23/06/2022 às 18h35min - Atualizada em 23/06/2022 às 18h32min

A Neurocirurgia a favor de demandas como a dor na coluna

Samantha di Khali
Dr. Pedro Deja
Quem não sofre com dores na coluna? Esse problema está cada vez mais comum entre as pessoas de todas as idades. Há algum tempo atrás fortes dores na coluna era para pessoas com mais idade, hoje jovens já sofrem por esse problema que nos tira o sono, sem contar que é complicadíssimo lidar com fortes dores na coluna o dia inteiro. Em uma entrevista com o Dr. Pedro Deja que é neurocirurgião pude ter algumas informações importantíssimas sobre esse problema que atinge grande camada da população. Para começar nossa conversa antes precisava muito saber exatamente em que área da saúde um Neurocirurgião pode ajudar as pessoas em um modo geral.
 
Entrevista com Dr. Pedro Deja:
A Neurocirurgia é uma especialidade muito abrangente. Há 7 grandes subespecialidades: (1) o trauma (crânio e coluna); (2) a neurocirurgia vascular (AVC); (3) os tumores do sistema nervoso central (crânio e coluna); (4) a neurocirurgia funcional (epilepsia, distúrbios do movimento e dor); (5) a coluna (doenças degenerativas); (6) nervos periféricos (Síndrome do Túnel do Carpo, por exemplo) e (7) a neurocirurgia pediátrica (malformações do tubo neural, hidrocefalia, cranioestenose).
O neurocirurgião é o único especialista que trata de doenças em todo o organismo.
 
- Quais tipos de dor na Coluna a Neurocirurgia pode solucionar?  Como?
A dor causada por problemas na coluna é, em 90% dos casos, resultado do processo de “desgaste” que a coluna sofre, relacionado a exposição à atividades que geram muita sobrecarga mecânica.
Essa sobrecarga modifica a anatomia da coluna, gerando a desidratação ou ruptura dos discos (estruturas cartilaginosas que se interpõem entre os seus ossos), além de causar outras alterações que vão aos poucos diminuindo o diâmetro do seu canal central (onde está a medula espinhal) e dos orifícios por onde saem às raízes dos nervos que vão para os braços e para as pernas.
Assim, por exemplo, diante da redução do(s) orifício(s) por onde saem as raízes do nervo Ciático, seja em razão de uma hérnia de disco, seja em razão das outras alterações degenerativas que se formam ao redor do canal medular, tem-se a famosa “DOR CIÁTICA”.
É importante dizer que há outras doenças que acometem a coluna vertebral e que podem causar dor, como tumores, doenças vasculares, infecções ou o próprio trauma.
 
-Como identificar se preciso ir ao neurocirurgião?
Deve-se ir ao neurocirurgião quando sintomas como dor de cabeça (também chamada de cefaléia) e dor nas costas (incluindo-se aqui dores cervicais, dorsais, lombares, sacrais e coccígeas) se tornam persistentes ou pioram de forma progressiva, gerando limitações cada vez mais importantes, até a completa perda funcional.
As dores são os sintomas mais comuns em qualquer serviço de neurocirurgia, mas outros sintomas pode estar relacionados a doenças do sistema nervoso, como tonturas, vertigem, perda ou diminuição de audição e visão, perda de força em um, dois ou nos 4 membros, dor associada a formigamentos ou “choques” (…e alteração de força) nos braços e nas pernas, alterações de comportamento refratárias aos tratamentos psiquiátricos, crises convulsivas, tremores, rigidez, alteração de marcha, incontinência urinária (principalmente em pacientes idosos e associada a distúrbios cognitivos como perda ou alteração da memória, confusão ou dificuldades de raciocínio).
Uma informação muito relevante e que pode salvar muitas vidas é a atenção precoce à dor de cabeça de natureza aguda, de forte intensidade (descrita como uma “explosão na cabeça”) e normalmente associada a alteração da consciência, o que pode estar associado a um acidente vascular cerebral hemorrágico (AVC-H), mais comumente ligado à presença de um aneurisma ou uma malformação artério-venosa cerebral (MAV).
 
-Quais são os procedimentos mais assertivos para o tratamento da dor na coluna?
Existem diversos tratamentos para a dor nas costas.
Algo também muito relevante é a informação de que quase 90% dos problemas na coluna (aqueles de natureza degenerativa - o famoso “desgaste”) podem ser tratados com medidas muito simples como a prática diária de atividades físicas bem orientadas, mudanças na alimentação, perda de peso e o tratamento fisioterapêutico.
Os pacientes que não apresentam melhora significativa com esses medidas simples, o que depende muito da conscientização por parte dele e da família, podem se beneficiar de procedimentos ditos “minimamente invasivos”, como bloqueios e infiltrações.
Já os pacientes que não apresentam melhora significativa com qualquer uma dessas técnicas de tratamento, e somente esses, podem ter indicação de tratamento cirúrgico.
Vale ressaltar aqui que hoje o cirurgião de coluna dispõe de uma série de técnicas, também chamadas de “minimamente invasivas”, para o tratamento cirúrgico, com pequenas incisões, mínima perda de sangue e alta hospitalar precoce.
Há, obviamente, técnicas mais invasivas e complexas para o tratamento de condições mais graves e a avaliação criteriosa do neurocirurgião é fundamental para definí-las, no momento adequado, com excelentes resultados quando bem executadas.
 
