04/07/2015 às 12h31min - Atualizada em 04/07/2015 às 12h31min

Dra.Tereza Reche

Escritora & Biomédica

Thiago Santos

 Thiago Santos: Quem é o ser humano Tereza Reche?

 Tereza Reche: Sou antes de profissional da saúde e escritora, "escritora de alma". Sou filha biológica de Francisco Reche e Maria Madalena P.Reche cujo a saga não foi umas das mais belas... Sou juntamente com meu único irmão de sangue, sobrevivente dentre 8 irmãos num todo, na época vivíamos tempos difíceis e sequer possuíamos onde viver ou comer, então cresci vendo o mundo com a emoção, cores, dores, odores, e sobretudo, certa introspecção. Tudo para mim tinha que ter outra via, outra história, uma razão, pois a realidade se fazia difícil demais. Então cresci empenhando-me sempre em responder questões como, " O porquê das coisas ", através de meus romances e escritos. Me envolvi não raramente com projetos sociais quando profissional da saúde, talvez por isso, para tentar apagar as dores que o passado insistiam em cauterizar em mim. Hoje posso dizer que através da escrita, das palavras e das ações que permearam minha caminhada até então, muito foi regenerado e sobretudo compreendido. Continuo com essa marca em meus romances, o objetivo maior é; mostrar a verdade, mostrar que para tudo sem exceção, há sim, respostas plausíveis.

 

 Tereza?

 Sou aquela que mesmo sabendo das dificuldades da Literatura como profissão, escolheria quantas vezes fosse necessário por ela. Sou formada em Biomedicina, entretanto, sempre que precisei optar pelo racional em termo de trabalho, acabei tendendo à emoção, ao amor pelas letras. Optei pela área da saúde pelos projetos sociais, mas deixei o trabalho em 2012 por que não havia tempo para escrever. Hoje posso parecer insana, mas prefiro me dedicar aos meus livros como se fossem a verdadeira essência da minha existência, como uma missão à ser cumprida. Estou prestes a encarar novamente uma aventura onde vivenciarei situações difíceis, porém, necessárias para que meu novo romance "Crew Life" seja tomado de veracidade. Então, salário ou posição não me conquistaram nesse percurso da vida, os deixei e os deixaria ciclicamente, pois sei, minha alma precisa criar. E não conseguiria acordar, andar e me deitar respirando meus livros, se me dedicasse a algo paralelo.

 

 Aos 8 anos de idade iniciou na arte da escrita e aos 12, concluiu seu primeiro romance? Quais palavras a mulher Tereza Reche diria para a criança Tereza Reche no momento em que escreveu as primeiras frases?

 Eu diria... - Obrigada por ter acreditado em mim. E, sobretudo, obrigada por ter acreditado nas visões, nos sonhos e nas palavras que lhe vinham à mente.

 

 No processo de seu viver, entre os anos de 1988 até o ano 2012 houve toda uma conexão quanto à arte da escrita. Este processo cooperou de qual forma para o todo de sua carreira?

 Sim, passei toda minha vida, numa visão geral, escrevendo... Aos 8 anos criava histórias em quadrinhos, e de repente, certo dia questionando o porquê da divisão religiosa entre crentes e católicos ao meu pai, hoje falecido José Martinho Latarola, meu grande e eterno amigo, ele me explicou e me aguçou a curiosidade. Eis que nascem os rascunhos da trilogia histórica, que em 2012 eu publicaria como ARMADILHAS DE UM TEMPO I (Nas Brasas da Inquisição), II (As Ovelhas de Laguna) e III (Eis que o Lobo era Cordeiro!).

 E realmente, sempre fui uma criança estranha para o formato da sociedade, ficava a maior parte do tempo no quarto, escrevendo à base de café, exatamente como o faço hoje! Quando me lembro da criança que fui, penso que nunca fui criança na verdade, sempre fui e pensei exatamente como penso e sou hoje, mas num corpo menos desenvolvido... Não brincava ou perdia tempo com nada que não fosse a escrita, tudo era escrito a lápis, muitos lápis... Em cadernos de 20 matérias espirais, inúmeros deles! Aos 12 anos ganhei dos meus pais uma máquina de escrever, aprendi datilografia sozinha em meu quarto, e a partir daí não parei mais de escrever. Aos 13 anos sofri de depressão infantil e tive que me ausentar da escola, mesmo assim, não deixei de escrever, dia e noite criando, apagando, revisando e concluindo novos romances. Só parei um pouco com a escrita quando trabalhei na área da saúde, porém, me sentia incompleta e novamente acabei optando pelas teclas e meus pensamentos... Hoje vejo que o tempo de escrita talvez não tenha sido sequer compreendido por aqueles que reconheceram meu trabalho, entretanto, minha carreira está sendo notada recentemente, mas para mim como pessoa, ela simplesmente faz parte do que sou. Tereza Reche é e sempre será um conjunto de palavras, sem a escrita e minhas obras, eu simplesmente não existiria.

