Quando você lê uma poesia, o que sente? O que ela evoca? Com que intenção você a busca?
Quando tento colocar, por meio de palavras, sentimentos do dia a dia ou presencio fatos que mereçam ser desvendados e transformados em ideias, procuro deixar uma mensagem que toque o coração, a alma de quem lê a poesia. Não é um ato mecânico, inodoro ou insosso que deixa de ter significado. É presencial, tenta entender e assimilar a razão ou o motivo do que está ao redor para então formular sentenças que traduzam uma verdade, uma realidade, um momento expressivo.
Colocar no papel o que visualmente presenciamos ou sentimos tem muito de pessoal – diria que totalmente -, uma vez que o autor sempre busca trazer à tona as linhas de uma inspiração que o expõe, por assim dizer. Sim, degustando a obra, você, se for atento e perspicaz, conhecerá uma parte do caráter do poeta.
Muitas ideias estão nas entrelinhas, não foram colocadas detalhadamente. Você deve ser capaz de perceber o que está sendo transmitido, suavemente implícito.
Em certas ocasiões, o poeta tem um sonho ou acorda de madrugada cheio de ideias, pronto, como uma sentinela, para desenvolver os pensamentos em preto e branco. E antes que possa encontrar seus apetrechos de combate, milhares de frases se espremem no cérebro: seria uma cachoeira, um dilúvio a ser comunicado e alardeado. Como Carlos Drummond de Andrade colocou: “Sonhei que estava sonhando”.
Houve ocasiões em que, sem perceber, dentro de um ônibus lotado e em pé, a fantasia se acelerava e queria jorrar para fora da cabeça, apontada em detalhes para poder ser manuseada.
Poetar é preciso! Falar e articular o que é meu, o que é do outro, o que é nosso em forma de poesia. O admirável na escrita é que estamos desenvolvendo perfis, costurando a imaginação a particularidades próprias ou de outrem. Ao desvendar uma emoção, criamos vínculos com nosso interior, projetamos a essência que possuímos e avançamos para que outros a reflitam.