- Eles são indicados apenas para "último caso"?
Sim. Nós, os neurocirurgiões, acostumamos a dizer que somos “o fim da linha”, quando nenhum outro tratamento menos invasivo gerou resultados satisfatórios.
Um detalhe importante é que, uma vez respeitada a hierarquização das tipos de tratamento, partindo sempre dos mais simples e seguindo em direção aos procedimentos mais invasivos e complexos, com boa indicação e execusão, o resultado é sempre muito bom.
A “má fama”, por assim dizer, que as cirurgias de coluna sempre tiveram, não está relacionada a outras coisas, senão à indicações equivocadas ou mal executadas.
É bastante comum ouvir dos pacientes a seguinte frase: “Dr. ME ARREPENDO DE NÃO TER FEITO A CIRURGIA ANTES”, condenando a si mesmo a uma vida cheia de limitações.
 
- Muitas pessoas passaram e se queixar de dor na coluna após a infecção por COVID. Qual a relação? Você considera que a neurocirurgia pode ajudar nesses casos?
O aumento do número de casos de “dor na coluna” durante a pandemia se deve a alguns fatores.
O primeiro e mais importante foi o fato de que todos nós fomos obrigados a manter distância uns dos outros, aumentando o sedentarismo ou diminuindo, para não dizer “interrompendo” as atividades físicas, tão importantes para o fortalecimento e controle do peso corporal.
Outro fator relevante diz respeito ao grau de “improvisação” dos nossos “escritórios caseiros”, normalmente associados com cadeiras e posturas inadequadas.
Além disso, outro fator também observado durante a pandemia são as consequências psicológicas do isolamento social. A dor tem um componente FÍSICO, processado por uma área do cérebro chamado de córtex somestésico, e um componente AFETIVO (por exemplo, a RAIVA que sentimos ao chutar o pé da mesa, machucando normalmente o dedo mínimo, representa esse componente AFETIVO da dor), processado por uma área do cérebro ligada às emoções (giro do Cíngulo anterior). Curiosamente, esta é a área do cérebro que também processa os mais diferentes tipos de situações caracterizadas pela REJEIÇÃO, como o cuidado parental insuficiente na infância, o próprio bullying ou o assédio moral no emprego.
O isolamento social, tomado “ao pé da letra”, representa, para o cérebro, outra forma de rejeição, impondo características psicossomáticas à dor.
 
- Além da dor na coluna, quais outros problemas mais comuns a neurocirurgia soluciona?
Como dito anteriormente, a neurocirurgia é uma especialidade médica muito abrangente.
As 7 grandes subespecialidades neurocirúrgicas se responsabilizam pelo tratamento de diversas doenças graves.
Os aneurismas cerebrais, por exemplo, e as malformações artério-venosas representam um grave risco à vida do paciente e devem ser tratados em todos os casos, seja através de uma cirurgia para clipagem do aneurisma ou através de uma técnica denominada “embolização”, em que uma espécie de “mola” é colocada dentro do aneurisma por cateterização, isolando-o em relação à circulação sanguínea dos vasos cerebrais.
Outros exemplos de doenças comuns e que devem ser tratados pelo neurocirurgião são os tumores do sistema nervoso (no cérebro e na medula espinhal), as epilepsias refratárias ao uso de anticonvulsivantes; os distúrbios do movimento como a Doença de Parkinson, também refratária ao uso de medicamentos; os traumatismos de alto impacto com danos severos ao sistema nervoso, normalmente associados com hematomas ao redor ou dentro do cérebro; a hidrocefalia, em que ocorre um acúmulo de líquido dentro de espaços que temos no cérebro chamados de ventrículos e que podem levar ao óbito rapidamente, caso não seja diagnosticada e tratada no tempo certo, seja através da colocação de um sistema de drenagem deste líquido em excesso, seja através de uma técnica denominada terceira ventriculostomia ENDOSCÓPICA. Nestes casos, assim como nas cirurgias vídeo-laparoscópicas, tão comuns hoje em dia, se utiliza um sistema de vídeo em que uma câmera é introduzida no cérebro e, com um cateter, é feita uma pequena abertura para se comunicar “compartimentos” distintos, estabelecendo uma nova “rota” de drenagem para o líquido que é produzido de forma contínua (500 ml/dia em um adulto) dentro dos ventrículos e precisar ser constantemente renovado. Estes são apenas alguns exemplos.
 
