11/02/2020 às 17h41min - Atualizada em 11/02/2020 às 17h41min

Burrice artificial

Léo Coutinho

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Blog do Léo Coutinho

Léo Coutinho

Encontro o Cláudio Moura Castro na VEJA com uma preocupação que também é minha: revolução tecnológica. Espantado, o colunista se pergunta: se os romanos, salvo engano pais dos aquedutos, já tinham torneiras em casa, como podem os chuveirinhos higiênicos pingarem invariavelmente?

É algo que me aflige para além do banheiro. Por preguiça – que é a mãe de grande parte dos avanços tecnológicos – instalei um chuveiro higiênico na cozinha, cuja mangueira alcança o fogão, me liberando do esforço de carregar caldeirão cheio d’água pelo menos antes do macarrão ou de ter que baldear água para não deixar os caldos ferverem. Só que pinga, e parece que não tem jeito.

No banheiro não tenho e só uso chuveirinho alheio em último caso. Sou bidê futebol clube. E que surpresa foi saber por outro Castro, o Ruy, na Folha de S.Paulo, que o casal mais refinado dos Anos Loucos, Zelda e Scott Fitzferald, ao entrarem no Ritz em 1924, imaginaram que aquela peça exótica era uma banheira de bebê, e nela lavaram a pequena Scottie durante a longa temporada que ficaram em Paris. Por essas e outras discordo do Ruy e evito biografias tanto quanto chuveirinhos higiênicos.

Ah, antes de prosseguir, uma explicação: venero a preguiça como mãe da evolução tecnológica por imaginar a biografia do sujeito que descobriu a roda. Deve ter ouvido muita barbaridade dos que o viam sentado, observando e pensando, invés de ajudar a carregar pedra. O mesmo deve ter sofrido quem pensou no aqueduto e assim por diante.

Mas o que eu queria dizer é que, ao contrário de tantos, tenho receio zero sobre os avanços tecnológicos, notadamente os mais recentes e tão temidos, como a inteligência artificial, a internet das coisas, a biotecnologia. Aceito o medo como parte do espírito humano e suspeito que quem controlou o fogo provavelmente ouviu críticas de gente que acreditava ser “melhor não bulir com essas coisas que são de Deus”, quiçá tenha morrido queimado numa fogueira acesa com própria técnica.

Toda minha aflição é com o perigo da burrice artificial. Igual a tudo na vida, toda obra humana – e especialmente a tecnologia, vítima frequente da ansiedade e da aceleração – a revolução tecnológica é vulnerável à burrice. Avião, dinamite, energia nuclear, algoritmos. E se os humanos burros já parecem invencíveis, a iminência de robôs autônomos programados por eles me provoca calafrios. Oremos.

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