 

 O que te inspirou para tomar tamanha decisão?

 Em 2011 fui desligada da Faculdade onde trabalhava como Coordenadora do Laboratório Clínico, que hoje, atende os alunos daquela Instituição. Deixei meu esforço e projetos para serem tocados por outrem, mas não me arrependo ou sinto pesar em nada. Ainda naquele ano, fiz amizades com pessoas de diferentes ramos, até por acaso conhecer um grande amigo que era tripulante de Navios de Cruzeiros. Foi mágico, e como quase sempre me ocorre, basta uma palavra para que eu crie uma história... Este meu amigo, comentando acerca de suas aventuras e desventuras, dificuldades e humilhações, ao mesmo tempo experiências inesquecíveis, amores e paixões, me fez desejar criar um novo romance. Porém, escrevendo percebi que não poderia documentar algo que eu não havia vivido. Então, em 2012 ingressei como uma das personagens que havia criado que era Cabin Stewards, não imaginando como era difícil o trabalho dessa classe. Já no interior do Navio presenciei várias situações, desde trabalhar num formato surreal comparado ao que eu estava acostumada, até passar as madrugadas olhando o véu deixado pela Popa do navio, ouvindo as hélices cortar o mar bruscamente e o vento da maresia, quase levar-me desta dimensão. Foi mágico, consegui colocar alguns sentimentos tão vivos nas primeiras páginas do romance. Entretanto, adoeci drasticamente pelo trabalho pesado e fui desembarcada por isso. Não queria deixar o Navio de maneira nenhuma! Primeiro por que me sentia "em casa", e segundo por que estava concluindo meu projeto e além do romance, nasceram projetos também sociais para serem inseridos na rotina dos tripulantes, projetos que continuam engavetados, mas que creio, um dia serão lidos e provavelmente aprovados. Hoje tenho planos para ainda este ano, ingressar novamente e quem sabe desta vez, concluir o romance "Crew Life"

 

 Gosto sempre de saber quais sentimentos vem ao coração de um apaixonado  pela arte da escrita quando tem em mãos suas próprias obras já publicadas!

 Quando publiquei meu primeiro livro, foi efetuado de maneira virtual pela Editora PerSe de SP. Lembro-me que havia revisado o romance "ARMADILHAS DE UM TEMPO", e estava ansiosa para vê-lo no site. Quando concluí todo o processo que feito pelo autor virtualmente, e surgiu diante de mim a capa do meu livro, eu fechei os olhos e chorei copiosamente durante alguns minutos. Foi um marco para mim, publicar um livro que me acompanha desde meus 8 anos de idade. E depois publiquei os outros e sempre sentia que não merecia aquilo, é como se eu não fosse o bastante para ter criado algo tão precioso para mim. Não sei se estou sendo explícita, mas é assim que vejo minhas obras, é como se elas já existissem e apenas necessitassem de dez dedos para materializá-las, e me sinto honrada em poder ser instrumento para esse fenômeno que chamo de Literatura.

 

 Nos fale sobre a trilogia intitulada “Armadilhas De Um Tempo”.

 ARMADILHAS DE UM TEMPO é um diamante lapidado durante praticamente 32 anos, obvio que não foram ininterruptos, mas, a maior parte de minha vida foi dedicada à esta obra. O romance aborda o século XVI, suas questões político-religiosas e contém 1980 páginas ao todo, dividi a saga em 3 partes, tornando-se uma trilogia. A princípio a história quando escrita na minha infância se resumia no amor entre um Monge da Ordem de Cister espanhol e uma noviça da Ordem 3ª do Carmo. O Monge é Esteban Delmar e a noviça Catalina Laguna, ele se torna um grande líder Huguenote e passará maior parte da história envolvido com as questões protestantes contra a Inquisição. Ela é vítima das intrigas de sua maior inimiga, uma espanhola ardilosa que por um amor não retribuído de Esteban, fará da vida de sua oponente um inferno. Porém, com o passar dos anos, por adquirir conhecimento histórico e base para complementar o contexto, o romance foi adquirindo mais complexidade. Essa obra foi por 4 vezes revisada e modificada, e durante cinco anos apenas coletei informações históricas para permearem a ficção. Finalmente em 2011, o romance estava completo e em 2012 publicado, no mesmo ano foi lançado na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, em 2013 na Bienal da Bahia.

 

 Sua graça desfrutou de uma premiação devido aos seus esforços em prol da arte da escrita. Como se sentiu ao ouvir seu nome sendo anunciado como vencedora na premiação?

