12/09/2014 às 09h29min - Atualizada em 12/09/2014 às 09h29min

Tchella

Atriz , Cantora e Compositora

Thiago Santos

 Thiago Santos: No mural da gratidão o que a  “ Mãe Arte”  representa para você?

 Tchella: A "Mãe Arte" representa a minha vida! Nasci artista, e toda a minha existência se desenvolveu e conspira em torno, em prol e à favor da arte. Minhas escolhas, as muitas amizades, as grandes lições de vida, minha formação como ser humano, minha educação, meu comportamento diante da sociedade e até da minha família está permeado pela arte. Respiro, transpiro, me inspiro, suspiro e piro na arte! Minha gratidão a ela é imensa e eterna.

 

 O apoio dos seus pais e também da sua irmã cooperaram para que você se torna-se indestrutível é imbatível diante aos desafios enfrentados ao longo de sua carreira?

 Com certeza! Como disse, creio que nasci artista (predestinada a arte) e o apoio de meus pais começou ainda na primeira infância: lembro que aos 2 anos ganhei meu primeiro pianinho! Meus pais me perceberam, estimularam, incentivaram, apoiaram moral e financeiramente, e me aplaudiram sempre!  Também penduraria a sensibilidade do meu pai, a força e determinação da minha mãe e a parceria da minha irmã no mural da gratidão! Minha origem é simples, nasci no Parque Peruche – Zona Norte de São Paulo. Decidi, neste bairro, ser uma atriz profissional aos 11 anos de idade e mesmo não entendendo nada disso, pois não venho de uma família de artistas, meus pais e irmã percorreram esta trajetória e aventura comigo, sempre!

 Hoje percebo essa força artística que tenho, mas não poderia ser diferente: venho de uma família guerreira há gerações: meus avós eram europeus imigrantes; e nortista e nordestina migrantes na grande São Paulo. Todos abandonaram suas raízes em busca de uma vida melhor. Assim, meus pais também estudaram e fizeram faculdade sob condições difíceis, muitas vezes apenas com o dinheiro da passagem e contado. Mas resistiram e transmitiram essa força e determinação para mim e minha irmã; e nos facilitaram, o quanto puderam, acesso a uma educação e cultura de qualidade. Além de nos ensinar a respeitar o próximo independentemente de sua raça, cor, credo, crenças, opção sexual ou grau de instrução. Dentre muitos outros valores, eu convivi com dois sonhadores, que tiveram força e coragem para concretizarem seus sonhos. Assim, eu aprendi pelo exemplo, e o apoio para que eu seguisse meus sonhos (o que começou muito cedo) foi integral.

 Assim, pude construir uma base emocional forte, pois no meu trabalho eu dependo integralmente de mim: meu corpo, minha voz, minha mente, minhas emoções. E, como dizem na minha família, eu sou uma Brita! E as Britas são mulheres fortes, porretas!

 

 O que a mulher Tchella, diria para si mesma, se o assunto em pauta fosse todas as suas escolhas feitas em prol da arte?

 Parafraseando Clarice Lispector: “Se eu fosse eu...”, eu sorriria muito e me emocionaria muito. E agradeceria imensamente por tudo o que eu me ofereci durante esta trajetória, que não foi só bela e fácil, pois todas as dificuldades, as ofensas, as injúrias, as raivas, as humilhações, os sofrimentos, as maledicências e as pedras neste caminho também me trouxeram até aqui, assim como as glórias, os aplausos, as belezas, e as jóias que reconheci por aí. Então é este equilíbrio entre o que acontece de bom e não tão bom, que determina as minhas escolhas e fortalece a minha persistência. Porque há muita certeza de que é na arte a minha missão aqui nesta vida, e tenho a consciência da minha responsabilidade com esta escolha.

 Hoje, eu também me parabenizaria  por me permitir ser menos crítica comigo mesma e reconhecer o valor das minhas competências, assim como reconheço o muito que ainda preciso aprender e aprimorar! A arte é muito antiga, as técnicas, conceitos e práticas são infinitas. Mas eu sou finita!

 

 O ser humano. Ou seja, todos os seres humanos são capazes de ser, aquilo que venham escolher e um dos caminhos  para tal realização se encontra nos estudos. Nos fale o que você pensa a respeito.

 Eu gosto de me aprofundar no que me interessa. E descobri o que me interessava muito nova. Então, dei um salto de cabeça, numa água fria de um oceano gigantesco. E insisti em nadar e me movimentar, assim o meu corpo aqueceu e a energia se expandiu... Poesia à parte, eu acredito que estudar é a melhor maneira de “ser-se o que se é” – novamente Clarice Lispector.

 A arte é uma ciência e muito antiga, existem milhares de técnicas, conceitos, teorias e práticas e se eu escolho representá-la eu preciso me envolver em sua história.  Por isso estudei e me formei em: Música (Conservatório Simalha), Teatro (Bacharel em Ed. Artística com habilitação em Artes Cênicas, pela Universidade São Judas Tadeu), Dança (Jazz Clássico e Contemporâneo) e Circo (Academia Brasileira de Circo e Escola Livre de Teatro de Santo André), ao longo da minha carreira.

