27/08/2013 às 01h26min - Atualizada em 27/08/2013 às 01h26min

Liberdade ainda que tardia

O Brasil tem em sua formação os cacoetes da Monarquia Portuguesa espelhada na corte francesa dos Bourbon.

Renato dorgan
Sempre tivemos uma resistência com os EUA - Inglaterra, fato normal, pois a nossa formação é oposta. Isto somente mudou em dois momentos, na república do Café com Leite (no início do século XX), e um pouco a partir dos anos 90 com um governo mais liberal, menos intervencionista e mais estabilizado monetariamente.
 
O que choca muito uma parte da opinião pública, principalmente das classes médias do eixo Rio - SP é a volta neste século destes posicionamentos mais relativistas e populistas dos países latinos europeus que vigorou sempre por aqui.
 
Sonhando que se estabeleça um mundo weberiano na gestão e na economia, esta classe média se confronta com um populismo de direita e de esquerda negativo, e não aceita o humanismo e solidarismo que é positivo, pois em sua mentalidade cartesiana estas forças diversas não cabem no quadro de poder.
 
Esta ideia vinda do Trópico de Capricórnio acredita de maneira simplória, que assim como nos EUA e Inglaterra a política se dividirá entre conservadores (republicanos) e trabalhistas (democratas), o Direito será exato, punitivo e exemplar, a economia será livre aonde os mais fortes vencem, a estética será saxônica e o fim da sociedade é a família próspera, linda e feliz, mesmo que for a custa de grande parte da população.
 
Esquecem-se que a Nova Inglaterra esperada não foi formada pelo catolicismo e sim pela reforma protestante, não teve a miscigenação maravilhosa entre índios, negros e brancos, não foi receptiva à imigrantes europeus, semitas e asiáticos, e mais uma série de conceitos históricos, religiosos e antropológicos que nos distinguem.
 
Quero salientar que nem somos melhores nem piores por isso, temos uma identidade, mesmo que ela seja juvenil.
 
Querendo ou não estas classes, o Brasil se espelhará sempre de maneira inconsciente na formação  portuguesa e francesa, com ranços monárquicos de nomes e sobrenomes e autoridades, com a mistura de idealistas, humanistas, ditadores, populistas, elitistas e moralistas, espalhados e misturados em correntes de interesses individuais, e não de salvação coletiva.
 
O Direito é Romano, papal, imposto de cima pra baixo, injusto, a economia é mercantilista, a meta é inclusiva, ligada a fome, a expansão é um mito distante, assim podemos ser um país qualquer no contexto mundial mas aqui precisamos viver bem.
 
A política atual sofre com isso, de um lado os azuis buscam uma Nova Inglaterra, dividindo o mundo entre fiéis e pagãos, do outro os vermelhos aderem a uma das várias faces nacionais, inspiradas em França, o caudilhismo, a generosidade com as massas, “o deixa ver o que vai acontecer” ou “o vamos enganá-los com festas e pão”.
 
Precisamos urgentemente amadurecer, pois uns nos querem calçando um sapato que não cabe em nossos pés, enquanto outros não querem que nos libertemos do jugo da coroa.
 
Renato Dorgan Filho, advogado, consultor de marketing político, proprietário Travessia Estratégia e Marketing
 
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