09/07/2015 às 18h08min - Atualizada em 09/07/2015 às 18h08min

Sergio Carvalho

Escritor

Thiago Santos

 Thiago Santos: Quem é o ser humano Sergio Carvalho?

 Sergio Carvalho: O ser humano Sergio Carvalho é uma pessoa nascida e criada nas trincheiras de combate as mazelas sociais em especifico na bandeira de combate ao racismo, com valores familiares que me permitem ter no conceito de família um conceito mais amplo, que mesmo  reconhecendo  como núcleo familiar o tradicional conceito de pai, mãe, filho, avós e demais entes próximos estende a ideia de ver como família cada irmão de cor, cada irmão de África, cada morador de comunidade cada dito favelado pelo sistema excludente.

 

 Sergio, quando foi o momento em que você olhou para a arte e viu nela a beleza que move o todo de seu coração?

 Acho que quando abri os olhos, quando rompi o cordão umbilical e quando vi pela primeira vez  o céu azul e os raios de luz, acho que nesse momento  despertava a percepção de que a arte mora em mim desde outras vidas de que sem ela até poderia ser possível uma vida comum porem o conceito de felicidade a  qualidade de vida atrelada a bem estar, jamais!

 

 Dedicou-se a musica durante muitos anos como percussionista?

 Sim, desde os 14 anos  já iniciava estudos e praticas no universo percussivo, aos 17 já sobrevivia da musica  e digo sobreviver porque infelizmente nosso país não da o devido valor ao campo artístico e toda sua riqueza de possibilidades de levar através da musica a alegria a esse povo tão sofridos pelas discrepâncias  sociais,  o que não permite a talentosos músicos a possibilidade de afirmar viver com dignidade da musica, a baixa remuneração as dificuldades  e entraves do meio fazem com que o mesmo se prostitua expulsando promissores talentos do mercado obrigando os a buscar novas formas de sustento para si e para suas famílias tal como aconteceu comigo.

 

 Qual seu ideal humanitário?

 Eu poderia fazer me responder pelas brilhantes, marcantes tais como eternizadas palavras de um dos nossos heróis o reverendo Martin Luther King que inteligentemente coloca em seu discurso “ I Have one dream”. Sim eu tenho um sonho, um sonho que pode ser classificado como meu ideal humanitário de ver uma sociedade mais justa onde meus  filhos e netos  não sejam julgados pela  ausência ou presença de melanina, onde  não sejam parte de um perverso perfil de suspeito das organizações  do sistema em especial a policia tendo a cor da pele o critério para vitimarem, sonho com um país de fato laico onde meus irmãos de fé não precisem serem tão humilhantemente perseguidos e odiados pelos intolerantes, sonho com um dia onde ocupemos menos as cadeias e mais as universidades e ocupar espaços sejam questão de escolha e não de acessibilidade ou inacessibilidade excludente e racista enfim sonho  em ver uma sociedade menos raivosa  e mais aberta as diferenças normais entre nós seres humanos focada em  mais respeito e pautada em darmos e recebermos mais amor creio que é disso que somos e, ou estamos demasiadamente carentes, amor.

 

 Como poeta e escritor você possui vários textos já publicados?

 Sim, iniciei com postagens  de rede social cujo os compartilhamentos  e constantes expressões positivas pós leituras dos mesmos levaram me a encará-los com um pouco mais de seriedade sistematizando a escrita, foi quando surgiu a quarta erótica e  todas quartas feiras escrevia contos eróticos, a sexta da revolta quando postava textos de cunho questionador no relevante ao nosso sistema racista e em meio a toda essa tão prazerosa aceitação dos leitores que só crescia veio me a ideia da construção de um blog denominado polemicidade pura e em seguida o meu encontro com o Recanto das Letras onde de fato os textos ganharam maior visibilidade és quando surge a ideia do romance.

 

 Todo seu amor pela arte da escrita lhe proporcionou dois prêmios?

 Não, não, entre risos todo meu amor pela arte escrita me proporcionaram alguns prêmios entre nacionais e internacionais a exemplo de: Prêmio do Núcleo Acadêmico de Artes e Letras de Lisboa, prêmio Excelência do Circulo de Escritores Moçambicanos na diáspora, prêmio de Valores do Circulo de Escritores e Artistas da Espanha,premio Nacional Liberdade de Expressão  da associação de escritores de Angra do Reis, prêmio da academia de artes e letras de Salvador, entre outros sem esquecer que o maior de todos os prêmios é ter atenção de cada sofredor aos quais minha escrita se predispõem a representar e se destina honrosamente carregada de orgulho por assim ao menos tentar fazer.