 Ao receber a indicação já foi um sonho realizado, é gratificante ver um livro ser reconhecido, não por ter escrito, mas por ele em si ser reconhecido. É como uma mãe que ao ver seu filho recebendo um diploma se engrandece e se orgulha, não é por tê-lo feito dentro de si, mas sim, por ele estar ali. Então ao receber o Prêmio, não me senti envaidecida, mas olhei para o livro O SILÊNCIO DE EULLER e pensei; você merece!

 

 Em janeiro deste ano foi publicado mais um romance de sua autoria?

 Sim, em janeiro publiquei um livro histórico, intitulado DITADURA DE CORAÇÕES, que aborda a Guerra de 32, a Revolução Constitucionalista. Este romance era na verdade um conto longo de 80páginas, mas ao surgir a possibilidade de enviar uma obra inédita para o Concurso Saraiva de Literatura em maio de 2014, eu tomei o conto que não havia publicado ainda, e o transformei dentro de dez dias! Sim, dez dias, em um romance romântico. Não venci o Concurso infelizmente, mas gerei mais uma bela obra.

 

 O que o leitor verá de fascinante em “Ditaduras De Corações”?

 DITADURA DE CORAÇÕES é sem dúvida um romance emocionante, imprevisível, e permeado pela verdadeira história de 32. A história gira em torno do amor entre a filha de um Tenentista e um grande jornalista republicano, infiltrado em um Jornal getulista. Eles são afastados por interesses políticos e tumultos da Guerra, mas como em todo bom romance romântico, buscam meios mesmo que perigosos, para se unirem contra as ditaduras da época. A história leva o leitor a vivenciar a realidade desde 1930, no momento do Grande Levante, até finalmente a histórica implantação da Ditadura do Estado Novo em 1937, por Getúlio Vargas.

 

 Nos próximos dias você receberá um título graças aos ótimos resultados quanto ao seu trabalho literário?

 Sim, logo após o recebimento do Troféu Cecília Meireles, recebi a indicação para o título de Comendador(a), na verdade o título será entregue devido ao Laboratório Escola, inaugurado por mim e o Diretor Institucional da época, quando coordenadora na Faculdade Anhanguera em 2010, e como Revelação do ano pelo livro O SILÊNCIO DE EULLER.

 

 Se importa em expressar palavras que se tornem sinônimo de inspiração para o amigo leitor que também deseja viver em prol da arte? E também uma frase que seja capaz de descrever o que você sente por fazer algo que muito ama?

 O que tenho à dizer é que jamais devemos deixar o que faz nossa alma falar, para viver qualquer outra experiência. Ou seja, se sua alma clama, deseja e ama, sirva-a. Nada, nem títulos, nem dinheiro muito menos status substituiriam o prazer de viver através de sua própria alma. Deixar o que se ama pelo que supostamente se deve fazer, é suicídio lento, e não estaremos livres dele para sempre. Se amar algo, faça-o, arque com as consequências de viver por aquilo que verdadeiramente ama, pois consequência maior será não fazê-lo.

 

 Para finalizar nos fale dos seus projetos atuais e futuro!

 Tenho inúmeros projetos, meu combustível existencial são os projetos. Hoje estou afastada da profissão biomédica e tenho me dedicado exclusivamente à escrita. Possuo vários títulos em andamento, muitas ideias na mente e tenho me policiado para manter linear e concluí-los à princípio. Dentre as obras literárias estão:

- OS FILHOS DE BONACCI (suspense policial)

- O CÁTARO (romance histórico)

- LIMPE MEU SANGUE (romance romântico)

- DELÍRIOS DE CASSANDRA (drama)

- CALENDÁRIO DA VIDA (romance romântico)

- MISTÉRIOS QUE DESCOBRI (documentário século XI à XVII)

- PACTOS CÓSMICOS (ficção)

- INÚMERAS PALAVRAS II (ensaio poético)

- CREW LIFE - Only the Strong (romance/documentário)

 Este ano se tudo correr como esperado, ingressarei na maior aventura de minha vida como escritora, trabalhando na pele de uma das personagens do romance Crew Life, e vivenciando de maneira direta as emoções, dores e maravilhas da vida de um tripulante de Navio de Cruzeiros, com o objetivo de criar uma história mais próxima possível da realidade. Tenho planos de, em especial fazer uma noite de autógrafos para o título "Crew Life", pois vejo nos tripulantes uma garra surreal, um espírito heroico que as pessoas precisam reconhecer, e que hoje infelizmente não ocorre. Espero fazer minha parte para modificar essa pequena centelha.

 E finalmente meu maior sonho, que espero um dia realizar, é publicar um dos meus títulos em uma grande Livraria física, o que até então ainda não ocorreu.

 

 

 

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