26/01/2023 às 10h34min - Atualizada em 27/01/2023 às 04h05min

Sonolência excessiva diurna: privação de sono pode não ser a única causa do problema

Distúrbios de sono como apneia obstrutiva do sono, insônia e narcolepsia podem estar por trás do desejo exacerbado de dormir durante o dia, ressalta o biomédico Guilherme Luiz Fernandes, pesquisador do Instituto do Sono.

SALA DA NOTÍCIA Nora Ferreira
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Divulgação
Estudos1 revelam que entre 5% e 30% da população ao redor do mundo apresentam queixas de sonolência diurna excessiva. O Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo (Episono)2, conduzido pelo Instituto do Sono na cidade de São Paulo, aponta que esta proporção é de 9% na capital paulista. Boa parte das vezes a forte vontade de dormir durante o dia pode ser atribuída à privação de sono. Mas, esta pode não ser a única causa. “Este tipo de sonolência é um sintoma associado a condições de saúde como algumas doenças crônicas, transtornos psiquiátricos, obesidade e distúrbios de sono”, afirma o biomédico Guilherme Luiz Fernandes, pesquisador do Instituto do Sono. Aluno de Doutorado do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ele estuda o tema sob orientação da Dra. Monica L. Andersen, Diretora de Ensino e Pesquisa do Instituto do Sono e Professora Livre-docente do Departamento de Psicobiologia.

A sensação de sono exacerbado no período diurno pode ter uma série de consequências como o risco aumentado para acidentes, perda de produtividade e comprometimento de funções cognitivas, principalmente aquelas que dependem de concentração e atenção. “Caso tenha um ataque repentino de sono, a pessoa pode, por exemplo, perder o controle da direção do carro. Dormir ao volante é uma das principais causas de acidentes, inclusive letais”, explica o biomédico.
 Um estudo3 realizado pela Universidade de Dundee, na Escócia, concluiu que pessoas privadas de sono por 24 horas tiveram desempenho pior ao volante do que os motoristas que apresentaram o limite de álcool no sangue permitido pela lei escocesa (50 mg de álcool por 100 ml de sangue).

Sonolência diurna excessiva
Nem sempre ficar sonolento durante o dia é sinal de doença, principalmente quando a pessoa dormiu pouco na noite anterior. “A sonolência ocasionada pela falta de sono é normal, mas pode se tornar um problema se for excessiva”, pondera o biomédico Guilherme Luiz Fernandes.  Essa forma de sonolência se caracteriza pela dificuldade de se manter acordado durante o dia, associado à vontade de dormir.

Entre os distúrbios de sono que podem causar sonolência excessiva diurna está a apneia obstrutiva do sono, causada pela oclusão das vias aéreas superiores durante o sono, que provoca a cessão total ou parcial do fluxo de ar e a fragmentação de sono. Além das pausas na respiração, a pessoa pode roncar, sofrer engasgos, respirar de boca aberta, acordar com frequência e ter sono inquieto. O quadro pode levar o indivíduo a sentir necessidade de cochilar a qualquer hora do dia. De acordo com o Episono2, o distúrbio de sono acomete 33% dos paulistanos.

O papel da apneia obstrutiva do sono na dificuldade de o motorista permanecer alerta na direção do veículo e no risco aumentado para acidentes tem sido reconhecido pela literatura médica. Um estudo4 realizado na Islândia, envolvendo 822 pacientes com apneia obstrutiva do sono moderada a grave, mostrou que o distúrbio não tratado eleva o risco de acidentes automobilísticos em 1,5 a 2,5 vezes em comparação à população geral.

A insônia é outro distúrbio de sono associado ao desejo exacerbado de dormir de dia. Ela se caracteriza pela dificuldade para iniciar ou manter o sono ou ainda despertar precoce pela manhã. Frequentemente, os insones relatam que o sono não é satisfatório e que apresentam prejuízo no seu desempenho durante o dia. A dificuldade de dormir ou insônia são queixas de 45% dos paulistanos, conforme revela o Episono2. De acordo com esta pesquisa, 15% dos entrevistados relataram ter insônia crônica.

