12/05/2015 às 13h51min - Atualizada em 12/05/2015 às 13h51min

Marcele Cambeses

No ser humano está todo teor criativo...

Thiago Santos

 Quem é o ser humano Marcele Cambeses?

 De longe, é aquela carioca lá de vinte e poucos anos que tenta conciliar a escrita com o Direito, e que é apaixonada por gatos, livros, música, séries de TV, etc etc. Agora, mais a fundo... creio que seja alguém em busca de evoluir como pessoa e de encontrar o seu lugar no mundo. Sei lá! Vivemos hoje uma Era em que é supervalorizada a velocidade das nossas conquistas, mas pouco se para, para observar as coisas ao nosso redor. E isso nos atrapalha demais em nos conectarmos com os outros; até conosco mesmos. Por isso, tento me condicionar a uma caminhada mais vagarosa que me permita encontrar significado no que faço e no que almejo. Na literatura, vi uma aliada inestimável para esse processo de descoberta. Afinal, seja lendo ou escrevendo, ela me dá a oportunidade de viver e aprender com várias histórias, ainda que eu protagonize uma só: a minha própria.

 

 Como se deu seu primeiro contato com a leitura?

 É engraçado que, sem pensar muito, eu tendo a responder que foi com o primeiro livro que eu quis ler por conta própria, sem a escola me obrigar: o Harry Potter. Acompanhar a série, a cada lançamento, foi o que me fez sentir que eu me tornei uma leitora. Porém, se eu refletir melhor, com certeza mudarei a minha resposta e direi que foi com os gibis da Turma da Mônica. Eu a-ma-va! Só que, como eles são mais gráficos, eu tinha a inocência de não perceber que estava lendo também. Vai entender...

 

 Já aos sete anos de idade se rendeu em amor pela arte da escrita?

 Sim, aos sete. Desde que eu nasci, fui influenciada pela inventividade da minha mãe: ela compunha músicas, muitas delas educativas, para mim e para o meu irmão. Então, era meio natural que eu também sentisse vontade de compor. Mas, como não possuía lá muito talento musical na época, eu era péssima em criar melodias. Até hoje, tenho alguma dificuldade. Já as letras e as rimas sempre saíam naturalmente. Assim, acabei descobrindo o amor por escrever versinhos. Durante o primário todo, era fácil me encontrar ou com o caderninho de poesias, ou com o meu brinquedo favorito na escola: um bloco de folhas de papel grampeadas, em que eu ficava desenhando histórias com as amigas. Não tardei, também, a me identificar com as aulas de redação e a participar de alguns concursos, inclusive.

 

 Apaixonada pela literatura inglesa?

 Admiro muito os clássicos ingleses. No meu quarto, não é difícil achar uma obra do Dickens, da Jane Austen, do Thomas Hardy e cia. Sou fã porque, além do talento inegável, vejo em muitos deles o desejo de usar a literatura como um instrumento não só de retrato, mas também de mudança da sociedade em que viveram. Austen, tantas vezes, contestou o papel da mulher; Dickens denunciou os bastidores da grande potência inglesa, cuja industrialização explorou até as crianças; Hardy, a seu turno, chegou a abrir mão da própria carreira ao ser reprimido pela publicação de uma obra em que contestava o machismo, o moralismo religioso, a hipocrisia humana como um todo. Os exemplos são diversos e só ratificam a minha admiração por eles. Gosto de tramas que entretêm, mas sempre terei predileção por aquelas que vão além e nos transformam.

 

 Ao iniciar a escrita de seu primeiro livro o quanto nele foi “ direcionado “  de sua personalidade?

 No meu caso, isso é um pouco mais difícil de responder. Acontece que o meu primeiro livro, o Sinfonia, é fruto de um surto criativo, no sentido literal da expressão. Eu estava estressada com o meu vestibular e, para desanuviar a mente, acabei usando as tramas como válvula de escape, de repente. Sequer tinha esse entendimento de que aquilo, mais tarde, viraria um livro. Lembram-se do jogo The Sims, em que a brincadeira estava justamente em criar personagens e decidir os rumos de suas vidas? A relação entre a Destino Trocado e eu era quase isso, mas feita no Word, através de plots e palavras. Poder ser pessoas diferentes e estar no controle de suas sinas era uma diversão para mim e, também, para as amigas que acompanhavam os capítulos. Foi algo bem espontâneo e despretensioso, mesmo. Da minha personalidade, acho que acabaram indo influências que eu não calculei a princípio, então: como a “brasilidade”, a índole brincalhona, o gosto por densidade psicológica, alguma crítica social e amores construídos que não acontecem da noite pro dia. Coisas assim.

 

 De que forma a “ emoção tomou seu coração “  no momento que  tocou em seu livro pela primeira vez?

 Em forma de alívio. É claro que houve a emoção por ver materializada uma coisa que eu criei, a ansiedade do que ainda estava por vir, tudo isso. Mas, sem dúvidas, a minha primeira reação foi sentir alívio. Isso porque eu produzi o Sinfonia sozinha. E só os demais autores independentes sabem o quão penosa pode ser uma primeira publicação quando você não conta com a ajuda de uma editora. Conseguir bons profissionais e bons preços para lançar uma tiragem que saia acessível ao consumidor exige muita pesquisa. E paciência para todas as adversidades que surgem no caminho. Se não fosse o apoio dos meus pais e dos leitores que eu já tinha, confesso que talvez não tivesse perseverado até conseguir.  Que bom que fiz isso.

 

 

 

 

 

 

 Logo de cara a  série, iniciada em 2008 com o livro “ Sinfonia “ lhe rendeu ótimos momentos!

