06/06/2014 às 09h42min - Atualizada em 06/06/2014 às 09h42min

Pre-Balanço da Copa 2014: Fora de Campo

Pre-Balanço da Copa 2014: Fora de Campo

http://www.futebolarte.blog.br/opiniao/pre-balanco-da-copa-2014-fora-de-campo/

Estamos prestes a receber um dos eventos mais globalizados do planeta, a Copa do Mundo de futebol. Entre o ufanismo de uns e o Não Vai Ter Copa de outros, chegou a hora de fazermos um balanço do evento no que diz respeito aos aspectos extra-campo, organização do evento, possível legado, investimentos x retorno e perspectivas. 

 

Infelizmente, muita gente já está condicionada por tudo que tem lido e provavelmente não vai se permitir ler esse texto desprendida de "preconceitos". Refletir e eventualmente mudar de ideia será raríssimo. Para uma parte das pessoas, o discurso pessimista já está pronto e o Brasil já perdeu. Mesmo dentro de campo, se o Brasil ganhar a Copa, é porque "ela foi comprada"; se perder, é porque somos incompetentes. Entre o "só no Brasil", fomentado por uma mídia majoritariamente de oposição, e o "nunca antes na história desse país" ufanista do governo de plantão, há uma imensidão.

 

Os pontos negativos e problemas são bem conhecidos: operários mortos nas obras das arenas, as imposições da FIFA, o aumento da exploração sexual de crianças e mulheres, milhares de trabalhadores ambulantes impedidos de trabalhar, a opção por investir/gastar bilhões para a realização do evento, superfaturamento e corrupção nas obras e, talvez o mais grave de todos, as remoções de mais de 250 mil pessoas de suas casas de maneira forçada. São graves e lamentáveis. 

 

Vale destacar que fora os superfaturamentos e desvios, que são casos para a polícia e merecem todo o rigor, boa parte dos valores envolvidos nas críticas, dizem respeito a obras relacionadas a infra-estrutura e transporte e teriam que ser feitas de qualquer forma. Para quem diz que as obras estão atrasadas para a Copa, talvez falte enxergar que, na verdade, essas obras estão atrasadas há décadas. É positivo que finalmente estejam sendo feitas. 

 

Dos quase R$ 8 bilhões para a construção dos estádios (segundo os números oficiais), boa parte foi empenhada na forma de empréstimos via BNDES, e vai voltar para os cofres públicos. O que há para lamentar são os "elefantes brancos" construídos em capitais praticamente sem futebol. O discurso de que servirão justamente para desenvolver o esporte nestes locais, definitivamente não cola.

 

Considerando que a inflação acumulada nos últimos sete anos no Brasil foi de 42,50% (IPC Acumulado) e observando o aumento no custo dos estádios, conforme mostra o infográfico publicado pela Folha de São Paulo, será que houve mesmo um descontrole? Alguém aí já fez uma reforma em casa?

 

Em um país com tantas carências e uma dívida social imensa, gerada por séculos de descaso, é natural que a população queira cobrar investimentos e prioridade para educação e saúde. O discurso, no entanto, é meio míope. Então só vale caminhar com a vida depois de "resolvidos" todos os problemas de saúde e educação? Ninguém mais vai ao cinema enquanto não terminar o colegial ou a faculdade? Nada de comprar uma camisa nova se estiver com alguma doença? A vida tem uma sincronicidade própria e as regras servem, nesse caso, para atrapalhar. Novamente segundo dados oficiais, o investimento anual com educação é de R$ 280 bilhões (10 x maior que o da Copa) e o com saúde é de R$ 206 bilhões (8 x maior que o da Copa). Vendo esses números e pensando por si mesmo, será que o valor envolvido na Copa foi tão absurdo assim?

 

Seria uma tolice imaginar que a Copa do Mundo é responsável por nossos problemas ou mesmo capaz de resolvê-los. Erro do mesmo tamanho é imaginar que torcendo contra o Brasil e contra a Copa, algo vai ser resolvido. Os protestos pacíficos são absolutamente legítimos e devem mesmo ocorrer, mas de uma forma inteligente. Para protestar contra o superfaturamento de uma avenida, você deixa de andar por ela? 

 

O maior legado que a Copa pode deixar, é mostrar às nossas crianças e adolescentes, com toda a ênfase que um megaevento assim traz, o respeito à lei; porque é isso que o esporte faz. A criatividade e o talento valem, desde que dentro de regras iguais para todos. O futebol, nesse caso, ajuda a dar noção de limite, mostra a importância do trabalho em grupo, ensina a perder e indica o quanto é importante se preparar bem para a obtenção de um bom resultado. Não é isso que queremos de uma sociedade?  

 

#centraldofutebol

 

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