A vontade incontrolável de dormir é uma das características na narcolepsia, um distúrbio de sono neurológico de origem complexa, envolvendo genética, imunidade e fatores ambientais. Segundo o biomédico Guilherme Luiz Fernandes, a doença resulta do comprometimento dos neurônios que secretam orexina, um neurotransmissor que regula a vigília e o apetite. A enfermidade provoca ainda ataques de sono, alucinações, sono noturno interrompido e cataplexia - episódios repentinos de perda do tônus muscular desencadeada por emoções repentinas como o riso ou surpresa.

Dicas para evitar a sonolência diurna
O biomédico Guilherme Luiz Fernandes ensina que, para se manter acordada e alerta durante o dia, a pessoa precisa conhecer sua real necessidade de sono. “Frequentemente achamos que dormir 8 horas por noite é suficiente. Só que, às vezes, o organismo de algumas pessoas demanda mais horas de sono. Se por algum motivo essa necessidade não é atendida, surge a vontade de cochilar”, observa. A qualidade de sono também precisa ser avaliada. Pessoas que não dormem bem à noite tendem a passar o dia sonolentas.

A Escala de Sono de Epworth é um dos métodos existentes para mostrar se o paciente com sonolência diurna excessiva e precisa de acompanhamento médico. De forma simples, o método propõe situações cotidianas, sobre as quais o paciente determina, em uma escala de 0 a 3, a possibilidade de adormecer. De acordo com o resultado, o médico pode solicitar exames e testes para avaliar se o paciente possui distúrbios de sono ou outras condições que impactam o seu descanso. A Escala de Sono Epworth está disponível no portal do Instituto do Sono. Para acessar, clique aqui.

A higiene do sono é uma maneira de diminuir a dificuldade de a pessoa permanecer acordado no período diurno. Trata-se de um conjunto de regras e práticas que buscam preparar e treinar o organismo para que o horário de dormir seja prazeroso e relaxante. Esta prática compreende hábitos como horários regulares para deitar e levantar da cama e evitar telas de aparelhos eletrônicos, bebidas estimulantes e atividade física próximo ao horário de dormir.


Referências
  1. Jingen Li et al. Sonolência Diurna Excessiva e Mortalidade Cardiovascular em Adultos dos EUA: Um Estudo de Acompanhamento NHANES 2005–2008. Nat Sci Sleep. 2021; 13: 1049-1059.
  2. Instituto do Sono.
  3. Lowrie J. O impacto da privação de sono e do álcool na direção: um estudo comparativo. Saúde Pública BMC. 2020;20(1):980.
  4. Sim, L. et al. As diferentes faces clínicas da apneia obstrutiva do sono: uma análise de agrupamento. EUR. Respire J. 2014 , 44 , 1600-1607.
Sobre o Instituto do Sono
O Instituto do Sono é um centro de referência mundial em pesquisa, diagnóstico e tratamento em distúrbios de sono. Fundado em 1992 pelo Professor Sergio Tufik, é formado atualmente por mais de 100 colaboradores, entre eles médicos de diversas especialidades, técnicos, psicólogos, biólogos, biomédicos, dentistas, assistentes sociais, enfermeiras, fisioterapeutas, educadores físicos e pesquisadores. Além do atendimento à população, conta com uma área de educação continuada que já capacitou mais de 4.000 profissionais de saúde.

O Instituto do Sono faz parte da AFIP (Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa), uma instituição privada, sem fins lucrativos e filantrópica, fundada por profissionais da área da saúde, professores universitários e pesquisadores há mais de 40 anos. Seu objetivo é fornecer suporte financeiro para atividades de docência, pesquisa científica e atendimento médico à população.

 
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