28/08/2012 às 13h18min - Atualizada em 28/08/2012 às 13h18min

Um Divã para Dois

O Diretor David Frankel encara novamente o trabalho de dirigir a talentosa Meryl Streep, dessa vez para contar a história de um casal de meia-idade que enfrenta a crise da rotina depois de 32 anos de casamento. Os dois dormem separados, não se tocam e a atração não existe mais.

Jacqueline de Lima Gastão

O máximo que eles fazem é tomar o mesmo café juntos e assistir TV. O tema se baseia na eterna busca dos casamentos “felizes para sempre”, nesse caso depois de cuidar dos filhos, os ver indo embora e voltar a viver sozinhos.

A comédia romântica é cheia de clichês do início ao fim, mas isso é esperado, pois os mais bem-sucedidos enredos do gênero têm uma linha que segue certo padrão, porém as escolhas não prejudicam o filme, pelo contrário, reforçam a ideia de centralizar de maneira intimista o casal e as suas idas e vindas.

O desenvolvimento do filme é devagar em algumas cenas, mas nas outras compensa. As piadas são bem aproveitadas e é possível acompanhar as gargalhadas no cinema com as tentativas frustradas de aproximação do casal. Meryl Streep é ótima e a cada atuação mostra o seu poder camaleão. Sua expressão, seus sorrisos e olhares mostram toda a sensibilidade, emoção e expectativa de uma mulher em crise que precisa de sexo, romance e atenção.

Já ouvi muitas críticas negativas em relação ao Tommy Lee Jones pelo seu jeito durão, mas nesse caso, assim como em MIB, seu personagem tem vários motivos para ser marrento e em algumas vezes sem sensibilidade. Seu lado fechado, cansado e resmungão permite todo o tom para colocar na balança as diferenças entre o casal e principalmente os motivos que também o reprimem, embora ele demonstre aos poucos, diferente de Meryl. Quando suas ações começam a mudar pelo maior interesse do personagem, a atuação de Jones se mostra ainda mais interessante.

Steve Carell, uma das grandes promessas do cinema, interpreta o terapeuta. Fico admirada como ele consegue transitar bem em diferentes linhas de atuação, esperava até um desfecho cômico para seu personagem, porém nada disso, as risadas em grande maioria são causadas pelo irônico Tommy Lee Jones.

O diretor conseguiu captar diversos elementos na cena que contribuem para desenrolar os personagens. Na sala de terapia, por exemplo, em algumas partes o casal senta próximo um do outro, principalmente quando eles estão confiantes nos resultados, mas quando há algum problema, os dois se distanciam, ficam incomodados, desconfortáveis, não sabem nem o que fazer com as mãos.

Os momentos de desconforto nas tentativas de aproximação são divertidos, desajeitados e algumas vezes tristes, tudo para confirmar a ideia de que eles estão separados, perderam o jeito, não sabem mais como se aproximar, mas cada um com o seu jeito está tentando agradar ao outro e revelar suas próprias fantasias.

O filme pode parecer lento, ter seus clichês como a cena da fuga desesperada, o conselho inesperado ou até mesmo as sequências e repetições, mas vale a pena conferir uma história que foge do padrão por tratar da sexualidade reprimida da mulher de maneira simples e sem apelação. Assunto tabu em alguns lugares reforçado pelas caras e bocas de Meryl, a comum mulher que se privou de experiências diferentes e descobre possibilidades no início com dúvidas e desconforto.

O filme mostra como a felicidade na vida a dois não depende só dos filhos e da fidelidade. O relacionamento precisa de romance, sexualidade, novas maneiras de fazer o outro feliz, satisfazer seus desejos.  Fazer acontecer para no futuro, mesmo após 32 anos de casamento sempre haja surpresas e motivos para marido e mulher serem felizes para sempre.

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