 Comecei cedo, aos 11 anos iniciei meus estudos no instrumento teclado e em teoria musical; aos 12 iniciei no teatro e, na época, minha diretora e vizinha, Thais Aguiar, me disse algo que nunca esqueci: “Se você quer ser uma boa atriz, estude todas as artes que puder!”. Segui este conselho com muita determinação! Me joguei, fiz curso de jazz, fiz teatro na escola-de-samba, aulas de circo aéreo e acrobacia, artesanato, etc... Até que ingressei na Universidade São Judas Tadeu, aos 17 anos e desde o primeiro ano que trabalhei em grupos amadores de teatro e até vendendo pipoca no circo, que rendia pouco dinheiro, mas eu assistia todos os dias os Parlapatões e a Cia Pia Fraus, e aprendia muito com eles.  Aos 18 anos ingressei no primeiro grupo profissional de teatro. O trabalho (árduo) e diário das 9h às 18h como atriz e algumas vezes técnica de luz e som, me garantiu a bolsa integral para continuar meus estudos no curso de Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas, que conclui em 2008, aos 20 anos. Não parei. Voltei a estudar Jazz e Dança Contemporânea e iniciei a formação no Núcleo Circense da Escola Livre de Teatro de Santo André (E.L.T.). No ano seguinte, aos 21 anos comecei a trabalhar no Núcleo Pavanelli de Teatro de Rua e Circo, que me ensinou muito sobre a prática e política cultural na sociedade brasileira. Conheci o Brasil em sua  cultura popular:  as festas, as tradições as brincadeiras e os brincantes.

 Segui a estudar música e canto coral, canto popular e um pouco do lírico. Também estudei cinema e interpretação para câmera, pois isso não cheguei a conhecer na universidade. E muito também estudei só, em minha casa horas e horas  no meu teclado, fazendo vocalizes , escalas e acordes no violão; estudando textos, gestos e impostações. Estudei na rua: corpos, presenças, pessoas que são perfeitos personagens. Estudar é eterno e é intrínseco a arte que escolho oferecer a meu público e a esta sociedade! E sempre que alguém vier me perguntar: “Como faço para tirar meu DRT” vou responder: Estude! Seja original, capte os ensinamentos e conhecimentos e faça você a sua própria arte!

 

 O canto tem o poder de amenizar e muitas das vezes curar as dores na alma do ouvinte?

 Não só o canto, mas a arte tem esse poder. A arte é uma questão de saúde pública! É um poderoso agente de transformação das realidades, mentalidades e referências culturais e sociais, pois ela ultrapassa os limites do entendimento racional e afeta o ser humano no campo sensorial, através de suas formas, cores, movimentos, texturas, combinações, frequências, conjuntos e regras. Ultrapassando conteúdos didáticos e receitas tarja preta,  a arte é ferramenta de desenvolvimento físico, psíquico, emocional e social , que possibilita novas perspectivas para enxergar o mundo de que nos circunda; além de ensinar, praticamente, lições de convivência e relação com o coletivo, o imaginário, o corpo, a cidadania e a vida.

 Acho que cantando, as notas, que emito com emoção geram uma frequência que vibra no corpo do ouvinte.  E dependendo da música que estou cantando posso provocar diversas emoções. Mas o que tenho percebido, e até acho graça, é que, mesmo falando de raiva e sofrimento em alguma música, gero sempre uma certa admiração pela maneira como conduzo minhas habilidades e qualidades vocais, isso é a beleza da arte. A beleza é um remédio fortíssimo para a cura. Não estou falando da beleza estética, falo da beleza genuína da arte.

 

 O que um historiador escreveria a seu respeito num livro a qual se perpetuará por toda a eternidade?

 Respeitável público, estava escrito nas estrelas que mais uma estrela nasceria para abrilhantar a vida dos seres terrenos!  Ela brilhou intensa e lúcida, e atravessou a existência transbordando emoção, pesquisando arte e aperfeiçoando sua técnica e seus instrumentos de trabalho: corpo e voz. Tchella, quis ser forte, firme e coerente em suas escolhas e trajetórias artística, mas se guiou sempre pelo seu coração e impulsividade. Intuitiva, mas impaciente, muitas vezes explodiu na ânsia de querer fazer. Sentia profunda necessidade de realizar, concretizar as abstrações e inspirações que invadiam constantemente seus pensamentos e sentimentos. Muitas vezes se perdeu, questionou, desistiu, insistiu: é que ser artista era tão estranho de tudo o que via a seu redor, mas ao mesmo tempo a criatividade lhe era tão natural, e tão aguçada em sua existência, que era impossível resistir a esse destino! A arte corria em suas veias: nascera com a trajetória marcada. Partiu mundo à fora para aflorar-se e compreender-se como ser humano que possui alguma função nessa Terra  meu Deus. Mas sempre de olho em suas origens simples, afinal o que Tchella mais, teimosamente, buscou foi sua originalidade. Tchella, a original! (Risos)

 

 Para finalizar nos fale sobre seus projetos atuais e futuro!

 Vivo intensamente! Atualmente, estou lançando virtualmente meu primeiro álbum autoral musical “Uma trilha para Elisangela”, do qual sou compositora e interprete para trilha sonora do filme “Elisangela”, da Apoena Filmes. Também faço parte do elenco de uma série televisiva, escrita pelas autoras de novela Solange Castro Neves e Thalma Bertozzi, chamada “O Guardião da Rosa Negra”, que está para estrear no Brasil. Durante o mês de setembro estou em cartaz com um pocket show musical no Teatro Ribalta, às sextas e sábados às 19h30; em seguida, as 20h30 interpreto a personagem Marcicleide, que é um sucesso de público, no espetáculo HumaNus.

 Futuramente tenho muitos projetos. Além de estar muito afim de atuar para cinema e TV,  pretendo produzir, atuar e cantar um musical bem brasileiro, em parceria com alguns artistas que admiro. Além de continuar e ampliar meus shows musicais com participações e parcerias de músicos e produtores. Também já estou com músicas prontas para serem gravadas num segundo álbum “Pré-sinto”, só aguardando uma produção massa! (Risos).

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