 A Destino Trocado, para mim, foi e até hoje é uma enorme surpresa. É muito engraçado, aliás, como o nome da série se tornou irônico, quase cabalístico, diante do quanto ela realmente transformou a minha vida desde o seu surgimento. Tendo em mãos um texto tão despretensioso, fora dos padrões convencionais de narrativa, eu jamais esperaria um resultado tão gratificante. Não só pelo duplo recorde de acessos que ela bateu na comunidade do Orkut em que foi postada, mas por tudo que veio junto com isso e que me é bem mais importante: o carinho dos meus leitores. Não valorizo tanto as conquistas que possam ser quantificadas por números: de vendas, de acessos, de comentários etc. Ainda que elas também tenham o seu espaço na minha trajetória e no meu coração. Mas o sentimento de encontrar pessoas que acreditam em você, que absorvem as suas palavras de verdade... isso sim é inestimável. Afinal, escrever nunca deixa de ser uma grande exposição que fazemos de nós mesmos; e ter gente que nos aprecia assim, como somos, é uma sensação sem igual. Acho que todos buscam um pouco disso na vida, aliás: serem queridos dentro da sua autenticidade. Felizes somos nós, autores, que podemos encontrar esse carinho em cada leitor cativado.

 

 Pedagogicamente falando quais lições importantes os pais podem encontrar em seus livros e em seguida incutir no aprendizado para com seus filhos?

 São muitas lições. Eu trabalho com personagens muito humanos que estão inseridos em uma realidade bastante palpável a todos nós: a ida à faculdade, a fase conturbada que é deixar de ser um adolescente e se tornar um adulto independente, responsável pelas próprias escolhas. Então, é natural que ao longo do caminho eles sejam colocados em situações controversas que tragam a debate, inclusive, os preconceitos que ainda temos arraigados sem sequer percebermos. O peso dos nossos sentimentos e o quanto eles não devem justificar atitudes levianas que temos sobre os dos outros também são partes constantes do enredo. Conhecer a si mesmo, aprender a lidar com as adversidades, com o diferente, se tornar alguém melhor, tudo isto é debatido. Sem falar que, aqui e ali, há matérias de vestibular misturadas no texto, às vezes de um modo bem inusitado. Como um convite, deixarei as frases finais do prefácio do Sinfonia, que explicitam um tanto essa intenção “pedagógica”: “Seguir a ética, honrar a família, conquistar o sucesso e aquela pessoa especial; defender os seus princípios, perder a cabeça, extinguir preconceitos, alcançar a liberdade: A primeira nota foi tocada, o restante da pauta é você quem compõe.”

 

 O ano de 2013 lhe foi especial!

 Foi, sim. Além de ter sido o ano em que finalmente consegui concluir a empreitada de lançar o Sinfonia sozinha, também tive o prazer de passar no processo seletivo da antologia Amores (Im)possíveis. Receber o email do organizador Leandro Schulai dando o seu parecer sobre o meu conto foi um dia bastante especial. Até porque nunca tinha passado por uma avaliação editorial, mesmo que só sobre uma narrativa curta. Foi ótimo. Para coroar, em 2013 eu também cursava o meu último período de Direito. Haja emoção!

 

 

 

 

 

 

 Sua graça também é Bacharel em Direito?

 Sim. E, trocadilhos à parte, isso me foi uma grande razão de protesto por anos. Mas minha vida ignorou e me manteve no Direito. Fazer o quê? Hoje, conforme os meus estudos para concurso avançam (e a minha idade também), acho que já consigo me ver um pouquinho na profissão. Lembram-se da pressa que eu mencionei na primeira resposta da entrevista? Então, acho que ter a vida tomada de assalto pela literatura na mesma época em que entrei na faculdade acabou sendo um tanto atordoante pra mim. E isso me fez ter alguns erros de percepção quanto ao que eu queria para a minha vida e quem eu gostaria de ser. Vamos ver no que dá, agora que estou começando a me dar conta... A única certeza que tenho é a de que, seja como for, jamais deixarei de escrever.

 

 

 

 

 

 

 Para finalizar nos fale dos seus projetos atuais e futuro!

 Bom, atualmente, com o Amores Impossíveis esgotado, eu estou concentrada em divulgar o Sinfonia; tanto ele quanto o meu conto podem ser encontrados em plataformas online como o Wattpad, Widbook e o site Nyah fanfictions, a quem quiser ler gratuitamente. Aliás, o Sinfonia continua à venda pela lojinha do meu site (dedicado e autografado), pela Sanfer Livros, e também pode ser comprado pessoalmente comigo, é claro, nos eventos literários. Estarei na Bienal do Rio, em setembro, nas Feiras Literárias de Resende e de Caxias, em junho, tudo caminhando. Sobre projetos futuros, no momento estou me dedicando a dois: uma narrativa curta ainda não divulgada, cheia de amor e rock n’roll, que trata muito dessa característica da nossa geração de primar pelo parecer, não pelo ser; pela aprovação coletiva acima da pessoal, não importando o custo psicológico que isto tenha. E, também, estou trabalhando em mais um livro da série Destino Trocado, cujo título é Katzen. Esse, por se passar em Florianópolis, exigiu muita pesquisa de campo de mim, já que eu trabalho com o regionalismo na retratação do nosso Brasil. Ainda estou reunindo os dados que colhi antes de escrever efetivamente, por isso vai demorar um pouquinho. Vamos ver se, no fim, os leitores e os catarinenses aprovarão o meu esforço. Espero que sim.

 Redes Sociais:

 Site pessoal:

http://www.marcelecambeses.com.br

 

 Página da Destino Trocado no facebook:

https://www.facebook.com/Sagadestinotrocado

 

 Skoob do livro Sinfonia:         

http://www.skoob.com.br/livro/151552-sinfonia

 

 Perfil no Wattpad:

http://www.wattpad.com/user/MarceleCambeses

 

 

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