco e melhorar a segurança viária para motociclistas como um todo no Brasil.

Luis Fernando lembra que o estudo ainda resume debates promovidos pelo Instituto Cordial com atores-chaves do setor, especificamente, uma oficina e uma mesa-redonda com convidados-chaves de diferentes áreas. “Isso porque acreditamos que se tivéssemos uma abordagem apenas quantitativa ou muito concentrada na literatura internacional, alguns detalhes importantes relacionados aos fatores de risco envolvendo os motociclistas brasileiros poderiam ser deixados de lado.

O estudo está dividido em seis seções, além da apresentação e introdução: revisão da literatura – com uma seção sobre os fatores de risco associados a sinistros por motocicleta, que contempla a literatura geral sobre o tema, e outra parte dedicada a estudos produzidos, que abordam a realidade brasileira; relatorias da oficina e da mesa-redonda, realizadas com especialistas na temática, com um resumo dos principais pontos de discussão e lições aprendidas nos eventos. Na sequência é apresentada a descrição dos dados e da metodologia utilizada na parte quantitativa do estudo e os resultados encontrados na análise e no processamento dos dados. Por fim, é feita a apresentação das possíveis agendas de ação, boas práticas e intervenções a serem fomentadas para manejar e reduzir os fatores de risco associados aos motociclistas no Brasil.
 
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