- Toda dor de cabeça forte necessita de uma neurocirurgia?
A dor de cabeça com essas características pode como dito, representar uma hemorragia cerebral associada à presença de um aneurisma ou de uma MAV ou à presença de um tumor.
Entretanto, há situações em que a dor de cabeça É A PRÓPRIA DOENÇA, como no caso da enxaqueca.
Há uma série de situações em que a dor de cabeça é APENAS UM SINTOMA DE UMA DOENÇA, como no caso de hemorragias cerebrais e até mesmos de infecções virais como a COVID, a gripe, um resfriado comum.
Entretanto, como já mencionado, a enxaqueca, a cefaléia “em salvas” ou a cefaléia do tipo tensionai (CTT), esta última muito associada aos problemas da coluna cervical, representam A PRÓPRIA DOENÇA, não representando apenas sintomas de outras condições.
Obviamente, aquela dor de cabeça de forte intensidade associada à ruptura de um aneurisma cerebral ou à presença de um tumor, precisa ser tratada cirurgicamente, seja através de uma craniotomia para clipagem do aneurisma ou para exérese do tumor, seja através da embolização no caso dos aneurismas.
 
- Você também atende crianças, certo? Em quais demandas? Pode falar um pouco pra gente?
Vamos lá.
Essa é uma área para a qual eu mais me dediquei durante os muitos anos de formação acadêmica e pela qual eu tenho um especial interesse.
Em primeiro lugar, é importante dizer que as doenças neurológicas em crianças são bastante distintas das doenças neurológicas em adultos.
Nesta subespecialidade da neurocirurgia, nos deparamos com as malformações do sistema nervoso como, por exemplo, os disrafismos espinhais ou malformações do fechamento do tubo neural.
Entre estas malformações se destaca a mielomeningocele, diagnosticada ainda durante a gravidez e normalmente associada a uma outra malformação denominada de Síndrome de Arnauld-Chiari e a hidrocefalia.
Outro problema que acomete crianças recém-nascidas é a cranioestenose, doença caracterizada pelo fechamento precoce dos espaços que existem entre os ossos do crânio do bebê.
A depender de qual desses espaços se fecha precocemente, o crânio assume uma forma alongada no sentido ântero-posterior, em quilha (escafocefalia), um formato em torre (turri ou braquicefalia), um formato triangular (TRIGONOCEFALIA) ou escoliótico (plagiocefalia).
A correção destas várias formas de cranioestenose é cirúrgica, deve ser feita de preferência nos 100 primeiros dias de vida e pode passar pelo avanço do terço superior da face no caso da plagiocefalia, da braquicefalia e da trigonocefalia, especialmente a relacionada a síndromes específicas (Apert e Crouzon).
Além disso, é na neurocirurgia pediátrica que encontramos a maior incidência de casos de hidrocefalia, com as suas diversas formas de tratamento, como mencionado.
Além disso, os tumores do sistema nervoso mais comuns em crianças localizam-se em regiões diferentes daqueles mais comuns em adultos, apresentam um curso clínico também diferente e podem estar presentes já ao nascimento, quando são bastante indiferenciados e têm prognóstico muito reservado.
 
- Quais conselhos você pode deixar para quem vai procurar essa especialidade como paciente?
Essa é uma excelente pergunta.
Primeiro, é preciso dizer que a neurologia é uma especialidade médica e a neurocirurgia é OUTRA especialidade.
Até mesmo colegas médicos, ao encaminhar seus pacientes para avaliação, os orientam a procurar por um “neuro”, sem especificar se a avaliação deverá ser feita por neurologista ou por um neurocirurgião.
É bastante frequente neurocirurgiões atenderem pacientes que foram encaminhados para avaliação de um “neuro”, sendo portadores, por exemplo, de doenças como a enxaqueca, a qual não tem qualquer indicação de tratamento cirúrgico.
Ao procurar um médico desta área, o paciente deve ser orientado corretamente.
Além disso, como já dissemos, a presença de sintomas como dor de cabeça de forte intensidade, diária, resistente aos tratamentos medicamentosos e associada a outros sintomas como alteração da acuidade visual ou auditiva deve ser avaliada através de um exame físico bem feito e exames de imagem que definam o diagnóstico.
Hoje em dia fala-se muito em prevenção.
Pacientes que tem histórico na família de aneurismas cerebrais ou pacientes portadoras de ovário policístico devem fazer a angiografia cerebral para descartar a presença desse problema, antes que ele cause estragos maiores.
 
Dr. Pedro Deja
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