26/04/2024 às 14h33min - Atualizada em 26/04/2024 às 14h28min

Mães em campanhas: publicitárias e políticas

Priscila e seus três filhos – Foto: Karol Felício
“...não espero que votem em mim simplesmente por eu ser mãe ou mulher (...) Sou inteligente, articulada, ética e capaz. Desejo, sim, que não deixem de votar por eu ser mãe ou mulher.”

Abril de 2024. Maio se aproxima com sucessivas campanhas que abordam a maternidade - campanhas publicitárias. Não teremos essa abordagem, porém, nas campanhas política, que dificilmente trazem a figura materna como protagonista.
 
“Maternidade e política são automaticamente dissociadas. Desde sempre, estabeleceu-se que maternidade é privada e política é pública. Isso verte as mulheres para a vida doméstica e os homens para a vida social”, explica Priscila Moura, pré-candidata à câmara de Vitória, capital do ES.
 
“Urge a necessidade de descontruirmos esse discurso. O cuidar é papel de todos. Mães, pais, cuidadores e Estado são um conjunto na criação e formação infantil. É coletiva e pública, essa responsabilidade.”, defende Priscila.

Aos 42 anos e mãe de três filhos, Priscila assevera “Percebo que também deva ser materna, a política. É enriquecedora e necessária a permanência das mães em todos os espaços, inclusive os espaços de poder.”
“Conversei formalmente com inúmeras lideranças, políticos mandatários e partidos. Estive em sedes partidárias onde as únicas mulheres presentes eram a secretária ou quem servia o café (...)”

No Brasil, as mulheres representam 51% da população e, nas eleições municipais de 2020, elegeram-se apenas 12% de prefeitas e 16% de vereadoras. Nas assembleias legislativas e no Congresso Nacional, 18% das cadeiras são ocupadas por deputadas estaduais, federais e senadoras. O percentual de mulheres eleitas costuma refletir o percentual de verbas de campanhas destinadas a elas.
 
Engajada desde cedo em movimentos e causas sociais, a “mãe de três” conta que se esquivou da política partidária. “Durante minha vida inteira, liderei grupos, representei pessoas e participei de projetos sociais que acastelam mães e crianças na primeira infância. Reconheci, enfim, com a maturidade e muito ‘secar gelo’ que, para dar visibilidade às pautas que defendo, se tornou inevitável, o meu envolvimento na política pública e partidária”, desabafa.
 
Foi também por não encontrar representatividade materna no pleito capixaba que Priscila decidiu lançar seu nome à câmara de vereadores. “Vivi 13 eleições e nunca me senti genuinamente representada. Olho o nosso poder legislativo e não me reconheço. Em Vitória, atualmente, há uma mulher vereadora e, na nossa história, a presença de mães na vereança é quase ínfima.”, lamenta a pré-candidata.
 
“Não é uma decisão romântica, fácil, ou um sonho planejado. Costumo dizer que nem foi uma escolha, mas uma falta dela. Eu almejei tanto ver uma mãe comprometida com os direitos maternos e infantis na câmara de Vitória que me rendi e estou determinada a hastear essa bandeira, eu mesma”, fala em tom descontraído.
 
Sobre a engrenagem política, a pré-candidata esclarece que foi um desafio à parte. “Conversei formalmente com diversas lideranças e partidos. Estive em sedes partidárias onde as únicas mulheres presentes eram a secretária ou quem servia o café. Isso me repelia”. Minha escolha pelo Podemos foi estratégica e muito influenciada pela representatividade feminina. Qual outro partido tem uma presidente mulher, por exemplo?
 
Recentemente, no Brasil, temos visto políticas eleitas afirmando que ainda está no consciente coletivo que o lugar da mulher é o lugar doméstico do cuidado, as profissões de cuidado - isso reflete nas representatividades das Câmaras.
“...esses passos só são possíveis por eu ter suporte familiar e rede de apoio paga. É um conjunto de privilégios e longe do alcance da maior parcela das mães do nosso país. É meu dever representá-las também por isso.”
 
Questionada sobre a manutenção da centralidade do trabalho de cuidado na figura da mulher também ser uma das barreiras que impede que mulheres cogitem participar da política, Priscila concorda e reconhece que sua pré-candidatura é um privilégio social. “Uma pré-campanha requer muita dedicação, envolvimento e abdicação de carreira. Como atuar sem uma estrutura financeira estável? Uma campanha política demanda presença física, ou seja, estarei ausente da minha casa. Um mandato, então, é mais que um emprego. Ser vereadora requer entrega pessoal e disponibilidade de tempo. Como mãe esses passos só são possíveis por eu ter suporte familiar e rede de apoio paga. É um conjunto de privilégios e longe do alcance da maior parcela das mães do nosso País. É meu dever representá-las também por isso.”
 
Às vésperas das últimas eleições municipais, um grande portal de notícias realizou uma pesquisa sobre o comportamento feminino nas urnas e especialistas divergiram quanto a haver um perfil de candidata a ser priorizado, mas concordaram que direcionar o voto para uma mulher é uma ação que faz bem à democracia.
 
“Concordo que seja fomentador ter mais mulheres na política por uma questão de impulsionamento e representação democrática. Isso é inquestionável. Ainda assim não espero que votem em mim simplesmente por eu ser mãe ou mulher. Minha pré-campanha não está sendo é classicista ou sexista. Eu tenho virtudes dignas de votos. Sou inteligente, articulada, ética e capaz. Desejo, sim, que não deixem de votar por eu ser mãe ou mulher.”


Enviado por Sua Imprensa.


 
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