06/08/2015 às 12h56min - Atualizada em 06/08/2015 às 12h56min

Luan Cardoso

Um Cineasta talentoso, que nos concedeu a honra de uma entrevista extensa, e que será dividida em três partes. E hoje, lhes trago a primeira.

Thiago Santos

 Thiago Santos: Quem é o ser humano Luan Cardoso?

 Luan Cardoso: Boa pergunta (risos). Acho que sou um pouco da “deformidade”  que a minha escolha profissional me proporcionou – o que quero dizer com isso?: um baixista que toca muitos anos, tem seus dedos modificados, um pianista a mesma coisa, o mesmo chega até a ter dedos maiores com o passar do tempo! No caso eu me tornei alguém muito “pilhado”, muito animado, curioso, extremamente viciado e apaixonado pelo trabalho, pelo cinema e é claro deformado, pouco musculoso, meio torto pelo peso das câmeras, essas coisas.(Risos).

 

 Luan?

 A mesma coisa. Sou a mesma pessoa no trabalho e na vida... na verdade acho que são coisas que não se desconectam, no meu caso. O que é bom e ruim. (Risos.)

 

 Houve algum filme em especial que de forma natural ao ser assistido proporcionou em você o desejo irresistível de se tornar um cineasta?

 Acho que todos os filmes que eu assisti na minha vida me tornaram a pessoa que eu sou, que ama, que pulsa cinema, agora, o filme que me fez ficar doido de vontade de fazer cinema foi o “Laranja Mecânica” do Stanley Kubrick, pois foi o filme que me mostrou genuinamente o poder do cinema como ferramenta de comunicação, onde cada take diz muito, onde todo detalhe ali posto ajuda a contar uma história, onde o diretor é uma figura que realmente está por traz de tal realização, enfim, foi um filme que me fez descobrir o cinema de um modo diferente do que eu achava ser até então. Foi quase como observar e saber o que existe do lado negro da lua. (Risos.)

 

 Ao ser tomada a decisão de que seria você um idealizador e por último realizador de um filme por exemplo. Naquele momento sua alma foi tomada de quais sensações?

 Não sei... Acho que em momento nenhum foi algo muito planejado, peguei pra fazer umas coisinhas e fui indo, fui tomando gosto, fui sendo estimulado por amigos e ai quando pensei já estava com isso como meta pra mim. Acho que esse tipo de coisa parece que escolhe você, pois em momento nenhum eu me senti no controle, sabe? Eu queria era ser escritor, estava fazendo livro, escrevendo muitas coisas e do nada as coisas passaram a serem escritas para as telinhas. Aos poucos fui aposentando a idéia de fazer literatura, para fazer cinema.

 

 Qual a filosofia em proposta por parte do cineasta Luan Cardoso no todo de uma produção?

 Acho que cineasta é uma palavra muito forte (Risos). Não estou com essa moral toda. (Risos), agora, meio que respondendo a sua pergunta, eu não sei se tenho uma filosofia ou um modo de fazer as coisas que é diferente, sabe? Eu nunca fui estudar cinema. Quando comecei, fui fazendo muito na intuição, do modo como achava certo fazer aquilo,me baseando no que eu vi antes nos filmes e etc. Quando eu fui fazer alguns cursos anos depois, descobri que o pessoal fazia de um modo muito mais organizado e diferente, coisa que eu não fazia. Foi então quando eu pensei que eu não fazia cinema de verdade, pois tudo aquilo organizado e bonitinho que eles faziam e que ajudava a produção, eu fazia trocado, com um modo de iluminar diferente, com um modo de operar a câmera diferente, sem decupar direito e etc. Não sei se isso é uma coisa nova ou revolucionária, mas é assim que eu gosto de trabalhar. Ecomo funciona com meus colaboradores e meus atores, que no final das contas aprenderam a fazer cinema que nem eu, então pra mim tá bom. (risos)

 

 E o quanto lhe é prazeroso nos momentos de uma produção, filmagem e pós-produção?

 Me é prazeroso o processo todo, sabe? Acho que o fazer com as  próprias mãos me deixa muito feliz, também me sinto muito realizado de conseguir botar a coisa pra funcionar e no fim ver tudo pronto. Como disse anteriormente, não fazemos do modo comum ou do modo convencional, dentro de padrões de produção estabelecidos, e nossas obras nem são tão boas quanto as deles também. Nossos materiais são grosseiros, com pouco refino mesmo, pouca atenção a coisas que são ditas como importantes e nem nós mesmos achamos nossos curtas coisas excepcionais. Um amigo meu, que esse sim é talentoso e artista, que é o Manu Maltez, me disse uma vez que o processo é bem mais interessante pra ele do que o resultado em si. Não que ele não seja importante, é ótimo terminar as coisas, mas o processo é o melhor. É muito bom se sujar de cimento, sabe? (Risos).

 

 Suas obras carregam em si quais valores?

 Acho que não tenho bagagem pra dizer o que minhas obras significam e etc, mas gosto de pensar que um dia elas falarão de pessoas que de alguma forma são como a maioria de nós, pessoas engraçadas, obcecadas por suas manias, um tanto quanto desnorteadas, que não entendem bem o seu espaço aqui na terra e muito menos entendem o que podem fazer e o quanto conseguem fazer do que pensam ser bom pra elas mesmas. Tudo isso falado como um Brasileiro pode pensar, como pode sentir. Acho que meu grande desejo é fazer filmes que falem com as pessoas daqui, que consigam dialogar com quem mora nessa terra e quer ver pessoas falando coisas que elas pensam também.

 

 Nos fale dos seus projetos atuais e futuros!

 Ahh, tem muita coisa no caminho ai, felizmente. Tá rolando o projeto do meu primeiro longa, o “Feito Lesma no Sal” que eu quero conseguir a grana pra rodar no ano que vem com o Leonardo Medeiros no elenco, que tem sido, aliás, um bom parceiro e com quem estou planejando umas coisas que ele vai meio que dirigir junto comigo, outras que só queremos produzir e etc. Outro grande parceiro meu que é o Lucca Bertollini está escrevendo várias coisas que estamos na instiga de fazer. Acho que temos no mínimo projetos até o fim da década. (Risos) Mas o que posso dizer é que tem coisa pra caramba vindo por ai, na música, no documentário experimental, no político, no ficcional...

 

 Para finalizar, se importa em expressar palavras que se tornem sinônimo de inspiração para o amigo leitor que também deseja viver em prol da arte? E também uma frase que seja capaz de descrever o que você sente por fazer algo que muito ama?

 Cara... acho que se você já sabe o que quer fazer, comece a fazer, e faça muito! Só assim você vai conseguir medir o tamanho da sua vontade e saber se tem combustível o bastante para continuar ou se vai ter de abastecer. Pra mim o melhor modo de abastecer é procurar coisas novas, ver filmes, ler bastante, investigar e pesquisar coisas diferentes, e principalmente, se jogar em todas as oportunidades que surgirem. SE JOGAR MESMO! Não se faz nada em casa, se faz na rua, com a câmera na mão e filmando sua prima cantando, correndo ou mesmo se assustando com uma brincadeira sua. Nada é melhor do que gravar coisas que aparentemente são inúteis. Essas são as melhores. Acredite em mim. (Risos.) Espero que vocês as façam!

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