 

 Suas composições e musicas tem toda uma filosofia?

 Sim como compositor penso que a musica é se não a maior, uma das maiores formas de atingir pessoas no âmbito de buscar despertar  consciência sócio racial, de levar mensagem de auto estima, de incentivá-las a despertar através de reflexões despertas um senso conceito que  os tirem da estagnação imposta pela mídia perversa pelos senhores que insistem em manter-se na condição de poder e seguirem oprimindo mantendo as coisas como de fato  sempre foram e é com essa carga de revolta que as minhas composições emergem com finalidade social como contribuição racial contextualizada no despertar do senso critico no clamar de uma marcha rumo as transformações sociais expressivas.

 

 Como se sentiu ao se deparar com seu livro Guetos: O Apartheid Urbano?

 Feliz, simplesmente feliz haja visto que o mesmo foi a minha forma de comunicar-me com a juventude negra e periférica hoje as reais vítimas de um jogo estratégico e tendencioso a manter-se nós povo negro, ocupantes de comunidades como gados tangíveis em uma constante limitação frente  ao mundo que mesmo que nos neguem dele fazemos parte e seguir com o genocídio é também permissividade nossa quando não combatemos essas atrocidades em suas raízes e permitimos que lacunas sejam preenchidas com ódio, intransigência, intolerância e desamor.

 

 Qual o grande objetivo e filosofia de sua obra?

 Dialogar com a juventude  negra periférica utilizando jargões do seu quotidiano, as chamadas gírias como forma de criar holofotes para situações cujo os mesmos precisam avaliar como forma de conduzirem seus futuros diante das possibilidades que esse mundo cão os oferece, a filosofia da obra consiste em tentar com linguagem urbana despertar o referido senso critico, aguçar a indignação frente a tamanha crueldade, a romper barreiras a rebelar-se tal como fizeram nossos ancestrais não só na áfrica de Mandela mas também na America de Malcon X, Rosa Parker e sem esquecer também no nosso Brasil como nosso ícone Zumbi dos Palmares, nosso almirante negro João Candido  entre tantos outros é essa a intenção resgatar a auto estima desses jovens, torná-los protagonistas de suas vidas e não vítimas do sistema racista

 

 O personagem principal vive diante todo um dilema existencial?

 O personagem principal baseia-se na passagem  de um jovem negro  de periferia transitando  da adolescência para idade adulta passando por todos os conflitos que esse processo trás naturalmente  acrescidos das dificuldades do seu mundo real, o mesmo é vítima constante de todas as mazelas sociais e expressa o conceito real de viver a margem de uma sociedade demagoga tanto quanto hipócrita, vive  a violência policial quotidiana, a ausência  de garantias fundamentais previstas em lei, a inacessibilidade as oportunidades, o racismo em seus mais perversos tentáculos de resistência a nosso crescimento, a paixão o amor as duvidas quanto ao primeiro emprego e as escolhas de vida e consequências das mesmas nesse período transitório, enfim um romance cheio de identidade própria com linguagem atualizada  a compreensão dos quais a obra se destina.

 

 Na sua opinião quais os caminhos para que um dia venhamos ter uma sociedade justa, igualitária e sem preconceitos?

 A revolução étnica, por todos os meios necessários já dizia Malcon X  e o nosso eterno cantor Guiguiu  em suas interpretações únicas dizia: “ A evolução da raça pode abalar o mundo...” nós já evoluímos a reparação é parte necessária do processo cujo eles insistem em nos negar, a sociedade igualitária está na equiparação, na repartição do  bolo na equiparação das partes no âmbito econômico é isso que precisamos discutir não mais nos limitarmos a denunciar fatos, pessoas e grupos cujo os quase sempre tivemos conhecimento da existência

 

 Para finalizar nos fale dos seus projetos atuais e futuro!

 Existe o projeto intitulado Guetos Apartheid Urbano que implica na tentativa de levar através das premissas  da lei 10639 a discussão dos pontos na obra destacados para dentro do âmbito educacional das salas de aula, nas universidades nas comunidades e onde se faca necessário para seguirmos não somente em combate ao hostil sistema racista mas também rumo ao nosso empoderamento e resgate do que sempre nos foi de direito.

 

 

 

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