10/03/2014 às 15h58min - Atualizada em 10/03/2014 às 15h58min

Não existe racismo no futebol brasileiro

Não existe racismo no futebol brasileiro

http://www.futebolarte.blog.br/opiniao/nao-existe-racismo-no-futebol-brasileiro/

“O brasileiro é cordial!”, “O preconceito no Brasil é contra os pobres, não contra os negros”, “Camiseta ’100% Negro’ é que é racista; ‘eles’ mesmos é que são racistas”… Quantas vezes você já não ouviu (ou disse?) esse tipo de frase?

Como a foto não consegue “dizer” tudo, alguns números que o IBGE obteve no último Censo, em 2010, podem ajudar na compreensão: analfabetismo entre brasileiros acima de 15 anos: 14,4% dos negros x 5,9% dos brancos; salário médio mensal entre homens: R$ R$ 1.020,00 para os brancos e R$ 539,00 para negros. Para completar a informação (e chocar ainda mais), há uma excelente matéria na revista Carta Capital apresentando O racismo em números.

Também é possível observar facilmente a baixa participação de negros em programas de televisão (quase sempre representando funções subalternas) e comerciais. E segue, revista Pais e Filhos, NENHUMA criança negra na capa nos últimos três anos (não se sabe se houve em anos anteriores); revista Nova, quatro modelos negras, dentre 98 capas entre jan/2006 e mar/2014 e por aí vai.

Tudo isso é pra dizer que, como afirmo no título deste post, Não existe racismo no futebol brasileiro! Infelizmente existe racismo permeando TODA a sociedade brasileira, ao contrário do que alguns (não) enxergam e gostam de afirmar.

O tema racismo voltou a ganhar as manchetes nos últimos dias por conta do ocorrido nos jogos entre Esportivo e Veranópolis, pelo Campeonato Gaúcho, quando o árbitro Márcio Chagas foi hostilizado durante e após a partida e entre Mogi Mirim e Santos, pelo Campeonato Paulista, quando Arouca, do Peixe, foi chamado de macaco por torcedores locais durante entrevista após o jogo. No entanto, parece que nunca sai da “pauta do dia”, como nos lembram os médicos cubanos e o tratamento de parte da mídia ao lamentável episódio do “negro amarrado no poste” (em pleno 2014), pra ficar em apenas em dois exemplos.

No caso dos eventos esportivos, a situação pode ser vista por, ao menos, dois ângulos, o imediato e o de longo prazo. No momento, há que se exigir medidas enérgicas dos organizadores, dirigentes das federações e dos clubes e dos próprios jogadores. Não que seja simples, mas sem ação continuaremos navegando nessas águas turbulentas e sujas. Ao primeiro insulto racista a partida deverá ser encerrada e o time da torcida agressora declarado perdedor do jogo, independentemente do resultado no momento em que ocorrer a ação.

No longo prazo, ainda que soe óbvio e repetitivo, é fundamental o investimento em educação; ações de conscientização e SIM, ações afirmativas, como as cotas.

Se “12 Anos de Escravidão”, recém-premiado com o Oscar de melhor filme mostra parte da escravidão nos EUA, temos no Brasil uma história ainda mais chocante para apresentar para todos que não conhecem Luis Gama, negro, nascido livre em 1830 e vendido pelo próprio pai. Por mais de 200 anos os negros foram expropriados, tiveram suas famílias separadas, foram massacrados e mortos até que um dia lhes deram um tapinha nas costas e a “liberdade”. Talvez tenha surgido aí a expressão “se vira negão”. Em outras palavras, quando alguém defende a meritocracia como forma de se alcançar uma universidade ou uma vaga de trabalho, está se esquecendo que os brancos largam com mais de dois séculos de vantagem.

Pra encerrar, Tinga, voltante do Cruzeiro, alvo de manifestações racistas há pouco menos de um mês, na partida contra o Real Garcilaso, do Peru, pela Libertadores foi magistral:

“A gente fica muito chateado né. A gente tenta esquecer ali dentro, a gente tenta competir, mas a gente fica um bocado chateado de acontecer isso em pleno 2014. Acontecer uma coisa dessa, num país tão próximo da gente. Se pudesse não ganhar nada e ganhar esse título contra o preconceito, eu trocaria todos os meus títulos por uma igualdade em todos os lugares, todas as áreas e todas as classes”.

 

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